O Brasil tem um político do estilo de Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos, e que poderia aproveitar o apoio de um grupo importante, os evangélicos, para alavancar sua candidatura à presidência. É essa a leitura do deputado federal e presidenciável Jair Bolsonaro (PSC-RJ) feita em uma longa reportagem do The Washington Post, publicada na terça-feira (28).
Na avaliação do jornal, os escândalos de corrupção que derrubaram vários políticos brasileiros impulsionaram alguns candidatos e acabaram fazendo com que os eleitores considerassem outros perfis que não estavam no páreo, como Bolsonaro. O trunfo do deputado é poder contar com o apoio dos evangélicos, um grupo que se tornou politicamente poderoso nos últimos anos.
O jornal compara a aceitação de Trump nesse mesmo grupo. Nos Estados Unidos, o republicano obteve quase 80% dos votos de brancos evangélicos. E o Post faz questão de lembrar que Trump era o candidato que havia sido casado por três vezes e que se gabava de ter relações sexuais com diversas mulheres casadas, além de assediar outras.
No quesito polêmica, a publicação lembra da declaração de Bolsonaro que afirmou preferir um filho morto do que um filho gay, suas costumeiras defesas do regime militar e da tortura, e do caso em que disse à colega deputada Maria do Rosário (PT-RS) que ela não “merecia” ser estuprada.
Bolsonaro concedeu entrevista ao Post. O jornal lembrou que ele, assim como Trump, é descrito como homofóbico, racista e sexista. “O povo americano não engoliu isso, e ele [Trump] foi eleito. No Brasil, algo parecido está acontecendo. Tenho sofrido essas acusações por mais tempo do que ele”, afirmou o presidenciável brasileiro.
Apesar de parecidos no quesito polêmica, a diferença entre Trump e Bolsonaro pode aparecer justamente por causa do perfil dos evangélicos brasileiros e norte-americanos. O sociólogo Paul Fresto, especialista em pentecostalismo na América Latina, afirmou ao Post que a influência evangélica no Brasil é indiscutivelmente mais poderosa do que nos Estados Unidos.
Isso porque os americanos até se reúnem em nível popular para questões conservadoras, como o aborto, mas fazem parte de um movimento fragmentado e sem lideranças. No Brasil o quadro é oposto: as grandes igrejas podem realmente se envolver politicamente e obter apoio para candidatos que levantem bandeiras que as interessem, independentemente do partido a que pertencem. “Em ambos os países, dizem os observadores, os pentecostais e outros evangélicos estão dispostos a votar em candidatos que acreditam que se concentrarão em suas prioridades”, analisa o Post.
Essas diferenças foram explicitadas quando o jornal americano entrevistou o pastor Silas Malafaia, um dos líderes da Assembleia de Deus. Para ele, os evangélicos brasileiros estão mais interessados nas propostas de Bolsonaro e João Doria, o prefeito tucano de São Paulo. Por outro lado, o pastor argumenta que esse mesmo público não se identifica tanto com Marina Silva, a presidenciável da Rede, que é evangélica. “Eles pensam que ela tem algo a esconder, então eles não confiam nela. Você não pode ser evangélico e separar isso da sua política”, afirmou Malafaia.
O jornal ainda apontou o peso da bancada BBB – boi, bala e bíblia – no Congresso: a união de parlamentares de vários partidos para defender questões ligadas à segurança, agronegócio e de costumes é algo comum no Brasil, mas que não se repete nos Estados Unidos. “Eles formaram seu próprio bloco de votação no Congresso, passando de uma minoria a um dos grupos políticos mais poderosos”, sinaliza o Post.
Com essa proeminência, é possível que o voto evangélico tenha mais peso ainda nas eleições de 2018 – ainda que, pondera o jornal, políticos evangélicos como Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados e responsável por conduzir o impeachment de Dilma Rousseff, esteja atualmente preso – condenado por corrupção.
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