Cada vez mais escanteada no próprio partido, com risco, inclusive, de perder o comando da legenda no próximo ano, Gleisi Hoffmann tenta, a qualquer custo, manter uma posição de destaque na política nacional. Ela vai deixar o Senado em 2019 e assumir uma cadeira de deputada federal na próxima legislatura. Enquanto a eleição presidencial não se define, ela iniciou contatos com correligionários para pedir apoio do PT ao seu desejo de concorrer a um cargo estratégico e relevante: a presidência da Câmara dos Deputados.
Gleisi já tem montado um discurso combativo, em tom elevado, típico do PT oposicionista, semelhante ao que se acostumou a usar no Senado desde a época do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. É o que têm contado à Gazeta do Povo nas últimas duas semanas petistas que presenciam as articulações e os pedidos de apoio da deputada eleita.
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Não há consenso sobre a postura da senadora dentro do partido. "Ela já está olhando para frente e articulando um espaço importantíssimo para o PT da Câmara. É um nome de destaque da legenda e pode reunir o apoio de que precisamos nesse novo Congresso que vamos ver no retorno dos trabalhos", afirmou um aliado da senadora, da ala mais radical do partido.
Do outro lado, porém, um grupo que se ampliou nos últimos meses acha que Gleisi está se precipitando. "Ela se desgastou demais. Vem desgastada da Lava Jato. Se desgastou no impeachment. Mais ainda no processo eleitoral, com a defesa do Lula e os embates com o Haddad, externa e internamente. Além de não ter força política para presidir a Casa, temos que manter a calma nesse momento. Ninguém sabe como estarão as forças na Câmara que tomará posse", afirmou um petista alinhado a Fernando Haddad.
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Tem sido comum no QG petista em São Paulo ouvir comentários de que Gleisi sofreu um "downgrade" de mandato, passando de senadora a deputada. Desde que teve seu nome envolvido na Lava Jato, ela tem visto sua força política minguar. Em 2010, conquistou 3,1 milhões de votos ao se eleger ao Senado. Em 2014, quando concorreu ao governo do Paraná, foram 800 mil votos. Agora, elegeu-se à Câmara com pouco mais de 200 mil votos.
Disputa na Câmara
Além de Gleisi Hoffmann, outros seis nomes já foram ventilados desde o fim do primeiro turno para ocupar a vaga de presidente da Câmara. Rodrigo Maia (DEM) deve tentar a reeleição e articula nos bastidores para garantir o posto no ano que vem. O atual presidente da Câmara, inclusive, já chamou o deputado Capitão Augusto (PR-SP) para uma conversa, na tentativa de tentar demovê-lo da ideia de lançar candidatura para o mesmo cargo. O capitão já avisou ao PR que não abre mão de disputar a presidência da Casa.
Maia também terá de convencer um colega de partido que está determinado a disputar o cargo a mudar de ideia. Deputado recém-eleito, Kim Kataguiri (DEM-SP), líder do MBL, disse à Gazeta do Povo que pretende disputar a vaga em 2019.
Ele, inclusive, já se adiantou a possíveis contestações de adversários por causa de sua idade. Ele tem menos de 35 anos de idade, o que é pré-requisito para assumir a presidência da República – o presidente da Câmara é o segundo na linha sucessória do Planalto. Kataguiri afirma que há precedente aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para que, caso seja necessário, outro nome da linha sucessória assuma o Executivo.
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No PSL, que deve garantir a maior bancada da Câmara graças à cláusula de barreira, também já há uma articulação para ocupar a presidência da Casa. Segundo o deputado Fernando Francischini, atual líder do partido na Câmara, o PSL deve pleitear o cargo para um de seus quadros. Ele diz que o nome mais provável é o do fundador da legenda, Luciano Bivar. Mas o nome do filho do presidenciável, Eduardo Bolsonaro, impulsionado pela grande votação que recebeu dos eleitores de São Paulo, também surge como opção dentro do partido. Um terceiro nome, também do PSL, também está sendo cotado. Trata-se do deputado federal mais votado em Minas Gerais, Marcelo Alvaro Antônio.
Cargo-chave
A eleição para a Presidência da Câmara ocorre sempre no início de fevereiro, logo após a posse da nova legislatura. A de 2019 deve ser uma das mais concorridas dos últimos anos, com vários candidatos. O partido com a maior bancada da Casa larga na frente na disputa por uma simples questão numérica, mas a vitória em um colégio eleitoral de 513 deputados depende de alianças. O apoio do Palácio do Planalto também ajuda, mas não é determinante.
Apesar de ser o segundo da linha sucessória, atrás somente do vice-presidente da República, o presidente da Câmara ganhou papel de destaque nos últimos anos. Cabe a ele, por exemplo, autorizar a instauração de processo contra o presidente da República. Além, claro, de ser o responsável pela instalação de comissões de inquérito, indicação de uma série de cargos-chave na Casa, pela pauta do plenário, negociações nos bastidores com governo, aliados e até oposição.