A empolgação para lançar Michel Temer candidato à reeleição é tanta que virou um problema para o marqueteiro do presidente Elsinho Mouco. Em entrevista ao blog de Bernardo Mello Franco no jornal O Globo desta quarta-feira (21), o publicitário elogiou a intervenção federal na segurança do Rio e afirmou que a operação militar ajudará na candidatura de Temer. Horas depois da publicação, Mouco recuou e divulgou nota oficial para afirmar que tudo o que disse são opiniões pessoais e que nunca falou em nome do presidente.
Como marqueteiro, Mouco tentou minimizar a imagem ruim de seu cliente. Ao jornal, afirmou que a imagem do “vampirão da Tuiuti”, em referência à fantasia usada no desfile da escola de samba Paraíso do Tuiuti no carnaval do Rio, poderia se transformar em um atributo positivo, caso a intervenção tenha sucesso. “Vampirar pode passar a ser transformar, revolucionar...”, afirmou ao jornal.
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Ao se retratar, Mouco reduziu a empolgação. “Não é de hoje que digo a todos com quem converso que um dia eu ainda o veria (Temer) assumindo um papel maior do que seus adversários gostariam que tivesse (...). Agora, quando outras vozes repetem o mesmo, a minha opinião passa a ser apresentada como um plano de governo que simplesmente não existe. E não existe, insisto, não porque eu não quero que exista. Não existe porque o presidente não quer que exista”, escreveu.
Marqueteiro pessoal
O marqueteiro é figura conhecida em Brasília e trabalha para o PMDB há mais de uma década. Nos últimos tempos, e com a proximidade das eleições, ganhou mais espaço no Palácio do Planalto. Isso acontece ao mesmo tempo que a equipe de produção de conteúdo jornalístico da Presidência da República é reduzida, dando mais espaço à parte publicitária. Mouco assumiu o marketing do presidente em agosto de 2017, com o afastamento de Daniel Braga, responsável pela campanha digital vitoriosa de João Doria à prefeitura de São Paulo. Antes disso, prestava serviços a Temer e ao Planalto.
Cabe a Mouco a coordenação dos pronunciamentos de Temer, fotos oficiais e campanhas. Foi dele a idealização da primeira foto oficial como presidente da República de Temer, no começo do ano passado, que acabou naufragando. A foto, com um fundo azul e a bandeira do Brasil em destaque, parecia artificial e a internet não perdoou. Outra versão ainda chegou a ser produzida, mas foi arquivada. Somente em novembro Temer voltou a ser clicado, desta vez em um cenário real – a biblioteca, em pose mais natural e sem o abuso da ferramenta de edição de fotos que marcou a primeira tentativa de foto oficial.
Ele também esteve à frente da criação da logomarca do Brasil logo após Temer assumir o cargo. A escolha do logo, que destacava o círculo da bandeira brasileira, teria sido feita pelo filho de Temer de apenas sete anos, Michelzinho. Na ocasião, Mouco chegou a dizer que a criança olhou para a sugestão criada por sua equipe de marqueteiros e elogiou, o que trouxe a certeza do sucesso da nova marca.
As supostas declarações de Mouco a O Globo são arriscadas. Ainda é muito cedo para saber se a intervenção federal será exitosa e renderá ativos políticos, ou um fracasso. Ao citar a intervenção como uma chance de Temer se colocar no jogo eleitoral, o marqueteiro se arrisca.
Segundo o analista político André César, da Hold Assessoria Legislativa, Temer de fato retoma o protagonismo político com a medida e tenta se cacifar para disputar a reeleição em outubro, mas há riscos. “Ao decretar a intervenção, o presidente Temer fez aposta de alto risco. Caso a medida seja bem-sucedida, o equilíbrio político do país será alterado e o governo terá importantes dividendos. Um eventual fracasso, porém, sepulta de vez qualquer pretensão do Planalto e pode agravar ainda mais o já complicado estado da segurança pública no Rio de Janeiro – e no resto do país”, avalia o cientista político, em relatório.
Leia a nota de Elsinho Mouco
“A coluna do jornalista Bernardo Mello Franco de hoje, no O Globo, apresenta como sendo planos do governo aquilo que não passa de um conjunto desorganizado de opiniões que são minhas e só minhas. Por decisão livre do autor, onde poderia ter escrito apenas que Elsinho “acha” ou que Elsinho “gostaria”, preferiu escrever que “o Planalto quer” ou “na avaliação do Planalto”.
Direito dele fazer essa opção, obrigação minha distribuir essa nota para explicar o mal entendido. Nunca falei, não falo, nem tenho alçada para falar em nome do governo. E se falasse em nome do governo, não exporia as minhas ideias a respeito dos assuntos perguntados, mas as do presidente. Que neste caso são diametralmente opostas às minhas.
O presidente Michel Temer nunca me autorizou a fazer qualquer movimento de natureza eleitoral. Mais do que isso, para minha frustração, já me proibiu de tocar nesse assunto com ele. Todos que me conhecem, no entanto, sabem que, mesmo nos momentos mais difíceis, sempre achei que o presidente entraria para a história do Brasil como um presidente reformador, transformador, alguém que é capaz de enfrentar os problemas reais do Brasil com coragem.
Não é de hoje que digo a todos com quem converso que um dia eu ainda o veria assumindo um papel maior do que seus adversários gostariam que tivesse. A diferença é que antes eu dizia isso sozinho e ninguém transcreveria minha opinião numa coluna de jornal porque parecia fantasia.
Agora, quando outras vozes repetem o mesmo, a minha opinião passa a ser apresentada como um plano de governo que simplesmente não existe. E não existe, insisto, não porque eu não quero que exista. Não existe porque o presidente não quer que exista. A leitura da coluna deixa claro o quanto eu gostaria que ele fosse candidato, pelo quê agradeço o jornalista. Mas deixa de fazer as ressalvas que coloco nesta nota.”
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