Em transmissão ao vivo feita na terça-feira (18) pelas redes sociais, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, se propôs a comentar as notícias dos últimos dias relacionadas a ele. No entanto, ignorou as movimentações financeiras atípicas identificadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) na conta de Fabricio de Queiroz, ex-assessor do seu filho Flávio Bolsonaro, deputado estadual no Rio de Janeiro pelo PSL e senador eleito pelo mesmo estado.
No início do vídeo, o presidente eleito avisa: “Eu vou dar uma satisfação das coisas que vêm acontecendo comigo nos últimos dias”. Em seguida, admite que não será fácil governar pelos próximos quatro anos. “A barra vai ser pesada. Ninguém acreditava. Aqueles que sempre estiverem no poder não acreditavam que a gente pudesse obter essa vitória. Teremos problemas pela frente, sim. Mas acredito em Deus e no apoio de vocês”, disse.
Entre os assuntos comentados por Bolsonaro estão o pacto de migração com a ONU, os convites que foram desfeitos aos chefes de Estado de Cuba e Venezuela para a sua posse – segundo ele, países que não contam com eleições ou fazem eleições fraudulentas não podem participar de uma “festa da democracia” – e a possível exploração das reservas indígenas Raposa Serra do Sol.
Revogar pacto pela migração
Em relação ao Pacto Global pela Migração, assinado na semana passada pelo atual ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, o presidente eleito reafirmou que pretende “denunciar e revogar” o acordo. “Não podemos concordar com isso daí”, disse. “Infelizmente, o Brasil, com o atual ministro de Relações Exteriores, assinou o pacto (...) Não somos contra imigrantes, mas para entrar no Brasil tem de ter um critério rigoroso. Vamos denunciar e revogar esse pacto pela migração”, acrescentou.
Bolsonaro citou a França como exemplo de país que estaria sofrendo com a entrada de imigrantes. “Acho que todos estão vendo o que está havendo na França. Está insuportável viver em alguns locais. Os que foram pra lá, o povo francês acolheu, mas essa gente não abandona suas raízes, seus direitos lá de trás e seus privilégios. A França está sofrendo”, resumiu. “Nós não queremos isso para o Brasil.”
Rever reservas indígenas
No vídeo, Bolsonaro também voltou a falar em rever a terra indígena Raposa/Serra do Sol, demarcada de maneira contínua em Roraima com aval do Supremo Tribunal Federal (STF) em decisão de 2008. Desta vez, disse que sabe da dificuldade de rever a homologação das terras indígenas. “Quem sabe um dia o Supremo acorde para isso e nos ajude aí a fazer com que essas reservas venham a ser exploradas com racionalidade.”
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Bolsonaro reiterou que, na opinião dele, os índios querem se integrar à sociedade e que, por isso, as reservas podem ser exploradas “com racionalidade” e “em benefício do próprio povo indígena”. “Por que no Brasil o índio tem que ficar recluso na sua terra como se fosse alguém da idade da pedra?”, questionou.
Retirada de imagens sacras
No pronunciamento, Bolsonaro criticou a “Folha de S.Paulo” e negou que vá retirar imagens sacras do Palácio do Alvorada. Segundo reportagem publicada pelo jornal paulista na segunda-feira (17), funcionários do Planalto afirmaram que a mudança ocorreria a pedido da futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro. A transferência foi confirmada também pelo vice eleito, Hamilton Mourão (PRTB).
Após a publicação do texto, Michelle e Bolsonaro negaram a mudança. “Sempre a Folha. Diz que a esposa de Jair Bolsonaro, Michelle, vai retirar imagens sacras do Alvorada. Mentira. E na matéria, inclusive, eles mostram lá um quadro que está no Palácio do Planalto, sequer está no Alvorada”, disse Bolsonaro, no vídeo. A legenda da foto publicada na edição desta terça explica que a obra mostrada fica no Palácio do Planalto.
Mais cedo, ele havia dito em redes sociais que tinha sido surpreendido com a reportagem. “Criam narrativas para nos desgastar a todo custo!”
“Na minha casa aqui tem uma imagem de Nossa Senhora Aparecida que eu ganhei quando estive em Aparecida, e a minha esposa não falou absolutamente nada. Eu sou católico, ela é evangélica e nós nos respeitamos. Assim que ter que ser. Entre nós não existe conflito religioso, somos cristãos. Temos o Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”, disse no vídeo.
Ele afirmou também: “Lamentavelmente mais uma da Folha de S.Paulo. Queria avisar alguns órgãos que acabaram as eleições. O objetivo é desgastar? Tudo bem, mas esse jornalismo não é produtivo, não é bom para o Brasil.”
‘Mensalinho do Twitter’ do PT
No vídeo, Bolsonaro também falou sobre o caso da empresária que foi investigada na Justiça Eleitoral pela suposta contratação de influenciadores digitais pelo PT e que agora tem feito críticas ao partido. O eleito lembrou que foi atacado na campanha pelos rivais por se beneficiar de disparos por WhatsApp impulsionados por empresários contra o PT. “Continua valendo aquela velha máxima da esquerda. Acuse do que você faz. Xingue-os do que você é. O PT me acusou daquilo que eles faziam.”
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Também no pronunciamento, Bolsonaro falou sobre o caso do terrorista Cesare Battisti, que está foragido desde a semana passada após decisão do presidente Michel Temer de extraditá-lo para a Itália. O eleito parabenizou Temer pela decisão e disse: “Onde está? Está com algum companheiro ou fora do Brasil.”