Em liberdade provisória graças a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-ministro petista José Dirceu participou de um encontro setorial sindical do Partidos dos Trabalhadores (PT) no Distrito Federal, neste sábado (23). Falou para uma plateia de apoiadores e seguidores sobre política, intervenção militar e o tempo que passou na prisão no Paraná.
Estava à vontade, de calça jeans e camisa polo de cor verde com um escudo que trazia a imagem de uma bola de futebol do lado esquerdo. Como todos os outros, usava um crachá com identificação de participante do evento pendurado no pescoço.
Condenado no mensalão e duas vezes na Lava Jato, o ex-ministro aguarda a conclusão do julgamento de um recurso no Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região, em Porto Alegre. Mantém a esperança de ser absolvido da sentença do juiz Sergio Moro no tribunal de segunda instância, mas o parecer do relator da Lava Jato no TRF4, desembargador Gebran Neto, não foi muito animador: ele não só manteve a condenação, como aumentou e muito a pena. O julgamento foi adiado e deve ser retomado em breve.
Dirceu estava preso no Complexo Médico-Penal em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, até a Segunda Turma do STF atender a um pedido de sua defesa, no início de maio, e o colocá-lo em liberdade. Moro, então, determinou o uso da tornozeleira, mas não seu recolhimento domiciliar.
O encontro com companheiros do PT ocorreu no Sindicato dos Servidores Públicos Federais (Sindsep)do DF, ligado à CUT. Dirceu ficou pouco mais de uma hora e usou a palavra duas vezes. Ele se sentou no centro, na mesa principal, com uma faixa embaixo referente ao assunto da reunião: "Dialogando com sua base política e social".
À vontade, o ex-ministro, em pé e com microfone nas mãos, falou de política, da caravana de Lula no Nordeste, da declaração de um general em defesa da intervenção militar no país e de sua prisão no Paraná.
Ouviu queixas de alguns militantes que usaram a palavra sobre o comportamento do PT, e concordou com algumas, como a posição de um deles de que o partido está abandonando a base. Ele entende que o partido teve acertos e erros. E que esse foi um erro. Para ele, o partido precisa se reorganizar.
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Dirceu, que foi perseguido e preso durante a ditadura, criticou o fato de o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, ir à TV e, no entendimento dele, endossar a fala do general Hamilton Mourão, que falou em intervenção dos militares se o Judiciário não agisse contra a política.
O ex-ministro fez um balanço positivo da caravana que Lula fez pelo Nordeste e disse que, apesar do noticiário pouco favorável ao líder petista, ele ainda lidera a corrida para sucessão presidencial.
Dirceu acha sim que Michel Temer corre riscos de ter que se afastar de seu mandato e falou da possibilidade de o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assumir seu lugar. Num tom de ironia, citou que seu vice pode vir a ser o ex-ministro dos governos petistas Aldo Rebelo, que deixou o PCdoB recentemente.
Um dos militantes presentes, ao pedir a palavra, tocou no risco de Dirceu voltar à prisão. O ex-ministro procurou tranquilizar o grupo - tinha entre 50 a 80 presentes - e contou que no presídio em Pinhais estão outros presos condenados na Lava Jato, que tem pessoas presas ali por falta de pagamento de pensão e que não se trata de um presídio de alta periculosidade. E citou que há trabalho interno para reduzir a pena.
Presente do encontro, o deputado distrital Chico Vigilante, vice-presidente do partido no DF, afirmou que o ex-ministro está bem, mas evitou maiores detalhes.
"Ele está bem e absolutamente tranquilo. Ele deu uma passada lá para visitar os amigos”, resumiu.
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