Ex-presidente Lula está preso na Polícia Federal, em Curitiba, e o maior receio é de que ele possa influenciar um eventual governo Fernando Haddad.| Foto: Jonathan Campos /Gazeta do Povo

Quando Dilma Rousseff (PT) subiu a rampa do Palácio do Planalto pela primeira vez, em 2010, e recebeu de Lula a faixa presidencial, o que todos diziam é que seu padrinho político praticamente continuava presidente. Só não precisava estar em Brasília sempre, se submeter às burocracias e exigências típicas do cargo e nem se chatear com outras tantas demandas exigidas de um chefe de Estado. E, de fato, Lula estava sempre lá, mas agindo nos bastidores.

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Se era assim com Dilma, já existe quem se pergunte: e como será se Fernando Haddad (PT) vencer? Lula conversava com a ex-presidente por telefone todos os dias. Quando em Brasília, estava com ela, aliados e demais interessados no assunto do momento no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República.

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Houve poucas vezes em que Dilma se rebelou contra o padrinho. Não topou, por exemplo, colocar o atual presidenciável do MDB, Henrique Meirelles – “queridinho” de Lula –, no comando da economia. A principal revolta, e talvez mais custosa ao PT, foi não ceder a candidatura para Lula disputar a eleição de 2014, tendo batido pé para também ter direito à reeleição, contrariando o líder petista. Se Lula tivesse concorrido e vencido a última eleição, a história para o PT poderia ser um pouco diferente. 

O peso que Lula ainda tem para o PT

Esses últimos meses na campanha do PT reforçaram o peso de Lula e a ascendência que ainda tem sob o partido. Os marqueteiros usaram, e vão continuar usando, a imagem do ex-presidente até o limite para tentar eleger Fernando Haddad. Mais do que isso, o PT e seus aliados vivem ao mesmo tempo uma dependência e uma submissão em relação ao líder petista maior. 

É de se imaginar o que acontecerá se Haddad e Manuela D´Ávila (PCdoB) forem eleitos. Imaginem como será a montagem dos ministérios? Quem vai presidir a Petrobras? O corpo diplomático será escolhido como? Difícil que qualquer uma dessas e de outras definições importantes não passem pela cela especial da Polícia Federal, em Curitiba. Lula vai continuar mandando e desmandando. 

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Não à toa, o ex-ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República e de relação umbilical com o ex-presidente, disse que, se Haddad ganhar, quem vai governar é Lula. "Ele vai sair direto da Polícia Federal para o Palácio do Planalto", afirmou Carvalho à Gazeta do Povo há algumas semanas. 

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Curitiba nova sede do governo?

Como Lula não sairá assim tão cedo da Polícia Federal, a julgar pelo tamanho da condenação que levou (12 meses e um ano de prisão) – e ainda tem mais julgamento pela frente, resta o Palácio do Planalto ir até Lula. Mais fácil transferir a sede do governo federal para Curitiba. 

Galhofa à parte, fato é que as viagens a Curitiba, se Haddad virar presidente, vão se intensificar. Só que Lula não vai despachar somente com ele, mas também com integrantes de seu governo. Se Haddad vier a ser eleito, é de se imaginar que cargo Gleisi Hoffmann, atual presidente do PT e de uma fidelidade inigualável a Lula, assumirá.

Por que Haddad vai ceder a Lula? 

Fernando Haddad é, como Dilma, uma criação de Lula. Tornou-se prefeito de São Paulo pelas mãos do ex-presidente que, no embalo do escândalo do mensalão, precisava de novas lideranças para o partido. Lula enfrentou resistências internas ao pupilo, mas o elegeu em 2012. Porém, não conseguiu reconduzí-lo em 2016 e o viu ser derrotado para o novato João Doria (PSDB) no primeiro turno. 

Depois disso, Haddad retomou a vida acadêmica e muito pouco se preocupou com o próprio partido. Até ser mais uma vez procurado por Lula. Sempre ele. A cabeça, o cérebro, os braços do PT. É quem manda e era quem executava.

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Haddad, então, começou a viajar o país em carreata com Lula até o ex-presidente ser preso e, então, virou uma das alternativas para liderar a chapa petista à Presidência. Sabe que nunca foi a opção predileta do ex-presidente. Lula preferia Jaques Wagner, considerado, assim como o líder petista, um político experiente, robusto, nato e eloquente. Porém, para alguns, um pouco menos preparado.

Ciente de que Wagner preferia manter a opção mais segura e garantir para si o foro privilegiado, lançando-se ao Senado pelo estado da Bahia, Haddad entrou numa batalha para ampliar seu contato pessoal com o ex-presidente, sem precisar ser intermediado por Gleisi Hoffmann ou pelos advogados de Lula. 

Assim, renovou sua carteirinha da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), passou a defender o padrinho político, assumiu a coordenação do plano de governo e driblou intermediários. Ao mesmo tempo que mantinha esse contato, se aproximava da vida partidária, militante, diária do PT. 

É considerado no partido mais um intelectual que um político. De conversa educada, polida, muitas vezes com palavras robustas e rebuscadas. Poucas vezes levanta a voz e entra em embates, especialmente com algum dirigente partidário – apesar de ter encarado Gleisi Hoffmann. 

Nesse contexto, se Dilma foi lançada ao poder pelas mãos de Lula, os petistas não esperam nada menos de Haddad. E lá se vão muitas milhas aéreas e visitas à PF.

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