O senador petista Humberto Costa foi recebido aos gritos de “golpista” por militantes do próprio partido, na noite desta quinta-feira (2), na pré-convenção do PT que manteve a candidatura da vereadora Marília Arraes ao governo de Pernambuco. Em clima bastante acirrado, a grande maioria dos 251 delegados presentes ao encontro decidiu manter Marília candidata, contrariando orientação da Executiva Nacional do PT.
“Finalmente, depois de três adiamentos, tivemos a oportunidade de mostrar o que efetivamente a base do partido quer. Uma candidatura própria com condições políticas de fazer a defesa do ex-presidente Lula”, declarou Marília. Não houve contagem dos votos. O resultado foi decretado após os delegados favoráveis à candidatura levantarem os crachás. A assessoria de imprensa de Marília Arraes informou que ela obteve 230 votos favoráveis, 20 contrários e uma abstenção.
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O presidente do PT de Pernambuco, Bruno Ribeiro, comunicou que não houve contagem. “Mas, pelo contraste, ficou claro que ela tinha ampla maioria.”
Na quarta-feira (1), a Executiva Nacional do partido havia decidido retirar o nome da vereadora da disputa para apoiar a reeleição do governador de Pernambuco, Paulo Câmara, em nome de um acordo nacional com o PSB. A estratégia nacional de sacrificar candidaturas estaduais tem como objetivo isolar politicamente o candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes.
Em 2014, Paulo Câmara apoiou, no segundo turno, o senador Aécio Neves (PSDB) para a Presidência da República e também se posicionou de maneira favorável ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
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Após a vitória de Marília, Humberto Costa declarou que esperava o resultado, no entanto, acha difícil reverter a decisão da Executiva Nacional. “Vocês acreditam que exista alguma coisa aprovada no PT que não tenha o apoio e o conhecimento de Lula?”, retrucou o senador.
Nesta sexta (3), o Diretório Nacional do PT vai apreciar o recurso impetrado contra a decisão da Executiva. A expectativa é de que a resolução do comando da sigla, costurada pelo ex-presidente Lula, seja mantida. Marília disse acreditar que a decisão desta quinta-feira vai influenciar a mudança de posição do PT. “Sem dúvida, o resultado vai influenciar a opinião dos dirigentes. Vamos acompanhar amanhã para ver o que vai ser decidido”, ressaltou.
Na aliança com o PSB, Humberto Costa (PT) vai ocupar uma das vagas ao Senado na chapa pessebista. A outra é do deputado federal Jarbas Vasconcelos (MDB), crítico ferrenho do PT e do ex-presidente Lula.
Sob protestos, Gleisi defende acordo do PT com PSB
Sob protestos de militantes pernambucanos, a senadora Gleisi Hoffmann (PT) defendeu nesta quinta a estratégia do partido de desistir da candidatura de Marília Arraes para viabilizar o acordo com o PSB nas eleições 2018. A legenda ficará neutra no pleito nacional em troca de apoio do PT em estados-chave como Pernambuco.
“É claro que é ruim para a gente, do ponto de vista regional e de Pernambuco, abrir mão de uma candidatura como de Marília (Arraes), mas temos um projeto nacional e, desde o início, os companheiros de Pernambuco sabiam dessa nossa movimentação e conversação. Em nenhum momento fizemos qualquer movimentação que não fosse clara e aberta”, declarou em Curitiba, onde esteve com o ex-presidente Lula na carceragem da Polícia Federal.
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Enquanto falava com a imprensa, integrantes de movimentos sociais e do PT pernambucano protestavam com faixas e cartazes e gritando “não tem plano B, em Pernambuco é Marília do PT”. Gleisi afirmou que iria conversar com os manifestantes para explicar a estratégia petista. “Não vamos resgatar uma agenda de desenvolvimento inclusivo, e nosso foco é esse, melhorar as condições do Brasil, se não tivermos uma frente assim, sozinhos não vamos fazer”, disse.
Izaquiel de Souza, integrante do MST de Pernambuco, era um dos que protestava contra a fala de Gleisi. Ele carregava um cartaz com os dizeres: “Não apoiamos golpistas. A militância é Marília Arraes (PT)”. “Queremos um projeto de candidatura nova, do PT, que apoia a reforma agrária. Apoiamos ela (Marília) para o que der e vier. Queremos a manutenção da candidatura dela e faremos o possível para isso”, declarou o militante à reportagem.
Com neutralidade, PSB se divide em palanques com Ciro Gomes, Alckmin e PT
Caso leve adiante a decisão de romper os acordos regionais com o PSB, o PDT poderá comprometer palanques com a sigla em nove estados. O gesto é uma resposta ao acordo entre PSB e PT pela neutralidade dos pessebistas. Ciro Gomes foi o principal prejudicado pela costura e chamou a manobra de golpista.
Um mapa de tendências de apoio feito pelos pessebistas coloca Ciro na dianteira das alianças. O ex-governador do Ceará, hoje, recebe apoio da legenda em quatro estados em que o PSB tem candidatura própria (Espírito Santo, Distrito Federal e Sergipe) e em outros seis em que participam de uma mesma coligação.
Na sequência, Alckmin divide palanque com o PSB em oito estados e o PT, em sete. Alvaro Dias (Podemos) está na mesma coligação que os pessebistas no Paraná pela reeleição da governadora Cida Borghetti (PP). Em São Paulo, o PDT declarou apoio há uma semana ao PSB do governador Márcio França, que apoiará Geraldo Alckmin (PSDB). França também está coligado com o Podemos de Dias.
Presidente do diretório paulista do PSB, o prefeito de Campinas, Jonas Donizette, vê a neutralidade como caminho natural da sigla. Segundo ele, as demandas de cada estado eram inconciliáveis. “Bom seria ter um candidato próprio, mas imaginava que isso fosse acontecer. A morte do Eduardo Campos deixou um vazio”, afirma.
O PSB São Paulo sempre defendeu a neutralidade na disputa nacional argumentando a situação delicada de França no estado. Vice de Alckmin, o governador diz que defendeu o apoio ao tucano “desde o começo”. “Mas se houver consenso , para que não cause problemas em outros estados, compreenderei a neutralidade”, afirmou.
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