João Dionisio Amoêdo, de 55 anos, já disputou seis Ironman, provas de resistência que exigem fôlego para nadar, pedalar e correr quilômetros por horas a fio. Mais recentemente, o engenheiro civil e administrador de empresas que se tornou banqueiro - ele foi sócio do BBA - enfrentou outra saga quando decidiu criar um partido político no Brasil, o Novo. Outra maratona de Amoêdo poderá se confirmar nos próximos meses, caso ele seja confirmado como candidato do partido estreante à Presidência da República em 2018.
Pessoas que acompanham o processo interno afirmaram à reportagem que a tendência é que o fundador da legenda seja mesmo o indicado, acabando com especulações em torno de nomes que vão desde o do apresentador e empresário Luciano Huck ao do prefeito de São Paulo João Doria (PSDB).
No final de junho, Amoêdo renunciou à presidência do Novo. Pelas regras da sigla, candidatos não podem exercer funções partidárias na agremiação nos últimos 15 meses antes de uma eleição. “Hoje estou nessa posição para ter essa opção (de ser candidato), mas ainda não houve uma decisão sobre isso”, afirmou.
A principal atividade de Amoêdo hoje é viajar pelo País. Primeiro, apresentando as ideias do Novo. Em setembro, deu palestra em Salvador, na Bahia. Semana passada, em Ribeirão Preto. Em novembro, no dia 18, estará em São Paulo, no 3º Encontro Nacional do Novo, uma convenção que deve indicá-lo como escolhido do partido ao Planalto. Anúncios oficiais, no entanto, só ocorrerão no ano que vem, em razão da lei eleitoral, que proíbe campanhas antecipadas.
“As conversas que temos no diretório é que, na nossa opinião, ele seria o melhor candidato para o partido. Ele tem interesse, então eu diria que a conspiração é favorável”, afirmou o engenheiro Ricardo Taboaço, amigo de Amoêdo há 30 anos e também integrante do Novo - é vice-presidente do Diretório Nacional.
Formado em engenharia civil pela UFRJ e em Administração de Empresas pela PUC-RJ, Amoêdo foi estagiário do Citibank e cresceu profissionalmente na Fináustria, a financeira do BBA, do qual chegou a ser sócio. Foi também conselheiro e vice-presidente do Unibanco. Hoje é sócio da Casa das Garças, um centro de estudos de tendência liberal no Rio de Janeiro.
Amoêdo pode ser considerado um tipo raro na eventual disputa ao Planalto. De fato, vem de fora do mundo político - como a maioria dos hoje quase 15 mil filiados ao partido. Os apoiadores da sigla são, sobretudo, profissionais liberais de diversas áreas. Porém, a legenda ganhou fama de ser considerada a mais alinhada ao mercado financeiro.
O ex-banqueiro possui relação próxima com economistas que ocuparam postos de comando no alto escalão das gestões de Fernando Henrique Cardoso, como os ex-presidentes do Banco Central Armínio Fraga e Gustavo Franco - este comanda a Fundação Novo, dá palestras em nome do partido e deve ser o formulador das propostas econômicas da legenda. Para ingressar no Novo, Gustavo Franco se desfiliou recentemente do PSDB.
“O Amoêdo tem uma visão clara e liberal quanto ao papel do Estado no Brasil”, disse à reportagem o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, que convive com o fundador do Novo há pelo menos dez anos e mantém com ele conversas sobre o partido sem, contudo, ser filiado.
Em sua página no Facebook, Amoêdo defende a desburocratização e valores como liberdades individuais e empreendedorismo. Faz também a defesa do Bolsa Família, desde que o principal programa de assistência social do governo Luiz Inácio Lula da Silva tenha uma “porta de saída”.
‘Gestor’
Amoêdo e o Novo, em linhas gerais, advogam para que o Estado brasileiro seja reduzido ao mínimo e concentre seus investimentos na educação básica, saúde e segurança pública. “O Estado não deveria ser gestor de empresas e o Novo defende a desestatização de todas as empresas. A gestão privada é mais eficiente”, afirmou o ex-presidente da legenda.
Amigos próximos definem Amoêdo como “pragmático”. Ele também é frequentemente apontado como um bom “gestor”, palavra na moda no mundo político. “João tem experiência em gestão, não é aquele cara do mercado que só sabe fazer operação financeira”, disse Taboaço.
Criar um partido foi uma tarefa árdua. Da coleta de assinaturas com ajuda da mulher Rosa Helena e das três filhas à peregrinação em Brasília, até que o TSE concedesse, em fevereiro de 2015, o registro, foram cerca de quatro anos.
Durante todo esse processo, dizia estar mais cansado do que na época em que trabalhava por horas tomando decisões importantes no banco. A fundação da sigla é de 2011, embora as primeiras conversas sobre sua criação tenham sido realizadas em 2008.
“Tínhamos lá atrás a visão de que havia alguma coisa errada nesse modelo”, disse Amoêdo à reportagem ao relembrar os primeiro passos do Novo, nome sugerido por uma de suas filhas, Mariana, a mais nova, em um jantar em família.
“Ele sempre foi muito aberto conosco, desde o começo do Novo. Vimos a empolgação dele, agora está todo mundo envolvido”, afirmou a engenheira ambiental Ana Luiza, outra filha do ex-banqueiro.
Para 2018, a meta do Novo é ambiciosa: eleger o maior número possível de parlamentares. “Não queremos puxadores de votos, queremos puxadores de ideias”, disse Amoêdo, que sonha ver seu partido com até 30 deputados no Congresso Nacional.
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