Em entrevista à rede de televisão portuguesa RTP, o vice-presidente Hamilton Mourão defendeu que o governo Bolsonaro não entre em discussões religiosas – pauta de um importante aliado da nova gestão, os evangélicos. Ele também afirmou entender que os conceitos de direita e esquerda – explorados pelo próprio presidente – são “valores” do passado. E, ao responder por que a ala militar tem sido a principal ponte do governo com a esquerda e o centro, disse que o presidente Jair Bolsonaro foi eleito para governar todos os brasileiros e não apenas àqueles que o elegeram. A entrevista foi exibida no domingo (17).
Questionado sobre a influência dos evangélicos no governo, Mourão reconheceu que eles são representativos – “mais de 30% da população”. Mas defendeu a separação entre Estado e religião. “Essa questão religiosa não deve ser discutida dentro do governo. É algo dos costumes”, disse Mourão. Para ele, a religião é uma questão do indivíduo e não do governo. “Tem de haver vessa separação.”
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Militares são mais moderados porque são mais velhos
O general Mourão também explicou por que os militares têm sido mais moderados que outros integrantes do governo, dialogando até mesmo com a esquerda (o próprio vice, por exemplo, recentemente recebeu representantes da CUT, historicamente ligada ao PT, para discutir a reforma da Previdência).
“Talvez [sejamos mais moderados] porque nós sejamos mais velhos”, brincou Mourão, ao citar a maior experiência de vida. Em seguida, o vice disse que é papel do Estado ter uma interlocução com setores da sociedade que não apoiam o governo. “O que a gente enxerga é que o presidente Bolsonaro foi eleito para governar para todo o Brasil e não única e exclusivamente para aqueles que colocaram seu voto na urna em favor dele.”
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“Sou um crítico contumaz da questão de ser de esquerda e direita”
Mourão, que se autodefinou como de centro-direita, ponderou que acredita que a divisão entre direita e esquerda é uma visão do passado. “Sou um crítico contumaz da questão de ser de esquerda e direita. Eu considero que isso são valores do século 18, da Revolução Francesa”, disse. Segundo ele, os governos hoje têm de ser divididos entre os que são mais liberais ou mais intervencionistas.
Nesse ponto, o vice-presidente deu mostras de que está alinhado com o pensamento do ministro da Economia, o liberal Paulo Guedes. Mourão defendeu como prioridade do governo a recuperação do equilíbrio fiscal, a atração de empresas e a desregulamentação da economia para facilitar o ambiente de negócios.
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O vice também demonstrou estar alinhado com o ministro da Justiça, Sergio Moro, ao defender a agenda dele para a segurança pública: endurecimento da legislação penal, mudanças no sistema penitenciário, reaparelhamento das polícias e investimentos em inteligência policial.
Mourão também defendeu o decreto que facilitou a posse de armas, justificando que é um direito do cidadão para se defender e dizendo que é uma falácia argumentar que a medida aumentará o número de mortes no país. De acordo com ele, quem quer matar sempre arruma uma forma de cometer homicídio. Para melhorar a segurança no Brasil, Mourão também disse que o governo tem de promover investimentos na área social, sobretudo nas periferias das grandes cidades.
País não terá retrocesso democrático
Na entrevista, o vice-presidente também descartou qualquer risco de retrocesso democrático no país durante o governo Bolsonaro. “A democracia brasileira nunca esteve tão forte”, disse, ao explicar que o país superou a má gestão e a corrupção de governos anteriores. Segundo ele, a confiança que a população depositou nos militares tem a ver com isso: num momento de crise moral, política, econômica e de valores, as Forças Armadas mantiveram valores caros à maioria dos brasileiros.
Mourão ainda assegurou que as minorias serão respeitadas pelo governo. “Os direitos das minorias estão garantidos pela Constituição. Em hipótese alguma o governo do presidente Bolsonaro passará por cima do que esta assegurado.”