Em meio à crise dos combustíveis, a Petrobras terá um desafio até o fim deste ano: cumprir a sua meta de venda de ativos. Do total de US$ 21 bilhões previstos para o biênio 2017/2018, US$ 7,5 bilhões em ativos já estão com contratos de venda ou parceria celebrados. Isso quer dizer que a companhia tem cerca de seis meses para cumprir quase 65% do seu programa de desinvestimento.
Apesar de parecer muito em pouco tempo, analistas consultados pela Gazeta do Povo acreditam que, mais importante do que cumprir integralmente a meta, é a companhia demonstrar que continua comprometida em levantar dinheiro e reduzir a sua dívida.
Abertura de capital da BR Distribuidora e venda de campos de petróleo
De 2017 até maio deste ano, a Petrobras já conseguiu fechar US$ 7,5 bilhões em contratos de parceria e venda total ou parcial de ativos. A maior parte do valor, US$ 4,45 bilhões, foi fechada no ano passado, quando a companhia concluiu o processo de abertura de capital da BR Distribuidora por US$ 1,5 bilhão, vendeu sua participação no campo de Azulão (AM) à Eneva por US$ 55 milhões e passou 25% do campo de Roncador, na bacia de Campos, para a norueguesa Statoil por US$ 2,9 bilhões.
Neste ano, a empresa concluiu a venda da Petroquímica Suape e Citepe ao grupo mexicano Petrotemex por US$ 385 milhões, vendeu sua participação de 6,59% na produtora de etanol e açúcar São Martinho por US$ 133 milhões, cedeu direitos de 22,5% da área de concessão Iara e 35% do campo de Lara à Total por US$ 2,2 bilhões e recebeu a 2.ª parcela do campo de Carcará (US$ 300 milhões) e a multa de R$ 286,2 milhões por venda da Liquigás. Essas operações somam cerca de US$ 3,05 bilhões em contratos fechados pela Petrobras em 2018.
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Meta ainda está longe de ser batida
Apesar de já ter fechado US$ 7,5 bilhões em vendas e parcerias, o percentual responde apenas a 35,7% do total prometido dentro do programa de parcerias e desinvestimentos. Há, ainda, uma diferença entre o valor fechado nos contratos e o recebido pela companhia – o que, normalmente, demora mais para acontecer. Por exemplo, grande parte do dinheiro da venda do campo de Roncador, fechada em dezembro do ano passado, só foi recebida na semana passada. A Petrobras informou que o valor total de entrada de caixa em 2018 por meio do Programa de Parcerias e Desinvestimentos totaliza US$ 5 bilhões.
Luiz Francisco Caetano, analista de investimento da Planner Corretora, afirma que a dificuldade que a Petrobras vem enfrentando para fechar os negócios é natural em um processo de tamanha complexidade, como a venda de ativos de uma estatal.
“A Petrobras fazer qualquer coisa não é fácil. Dado o interesse que todos têm na empresa, inclusive de grupos políticos. A petroleira mexe com todos os tipos e grupos de interesse. Já vimos vários processos de venda embargados na Justiça por sindicatos profissionais”, diz o analista.
O programa de desinvestimento da Petroleira foi alvo de questionamentos na Justiça e ficou interrompido no início do ano passado. Ela foi acusada de limitar a concorrência nos certames.
O programa só pôde ser retomado em maio do ano passado, após a petroleira aperfeiçoar as regras do programa a pedido do Tribunal de Contas da União (TCU). Com isso, a Petrobras teve que começar muitos processos do zero, incluindo da BR Distribuidora. Há também os questionamentos judiciais feitos sobre cada ativo em negociação, o que ajuda a comprometer o andamento dos processos.
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O que ainda está pendente
Dos ativos que estão pendentes de negociação, a Petrobras tem dez grupos em fase vinculante, etapa que antecede a assinatura de contratos. Entre eles estão campos terrestres e de águas rasas, a refinaria de Pasadena, ativos no Uruguai, a Petrobras Oil&Gas e a Transportadora Associada de Gás (TAG).
O fechamento do contrato de venda de 90% da TAG é o que deve render mais dinheiro e aproximar a Petrobras de cumprir a sua meta. A empresa espera levantar, ao menos, US$ 7 bilhões com a negociação. O processo, porém, está parado, devido à decisão judicial da 4.ª Turma do Tribunal Regional Federal da 5.ª região, que mandou suspender a alienação das ações da TAG a um sócio estratégico.
Outro processo que pode sofrer atrasos, não necessariamente por questões judiciais, é o da venda de parte das refinarias. O atraso pode acontecer devido à crise dos combustíveis, já que a política de preços da companhia foi colocada em xeque com a greve dos caminhoneiros. Caso a Petrobras perca seu poder de compensar as variações diárias internacionais do preço do barril de petróleo, investidores podem retrair o interesse em comprar as refinarias do Sul e Nordeste, que estão parcialmente (60%) à venda.
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Continuar focada em desinvestimento é mais importante
Apesar das dificuldades para chegar aos US$ 21 bilhões até o fim do ano, analistas acreditam que, mais importante do que cumprir integralmente a meta, é a Petrobras se mostrar focada em vender ativos para gerar caixa e reduzir sua dívida.
“Se ela não conseguir bater a meta e for claro para o mercado que ela continua empenhada [a desinvestir] e não bateu a meta por problemas judiciais e burocráticos, o não atingimento terá menor importância”, diz Caetano.
Sergio Goldman, analista da Magliano, também afirma que, se a companhia sinalizar que o compromisso com a venda de ativos continua, isso não deve afetar a percepção que o mercado tem sobre a empresa e, consequentemente, seus papeis na Bolsa. “O que ela deve fazer é não deixar para comunicar na última hora que não vai cumprir a meta. E deve, na ocasião, reafirmar que o compromisso [com a venda de ativos] continua.”
O programa de desinvestimento e parcerias da Petrobras para o biênio 2017/2018 faz parte do Plano de Estratégico da companhia até 2022. O objetivo da petroleira é priorizar sua operação nos ativos com maior potencial de ganhos e vender os demais para reduzir sua dívida.
A estratégia só veio a ser implementada porque a Petrobras acumulou uma dívida bilionária (chegando a US$ 100,4 bilhões em 2015) após ser ponto central do escândalo de corrupção chamado petrolão e também após ter acumulado anos seguidos de prejuízo.
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