O desempenho do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) nas pesquisas eleitorais para presidente da República tende a ser maior quando o levantamento é feito por meio de telefone do que por contato pessoal do entrevistador com o entrevistado. Isso pode indicar que Bolsonaro tem mais eleitores do que as pesquisas tradicionais vêm captando.
Seria um eleitorado envergonhado de admitir em público que pretende votar no deputado – que rotineiramente se envolve em polêmicas e é tachado de fascista, homofóbico, machista e autoritário. Fenômeno semelhante ocorreu durante a eleição presidencial norte-americana de 2016, que elegeu Donald Trump para a Casa Branca.
Os dez melhores desempenhos de Bolsonaro foram nas pesquisas telefônicas
As dez melhores pontuações de Bolsonaro em pesquisas realizadas desde 2017 (entre 24% e 27% das intenções de voto) apareceram quando o contato com os entrevistados foi feito por meio de chamada telefônica – incluindo os 25% que ele obteve num dos cenários do levantamento divulgado nesta terça-feira (5) pelo DataPoder360.
O balanço leva em conta todas as sondagens e todos cenários pesquisados para a sucessão presidencial divulgados pela Gazeta do Povo desde o ano passado, e inclui cinco institutos de pesquisa: Datafolha, Ibope, CNT/MDA, DataPoder360 e Paraná Pesquisas. Os levantamentos eleitorais feitos exclusivamente por telefone são todos do DataPoder360.
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Eleitor envergonhado tende a dizer o que é mais aceito socialmente na pesquisa cara a cara
“O mecanismo [que tende a revelar o eleitor ‘envergonhado’ nas pesquisas telefônicas] é o mesmo que faz as pessoas serem intolerantes no Facebook”, diz o cientista político Bruno Bolognesi, coordenador do Laboratório de Partidos Políticos e Sistemas Partidários (LAPeS) da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Segundo Bolognesi, nas redes sociais há uma tendência maior ao comportamento agressivo, por exemplo, porque não há contato pessoal direto – que funciona como um inibidor social.
Numa pesquisa eleitoral, algo semelhante pode ocorrer. Os levantamentos feitos por entrevista pessoal podem sofrer do chamado “viés do socialmente desejável”. Ou seja, a pessoa não responde aquilo que pensa, mas o que acha que é mais aceitável em público.
Isso tende a não acontecer com os levantamentos feitos na modalidade de telechamada gravada, pois o eleitor “conversa” com uma máquina que orienta o entrevistado a escolher opções digitando números no teclado do aparelho. “A vantagem da pesquisa por telefone é que ela constrange menos o respondente do que quando tem alguém a sua frente”, afirma Bolognesi.
No caso de Bolsonaro, o cientista político diz que é mais provável que as pesquisas telefônicas captem com precisão maior o eleitorado do deputado do que os levantamentos tradicionais, feitos cara a cara.
Diretor do Instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo não acredita que haja muita diferença nos resultados dos levantamentos tradicionais e por telefone. Hidalgo, que é favorável às pesquisas telefônicas, afirma que em geral as diferenças estão dentro da margem de erro das pesquisas.
Pesquisas por telefone estão no centro de uma polêmica: entenda o caso
As pesquisas eleitorais feitas por telefone (tanto aquelas em que há um entrevistador quanto as realizadas por uma máquina) estão no centro de uma polêmica entre os institutos de opinião e especialistas. Reportagem do jornal Valor Econômico da segunda-feira (4) relata que a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep) divulgou nota na semana passada em que questiona os levantamentos eleitorais telefônicos.
“Os levantamentos e coletas de opiniões realizadas por meio de ligações telefônicas para pesquisas eleitorais (...) não são recomendados para esse fim, pois nem sempre retratam com fidelidade a percepção real da maioria dos eleitores”, diz a nota, segundo o Valor. A íntegra do texto não está disponível no site da Abep.
