Como a garotada do mercado gosta de falar, tudo tem seu preço. E, pelo menos em teoria, os efeitos do julgamento do ex-presidente Lula estão “precificados”. Como a bolsa no Brasil vem batendo recordes seguidos e o câmbio está comportado, parece que o debate entre os três desembargadores da oitava turma do TRF-4 é troco de padaria.
Existe uma narrativa benigna sobre os efeitos do julgamento na economia: não importa o candidato que vencer em outubro, ele terá que se comprometer com uma agenda que combine estabilidade e algumas reformas básicas para a coisa continuar andando. Assim, não interessa muito o que acontece com Lula em Porto Alegre.
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Um exemplo dessa narrativa é a entrevista dada nesta terça-feira ao Valor pelo presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco. Para ele, vai vencer em outubro uma agenda de centro, mesmo que Lula e Bolsonaro continuem na corrida eleitoral. O preço de uma absolvição de Lula, portanto, é próximo de zero.
Uma segunda linha de raciocínio, ainda otimista, é a de que Lula deve mesmo ser condenado. Na pior das hipóteses, sairá de Porto Alegre avaliando suas chances jurídicas de concorrer em outubro – tendo de passar antes pelo vexame de novos depoimentos e até condenações nas tantas ações que correm contra ele. Será um candidato derrotável, com um teto de 40% nas urnas. Haveria um risco muito pequeno de ele se eleger com uma agenda heterodoxa – que no discurso inclui até a revisão de reformas já feitas e o negacionismo sobre o buraco na Previdência.
A tese alternativa é a de que o julgamento coincide com um momento de euforia global com o desempenho da economia. É como se todos estivessem bem demais para perder tempo com detalhes chatos como um julgamento de um político. A economia global está se acelerando, o Brasil saiu da recessão e é isso que está precificado hoje. Para os mais céticos, uma eleição caótica, com várias mudanças de rumo e incerteza nos meses que virão, terá um preço mais alto do que o refletido hoje por causa dessa soneca à sombra da calmaria internacional.
O resultado de Porto Alegre não será nem bom nem ruim para a economia. O que afeta a vida das pessoas são as expectativas geradas pelo resultado e as políticas que serão implementadas por um próximo governo. A absolvição de Lula talvez enfraqueça o discurso mais otimista, embora muita gente ainda acredite que Lula repetiria em 2019 o que fez em 2003. Sua condenação poderia fortalecer a tese da saída de centro.
Nesta quarta (24), vai ficar claro quem tem razão sobre instabilidade imediata que será provocada pelo julgamento. Mas só vamos descobrir com o tempo o custo real desse ciclo eleitoral maluco. O risco maior hoje é o ressurgimento do populismo econômico que nos colocou na pior crise da história. A ideia de desenvolvimento guiado por um governo “popular”, não importa de qual cor ideológica, costuma provocar mais pobreza do que riqueza. Esse é um preço que ninguém está prevendo ainda que será pago de novo pelo país.
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