Circulava em Brasília à época da primeira denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) a anedota de que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), responsável por conduzir o processo de investigação no parlamento, dizia a Temer: “Não se preocupe, presidente, não farei nada que o senhor não faria”.
A história é falsa, evidentemente, mas denota a situação delicada que Rodrigo Maia enfrentava: ter de conduzir a votação contra Temer, de quem é aliado, sem parecer que estava atuando em interesse próprio – uma vez que, caso o presidente fosse de fato afastado do Palácio do Planalto, o deputado do DEM assumiria o posto, ainda que provisoriamente.
Maia tampouco podia passar a imagem de que o Legislativo estaria à mercê do Executivo, especialmente em relação a um governo com índices ínfimos de aprovação popular e que não tentou nem sequer esconder que estava disposto a usar todo tipo de artifício para livrar o presidente da investigação.
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Elogios de governistas a opositores
A tarefa era difícil. Mas, ao que parece, Rodrigo Maia saiu-se bem.
“O presidente da Câmara conduziu todo o processo de forma isenta e equilibrada”, avalia o deputado federal paranaense Luiz Carlos Hauly, do PSDB, que votou pelo arquivamento das duas denúncias contra Temer.
A oposição também tem elogiado a postura de Maia na presidência da Câmara. “A tarefa de conduzir os trabalhos da Casa não é fácil, pois há muitas maneiras de se obstruir as votações, fazendo com que se perca muito tempo de trabalho”, analisa a deputada Leandre, do PV do Paraná, que votou duas vezes pelo prosseguimento das denúncias contra Temer.
Quem é e o que quer Rodrigo Maia: a Presidência em 2018?
Rodrigo Maia ingressou na política como herdeiro político de seu pai, César Maia, que foi prefeito do Rio de Janeiro por três mandatos e hoje é vereador na capital fluminense.
Aos 28 anos, em 1998, elegeu-se pela primeira vez como deputado federal. Desde então foi se reelegendo e hoje está em seu quinto mandato na Câmara dos Deputados.
Fez apenas uma tentativa para cargo do Executivo: em 2012, disputou a eleição para prefeito do Rio e ficou em terceiro lugar, com apenas 3% dos votos válidos, em uma disputa polarizada entre Marcelo Freixo (PSol) e Eduardo Paes (PMDB), que se reelegeu.
Mesmo sem bagagem em eleições majoritárias, Maia tem sido apontado como potencial candidato ao governo do estado do Rio – alguns falam até em uma possível candidatura à Presidência da República.
O próprio Maia vem defendendo que o Democratas, seu partido, tenha uma candidatura própria para presidente. Após compor a chapa presidencial com o PSDB em cinco eleições seguidas desde 1994, o DEM foi preterido em 2014, quando os tucanos decidiram apresentar uma chapa “puro-sangue”.
Desde então, o partido tem fortalecido a ideia de uma candidatura própria. O nome mais citado na legenda é do senador goiano Ronaldo Caiado, mas Maia é visto como uma opção mais arejada. Oficialmente, o presidente da Câmara repete sempre que, em 2018, será mais uma vez candidato a deputado federal – e já até se apresentou como pré-candidato à reeleição como presidente da Casa.
O foco agora: o Rio de Janeiro
Na dúvida sobre o futuro, Maia tem pautado sua atuação em questões ligadas ao Rio de Janeiro, seu estado. Na pauta da Câmara, vem priorizando discussões sobre mudanças no setor de petróleo, como o fim do regime de partilha no pré-sal e a possibilidade de a Petrobras vender parte de seus direitos de exploração na Bacia de Santos, para se capitalizar. O objetivo do deputado é tentar recuperar investimentos do setor petrolífero no Rio, que foram reduzidos com a crise na estatal.
Nos dias em que assumiu a presidência da República interinamente, durante viagens do presidente Temer, Maia esteve bastante tempo em seu território eleitoral: inaugurou obras do Programa Minha Casa Minha Vida e, em seu último dia com a caneta presidencial, assinou, com lágrimas nos olhos, o acordo de ajuda financeira federal para a recuperação fiscal do estado.
Mudança de tom: rebeldia contra o Planalto
Independentemente do caminho eleitoral que seguirá, as eleições de 2018 já pautam a agenda de hoje. Maia conseguiu passar as denúncias contra Temer de forma vista como leal. Mas, desde então, vem adotando um tom mais crítico em relação ao governo federal.
Disse que a bancada governista errou quando preferiu enviar a “tropa de choque” para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que discutia o relatório sobre a denúncia contra Temer, esvaziando o quórum do plenário que debatia medidas provisórias de interesse do próprio governo. Após o episódio, Maia disse que não iria mais apreciar medidas provisórias (MPs) enviadas pelo Planalto enquanto o trâmite delas não for rediscutido pelo Congresso.
O tema das MPs é, aliás, um ponto de crítica entre os deputados. “O presidente tem conduzido bem os trabalhos da Casa, mas deveria ser mais firme na questão das medidas provisórias – que, de certa forma, são uma afronta ao Poder Legislativo”, diz o deputado paranaense Aliel Machado, da Rede. Para Machado, a utilização exagerada das MPs descaracteriza o trabalho do Congresso Nacional.
Outros temas prioritários
O deputado paraense Arnaldo Jordy, líder do PPS na Câmara, diz haver a necessidade de fazer “pequenos reparos” na condução da Câmara, priorizando alguns temas sobre os quais já há certo consenso na Casa, tais como o fim do foro privilegiado, a regulamentação dos “supersalários” que extrapolam o teto constitucional e, principalmente, a reforma tributária, considerada central pelos parlamentares.
O deputado Luiz Carlos Hauly concorda que a reforma tributária é a agenda principal do momento e que pode ser discutida na Câmara ainda esta ano. “Conversei com o presidente Rodrigo e ele me disse para alinharmos a proposta da reforma tributária que ele irá colocar na pauta”, conta Hauly.
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