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Dentre os argumentos contra as sondagens por telefone está a inevitável ordenação da apresentação dos candidatos – o que poderia influir no resultado (nas pesquisas presenciais, o entrevistado recebe um cartão circular em que nenhum nome está à frente dos demais).
A taxa de recusa ou de desistência dos entrevistados também tenderia a ser maior nos levantamentos telefônicos. Outro problema estaria na representatividade da amostra, que não contemplaria a parcela do eleitorado que não tem telefone.
Os defensores das pesquisas telefônicas apontam vantagens. Uma seria a possibilidade de medir a opinião de moradores de lugares cujo acesso costuma ser difícil para os pesquisadores (áreas perigosas de favelas, condomínios de luxo ou localidades mais distantes). Além disso, as sondagens por telefone são muito mais baratas do que as presenciais, que chegam a custar R$ 400 mil para quem a contrata.
Pesquisas por telefone são usadas amplamente fora do Brasil
O cientista político Bruno Bolognesi, que não tem vínculo com institutos de opinião, afirma que pesquisas por telefone são feitas desde a década de 1980 em diversos países do mundo – nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo.
Segundo ele, o problema de uma pesquisa não está na realização dela por telefone ou por entrevista pessoal. Mas pode eventualmente estar no controle da amostra populacional. Ou seja, se a amostra de entrevistados é estatisticamente representativa do eleitorado.
Para Murilo Hidalgo, a polêmica sobre as pesquisas por telefone tem como pano de fundo uma questão de mercado. Ele argumenta que, por serem muito mais baratas e tão eficientes como as sondagens tradicionais, os levantamentos por telefone vão derrubar o preço das pesquisas – o que não seria do interesse de alguns institutos.
Metodologia das pesquisas
Confira os dados das pesquisas que embasaram o levantamento da Gazeta do Povo sobre os dez melhores desempenhos de Jair Bolsonaro:
Bolsonaro com 27% das intenções de voto (num único cenário de uma única pesquisa)
Metodologia: pesquisa realizada pelo DataPoder360 entre 12 e 14 de agosto de 2017 com 2.088 entrevistados em 197 municípios de todo o país. Margem de erro: 3,0%.
Bolsonaro com 26% das intenções de voto (em dois cenários da mesma pesquisa)
Metodologia: pesquisa realizada pelo DataPoder360 em 17 setembro de 2017 com 2.280 entrevistados em 193 municípios de todo o país. Margem de erro: 2,8%.
Bolsonaro com 25% das intenções de voto (em cinco cenários de quatro pesquisas)
Metodologias das 4 pesquisas
- Pesquisa realizada pelo DataPoder360 entre 25 e 31 de maio de 2018 (divulgada no dia 5 de junho) com 10,5 mil entrevistados em 349 municípios de todo o país. Margem de erro: 1,8%. O registro da pesquisa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é BR-09186/2018.
- Pesquisa realizada pelo DataPoder360 de 16 a 18 novembro de 2017 com 2.171 entrevistados em 143 municípios de todo o país. Margem de erro: 2,9%.
- Pesquisa realizada pelo DataPoder360 de 26 a 29 de outubro de 2017 com 2.016 entrevistados em 112 municípios de todo o país. Margem de erro: 2,9%.
- Pesquisa realizada pelo DataPoder360 entre 12 e 14 de agosto de 2017 com 2.088 entrevistados em 197 municípios de todo o país. Margem de erro: 3,0%.
Bolsonaro com 24% das intenções de voto (em duas pesquisas)
Metodologias das duas pesquisas
- Pesquisa realizada pelo DataPoder360 de 26 a 29 de outubro de 2017 com 2.016 entrevistados em 112 municípios de todo o país. Margem de erro: 2,9%.
- Pesquisa realizada pelo DataPoder360 em 17 setembro de 2017 com 2.280 entrevistados em 193 municípios de todo o país. Margem de erro: 2,8%.
Observação: apenas as pesquisas de 2018 têm obrigação legal de serem registradas na Justiça Eleitoral.
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