Quando Dilma Rousseff (PT) subiu a rampa do Palácio do Planalto pela primeira vez, em 2010, e recebeu de Lula a faixa presidencial, o que todos diziam é que seu padrinho político praticamente continuava presidente. Só não precisava estar em Brasília sempre, se submeter às burocracias e exigências típicas do cargo e nem se chatear com outras tantas demandas exigidas de um chefe de Estado. E, de fato, Lula estava sempre lá, mas agindo nos bastidores.
Se era assim com Dilma, já existe quem se pergunte: e como será se Fernando Haddad (PT) vencer? Lula conversava com a ex-presidente por telefone todos os dias. Quando em Brasília, estava com ela, aliados e demais interessados no assunto do momento no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República.
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Houve poucas vezes em que Dilma se rebelou contra o padrinho. Não topou, por exemplo, colocar o atual presidenciável do MDB, Henrique Meirelles – “queridinho” de Lula –, no comando da economia. A principal revolta, e talvez mais custosa ao PT, foi não ceder a candidatura para Lula disputar a eleição de 2014, tendo batido pé para também ter direito à reeleição, contrariando o líder petista. Se Lula tivesse concorrido e vencido a última eleição, a história para o PT poderia ser um pouco diferente.
O peso que Lula ainda tem para o PT
Esses últimos meses na campanha do PT reforçaram o peso de Lula e a ascendência que ainda tem sob o partido. Os marqueteiros usaram, e vão continuar usando, a imagem do ex-presidente até o limite para tentar eleger Fernando Haddad. Mais do que isso, o PT e seus aliados vivem ao mesmo tempo uma dependência e uma submissão em relação ao líder petista maior.
É de se imaginar o que acontecerá se Haddad e Manuela D´Ávila (PCdoB) forem eleitos. Imaginem como será a montagem dos ministérios? Quem vai presidir a Petrobras? O corpo diplomático será escolhido como? Difícil que qualquer uma dessas e de outras definições importantes não passem pela cela especial da Polícia Federal, em Curitiba. Lula vai continuar mandando e desmandando.
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Não à toa, o ex-ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República e de relação umbilical com o ex-presidente, disse que, se Haddad ganhar, quem vai governar é Lula. "Ele vai sair direto da Polícia Federal para o Palácio do Planalto", afirmou Carvalho à Gazeta do Povo há algumas semanas.
Curitiba nova sede do governo?
Como Lula não sairá assim tão cedo da Polícia Federal, a julgar pelo tamanho da condenação que levou (12 meses e um ano de prisão) – e ainda tem mais julgamento pela frente, resta o Palácio do Planalto ir até Lula. Mais fácil transferir a sede do governo federal para Curitiba.
Galhofa à parte, fato é que as viagens a Curitiba, se Haddad virar presidente, vão se intensificar. Só que Lula não vai despachar somente com ele, mas também com integrantes de seu governo. Se Haddad vier a ser eleito, é de se imaginar que cargo Gleisi Hoffmann, atual presidente do PT e de uma fidelidade inigualável a Lula, assumirá.
Por que Haddad vai ceder a Lula?
Fernando Haddad é, como Dilma, uma criação de Lula. Tornou-se prefeito de São Paulo pelas mãos do ex-presidente que, no embalo do escândalo do mensalão, precisava de novas lideranças para o partido. Lula enfrentou resistências internas ao pupilo, mas o elegeu em 2012. Porém, não conseguiu reconduzí-lo em 2016 e o viu ser derrotado para o novato João Doria (PSDB) no primeiro turno.
Depois disso, Haddad retomou a vida acadêmica e muito pouco se preocupou com o próprio partido. Até ser mais uma vez procurado por Lula. Sempre ele. A cabeça, o cérebro, os braços do PT. É quem manda e era quem executava.
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Haddad, então, começou a viajar o país em carreata com Lula até o ex-presidente ser preso e, então, virou uma das alternativas para liderar a chapa petista à Presidência. Sabe que nunca foi a opção predileta do ex-presidente. Lula preferia Jaques Wagner, considerado, assim como o líder petista, um político experiente, robusto, nato e eloquente. Porém, para alguns, um pouco menos preparado.
Ciente de que Wagner preferia manter a opção mais segura e garantir para si o foro privilegiado, lançando-se ao Senado pelo estado da Bahia, Haddad entrou numa batalha para ampliar seu contato pessoal com o ex-presidente, sem precisar ser intermediado por Gleisi Hoffmann ou pelos advogados de Lula.
Assim, renovou sua carteirinha da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), passou a defender o padrinho político, assumiu a coordenação do plano de governo e driblou intermediários. Ao mesmo tempo que mantinha esse contato, se aproximava da vida partidária, militante, diária do PT.
É considerado no partido mais um intelectual que um político. De conversa educada, polida, muitas vezes com palavras robustas e rebuscadas. Poucas vezes levanta a voz e entra em embates, especialmente com algum dirigente partidário – apesar de ter encarado Gleisi Hoffmann.
Nesse contexto, se Dilma foi lançada ao poder pelas mãos de Lula, os petistas não esperam nada menos de Haddad. E lá se vão muitas milhas aéreas e visitas à PF.
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