O mundo dos investimentos vê com ceticismo a capacidade de o presidente Michel Temer entregar as reformas e medidas necessárias para a recuperação econômica do país. O projeto econômico apresentado no último ano, segundo eles, é o melhor caminho, mas na dúvida se Temer vai superar a atual sangria é melhor que se abra espaço, o quanto antes, para que as reformas possam andar. O mais importante é que se tome um rumo o mais rápido possível.
“O empresário quer ver o projeto acontecer. Se for com a solução Temer, se ele se fortalecer, ótimo. Se for por outro caminho, mas realizar as reformas, ótimo também. Só precisa ser rápido”, afirmou uma autoridade ligada à equipe econômica com trânsito entre bancos de investimento e gestoras de fundos.
No governo federal, a análise é de que Temer está frágil, mas conseguiu sair das cordas desde o final de semana, se posicionando publicamente e falando com a imprensa, o que pode ajudar a recuperar a percepção de que ainda é viável sua continuidade no governo.
Desde o início da divulgação de informações sobre a delação premiada de Joesley Batista, do grupo JBS, com gravação atribuída ao presidente Michel Temer, o mercado está aguardando ter mais clareza do que acontecerá nos Três Poderes e não ensejou nenhuma defesa em apoio a Temer. Esses investidores já avisaram ao governo que não apoiam Temer, mas sim a concretização das reformas e medidas necessárias para a retomada do setor.
Preocupa o mercado financeiro que, com a decisão de Temer de não renunciar, arraste-se até o julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um governo em estado de inanição, incapaz de aprovar medidas e apenas preocupado em sobreviver. Sem a renúncia – ato no qual Temer teria mostrado para os investidores que se preocupa realmente com a execução das reformas e não com um projeto pessoal –, o mercado e os investidores esperam com cautela mais sinalizações antes de se posicionar.
Investidores em Standby
A Pesquisa Focus, realizada pelo Banco Central com agentes do mercado financeiro no dia 19 de maio (já após o estouro do escândalo envolvendo Temer), aponta que bancos e corretoras não mudaram sua estimativa, pelo menos por enquanto. Da semana anterior para esta, a expectativa dos analistas para 2018 continuou parecida com o que se registrava antes da divulgação da delação da JBS, e a inflação recua. Quanto aos indicadores de 2017, a Focus não mostra, por exemplo, que os analistas estão aguardando aumento da taxa de câmbio, aumento da taxa de juros, ou piora da inflação.
Para conter os reflexos da crise na percepção dos investidores, esta semana a equipe econômica iniciou uma ofensiva de comunicação com o mercado. Nesta segunda-feira (22), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, realizou reuniões com representantes do banco J.P. Morgan, pela manhã, e com investidores da ICAP pela tarde. O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, incluiu as recentes denúncias contra Temer em sua fala em evento para empresários. Goldfajn relembrou que o país “tem amortecedores robustos e, por isso, está menos vulnerável a choques, internos ou externos”, e que o “BC continuará monitorando o impacto das informações recentemente divulgadas e atuará, sempre que necessário, para manter a plena funcionalidade dos mercados”.
Os esforços de Meirelles e Goldfajn podem ajudar a manter a boa vontade dos investidores com o país. No setor de infraestrutura, os empresários veem Meirelles como uma das joias do governo Temer. Sua permanência é fundamental para realizar as reformas.
No dia 18, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou posicionamento reafirmando a importância das reformas, sem citar nem defender o governo ou o presidente. “A turbulência política não pode anular os avanços conquistados nos últimos meses nem frear o andamento das reformas estruturais. A CNI e as Federações das Indústrias dos estados entendem que, somente com a continuidade das reformas, o Brasil sairá da recessão e voltará a crescer”, afirmou a entidade.
Interesse no petróleo brasileiro segue firme
Um dos ministérios que capitaneia a retomada de investimentos no país é o de Minas e Energia, que anunciou para este ano mais três rodadas de leilão de petróleo – inclusive no pré-sal –, venda de usinas hidrelétricas e de distribuidoras de energia elétrica. Na pasta, a visão é de que o investidor segue interessado em trazer seus dólares ao país, em especial para a área de petróleo.
Autoridade do governo federal da área de infraestrutura avalia que “há alguma preocupação” das petroleiras internacionais com as notícias sobre Temer, mas que o setor de óleo e gás “passará ileso” pelo escândalo, com grande interesse das empresas nos leilões que acontecerão este ano.
Na área de energia elétrica, as maiores associações setoriais querem a continuidade das reformas, inclusive a do setor elétrico, que foi antecipada pela Gazeta do Povo. Nesta segunda-feira, grupo que reúne as principais associações do setor elétrico, o Fase, irá ao Ministério de Minas e Energia entregar carta de apoio ao ministro Fernando Coelho Filho, pedindo que ele fique no governo e conduza seu pacote de leilões, privatizações e medidas de modernização.
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