Flagrado pela Polícia Federal (PF) recebendo uma mala com R$ 500 mil da JBS, o ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) tem muito a dizer em um eventual acordo de colaboração premiada. Com isso,ele pode complicar a vida do presidente Michel Temer (PMDB), de quem foi assessor especial e com quem mantém uma proximidade desde pelo menos 2010.
O principal fio condutor que pode levar as investigações ao presidente é o destino do dinheiro recebido por Rocha Loures. A quantia foi entregue em troca da influência em assuntos administrativos do Cade em favor da JBS. A suspeita é que o presidente Temer tenha participado da negociação e que ele se beneficiaria de parte do valor.
Veja a sequência de acontecimentos que culminou na entrega da mala de dinheiro ao deputado federal:
06/03: Intermediação do encontro
Em uma conversa com o empresário Joesley Batista, o deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB) faz a intermediação de um encontro entre o empresário e o presidente Michel Temer (PMDB). O encontro acontece no dia seguinte.
07/03: Conversa com Temer no Jaburu:
O empresário encontrou com o presidente no Palácio Jaburu, na noite do dia 7 de março deste ano. Na conversa, o presidente Michel Temer indica o deputado federal Rodrigo Rocha Loures como pessoa de sua extrema confiança para tratar de assuntos do interesse de Joesley.
“Fale com o Rodrigo”, afirmou Temer.
“Posso falar tudo com ele?”, pergunta Joesley.
“Tudo”, responde o presidente.
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13/03: Conversa com Rodrigo Rocha Loures:
Na conversa, realizada na casa de Joesley em São Paulo, o empresário menciona que tem algumas “posições chave” no Cade, na CVM, na Receita Federal, no Banco Central e na PFN que precisam de pessoas capazes de resolver problemas da J&S. Joesley cita uma situação específica do Cade, relacionada a sua Empresa Produtora de Energia de Cuiabá, cuja decisão liminar do órgão pode representar um ganho diário para Joesley de R$ 1 milhão. Se o processo fosse bem sucedido, poderia oferecer uma propina de 5% a Rocha Loures.
O deputado promete levar algum nome indicado por Joesley para esses órgãos ao presidente Temer.
Joesley: “Eu só preciso é resolver meus problemas, se resolver, eu nem, só pra não confundir, às vezes, não é que eu, a eu gostaria que fosse João ou Pedro, João ou Pedro...
Loures: “O importante é que resolva.
Joesley: “Resolve o problema, se resolve, então pronto, é que eu tenho algumas questões a ser resolvidas e, de repente, já vamos chamar ele e testar, falar ôô, ôô fulano...
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16/03: Segunda conversa com Rodrigo Rocha Loures:
Em uma conversa gravada na residência de Loures em Brasília, Joesley fala novamente sobre o processo administrativo do Cade que é de seu interesse. O empresário explica que a J&S controla a EPE em Cuiabá e em razão de uma prática anticompetitiva da Petrobras, relacionada à aquisição de gás natural da Bolívia, estaria tendo prejuízos. Essa conduta estaria rendendo um prejuízo de R$ 1 milhão por dia a Joesley, segundo o empresário. Rocha Loures liga imediatamente para dirigentes do Cade para tentar resolver o problema do empresário. O deputado federal concorda em receber 5% de propina por ter ajudado a solucionar o problema.
24/04: Encontro com Ricardo Saud
Rocha Loures encontrou com o executivo da J&S, Ricardo Saud, e os dois combinam um pagamento de R$ 500 mil por semana, durante 20 anos – totalizando R$ 480 milhões. Rocha Loures teria dito ao executivo que levaria a proposta para alguém acima dele.
Veja o depoimento de Saud sobre o assunto:
28/04: Entrega da mala
Rocha Loures encontra com Saud em uma pizzaria em São Paulo e recebe a mala com R$ 500 mil. Pouco mais de uma hora depois da entrega da mala, a PF interceptou uma ligação entre Loures e o cerimonial da Presidência da República, confirmando a presença do deputado em uma comitiva do presidente com destino a São Paulo, dois dias depois.
Assista o flagra da Polícia Federal no momento em que Rocha Loures sai com a mala da pizzaria:
30/04: Viagem com o presidente
Temer e Rocha Loures partiram de Brasília às 8h15 rumo a São Paulo para participar da inauguração da Casa Japão, uma instituição cultural ligada à comunidade japonesa no Brasil. Ambos partiram de São Paulo às 12h20.
23/05: Devolução da mala
Depois da divulgação dos acordos dos executivos da J&S, Rocha Loures entregou a mala com dinheiro à Polícia Federal. Apenas parte do dinheiro, porém, foi devolvida pelo deputado: R$ 465 mil. Os outros R$ 35 mil foram devolvidos apenas dois dias depois, via depósito judicial.