Preso na Operação Registro Espúrio, o superintendente do Ministério do Trabalho no Rio de Janeiro, Adriano José Lima Bernardo, disse em áudio obtido pela Polícia Federal que um processo de registro sindical em curso na pasta o faria “ganhar na loteria”. A informação consta em documentos da investigação, obtidos pela reportagem.
Aliado da deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ), Lima foi um dos alvos de mandados de prisão temporária nesta quinta-feira (5), durante ação que resultou também no afastamento do ministro do Trabalho, Helton Yomura.
Para os investigadores, os áudios do superintendente indicam que ele se valia da proximidade com a congressista para submeter demandas a outros servidores da pasta e, com isso, receber propinas de entidades beneficiadas com fraudes em processos.
Cristiane Brasil é filha de Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, um dos partidos que controlavam o ministério até a queda de Yomura. O governo já anunciou a nomeação do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, para substituí-lo interinamente.
As gravações analisadas pela PF foram enviadas por Lima em maio, via Whatsapp, ao então coordenador-geral de Registro Sindical do ministério, Renato Araújo. Araújo seria preso logo depois, em 31 daquele mês, na primeira fase da Registro Espúrio.
Numa das mensagens, Lima trata com o coordenador-geral de pedido para deferir o registro de um sindicato. Na sequência, avisa que está providenciando uma reunião a respeito, possivelmente com representantes da entidade, para a qual levaria a “líder” – referência, segundo a PF, a Cristiane Brasil.
Leia também: Toffoli assumirá o STF por 7 dias, e vai abrir oportunidade para Lula tentar soltura
Em seguida, o superintendente pede a Araújo prioridade na análise do processo de uma entidade representante de mototaxistas. Na gravação, sustenta a investigação, ele aduz que o favorecimento à instituição não era uma demanda só dele, mas também da congressista. “Adriano acrescenta que eles iriam ‘ganhar na loteria’ com o processo de registro sindical em questão”, diz trecho de relatório da investigação.
Nesta quinta, a PF cumpriu dez mandados de busca e apreensão na terceira fase da Registro Espúrio. Entre outras medidas, autorizadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, policiais vasculharam gabinetes de Yomura e prenderam seu chefe de gabinete. Também houve buscas em endereços do deputado federal Nelson Marquezelli (PTB-RJ), que foi proibido de frequentar o ministério e de ter contato com servidores e outros investigados.
A Polícia Federal mira um suposto esquema de cobrança de vantagens, como dinheiro e apoio político, em troca da concessão de benefícios a sindicatos e federações no ministério. Na etapa anterior da operação, Cristiane Brasil foi alvo de medidas de busca e apreensão. Parte das provas usadas na ação de quinta foram obtidas no celular dela, recolhido pelos agentes da PF.
A assessoria da deputada informou, em nota, que ela reitera seu apoio às investigações e está à disposição para quaisquer esclarecimentos. “Ao contrário do que afirma a PF, porém, a deputada não tem ingerência sobre o ministro ou o ministério”, acrescentou.
A reportagem não localizou nesta sexta (6) representantes de Lima e Araújo.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Deixe sua opinião