| Foto: Hugo Harada/ Arquivo Gazeta do Povo

O economista Paulo Guedes, que foi anunciado pelo presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) como seu ministro da Fazenda, caso vença as eleições 2018, propôs a criação de um tributo semelhante à extinta CPMF, caso o capitão da reserva assuma o Planalto. O novo imposto sobre movimentações financeiras se chamaria Contribuição Previdenciária (CP) e seria destinado a capitalizar a Previdência Social.

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Guedes defendeu ainda uma alíquota única de Imposto de Renda de 20% para pessoas físicas e jurídicas. A taxa também incidiria sobre a distribuição de lucros e dividendos.

O anúncio de sua provável reforma tributária, que ainda prevê a eliminação da contribuição patronal para a Previdência, que incide sobre a folha de salário, foi feito em evento fechado e organizado pela GPS Investimentos, empresa de aconselhamento e gestão de fortunas familiares. Guedes afirmou que está sendo auxiliado pelo economista Marcos Cintra – foi ele que o convenceu, por exemplo, a criar um imposto nos moldes da CPMF.

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Bolsonaro e seus aliados apressaram-se em tentar explicar a proposta do guru econômico da campanha sobre a volta do imposto sobre movimentações financeiras, que se chamaria Contribuição Previdenciária (CP) e seria destinado a capitalizar a Previdência Social.

Nas redes sociais,o presidenciável escreveu que sua “equipe econômica trabalha para redução de carga tributária, desburocratização e desregulamentações. Chega de impostos é o nosso lema! Somos e faremos diferente. Esse é o Brasil que queremos!”

Na noite desta terça, o presidente da União Democrática Ruralista, Luiz Antonio Nabhan Garcia, empresário e principal conselheiro de Bolsonaro na área dos agronegócios, participou de um jantar em São Paulo com cerca de 100 empresários interessados em ouvir as ideias da campanha.

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No encontro, Nabhan apresentou os lemas da redução de impostos e desburocratização. “Deve haver algum desacerto, alguma desinformação, pois tivemos uma reunião com Guedes na tarde de ontem [segunda-feira, 17] e nada disso foi falado”, disse. 

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A reunião da cúpula da campanha, nos Jardins, bairro nobre de São Paulo, contou com a presença de Guedes e Nabhan;  o general da reserva Augusto Heleno; o senador Magno Malta (PR-ES); o fundador do PSL Luciano Bivar; Gustavo Bebianno, presidente do PSL, e Julian Lemos, vice; o ex-presidente do PSL Antonio de Rueda; os filhos de Bolsonaro, Eduardo e Flávio; o deputado federal Major Olímpio (PSL-SP); e o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS).

Talvez a ideia de Guedes seja recriar a CPMF para reduzir outros impostos, diz apoiador

“Posso dizer que Bolsonaro é um homem de palavra, conheço-o há quase 30 anos e todas as conversas que tive com ele foram no sentido de desburocratizar e reduzir impostos. Sou empresário, membro do agronegócio, e sabemos que a recuperação do país passa pela redução dessa carga tributária”, diz Nabhan.

O ruralista especula que talvez a ideia de Guedes seja recriar a CPMF para reduzir outros impostos, proposta à qual ele mesmo seria favorável. No entanto, ele diz ter tentado falar com o economista nesta quarta (19), após a divulgação da proposta, mas não teve retorno. 

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Em 2015, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) participou da organização de movimento “basta de tributos, não à CPMF” na Câmara dos Deputados. “Patrões e empregados não aguentam mais impostos, essa medida só vai gerar mais desemprego”, escreveu à época.

Luciano Bivar, fundador do PSL e aliado de Bolsonaro, diz entender que esse imposto pensado por Guedes seria formado, na verdade, pela compactação de diversos impostos distintos, o que geraria redução da carga tributária e desburocratização. Sendo assim, não haveria contradição entre Guedes e o presidenciável.

“Ele não está criando novo imposto. Ele está concentrando vários impostos em um único imposto com alíquota menor. O CPMF foi demonizado porque era mais um novo imposto. Você pega dez impostos, cada um valendo dois, então seriam 20%. Pega esses dez e transforma em um só, cobrando só 10%, você reduz 50%. A ideia é essa, não tenho a menor dúvida, coerente com a ideia de redução de impostos”, diz  Bivar.

“É uma ideia do grupo econômico, mas levada a Bolsonaro. Ele usa muito o bom senso, ouve os técnicos, mas a canetada final vem dele”, conclui.

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Aliado próximo diz que Bolsonaro terá palavra final

O coordenador da campanha de Jair Bolsonaro em São Paulo, deputado Major Olímpio, minimizou a proposta de Paulo Guedes de recriar a CPMF. “O presidente é quem sempre decidirá o que é mais oportuno. O papel dele [Guedes] é de indicar alternativas”, disse, afirmando ter sido surpreendido com a proposta de Guedes. “Eu sou contrário à reedição e o Bolsonaro já disse que também que é. Não teremos aumento de tributação”, afirmou. Olímpio disse que a proposta sugerida por Guedes ao mercado nunca foi mencionada dentro da campanha.

O deputado minimizou a divergência de opiniões entre o economista, que já foi anunciado como futuro ministro da Fazenda de Bolsonaro, e dirigentes da campanha, e negou que haja falta de sintonia entre o candidato e seu guru na área econômica. Para Olímpio, é natural que Guedes faça sugestões que depois possam ser descartadas. “A administração pública não é uma fórmula matemática.”

Em Bauru, no interior de São Paulo, o general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, disse que é contra uma eventual CPMF e que falar em criação de imposto é dar um tiro no pé, mas acrescentou que isso deve ser decidido entre o candidato e economista.

A volta da contribuição chegou a ser cogitada no final do governo da presidente cassada Dilma Rousseff (PT) como uma solução para cobrir o rombo no Orçamento, mas a proposta acabou sendo abandonada devido à falta de apoio no Congresso.