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A Petrobras cortou 17% do quadro de funcionários com um plano de demissões voluntárias. | Agência Petrobras/Agência Petrobras
A Petrobras cortou 17% do quadro de funcionários com um plano de demissões voluntárias.| Foto: Agência Petrobras/Agência Petrobras

As maiores estatais federais estão de volta ao azul. Na semana que marcou um ano da gestão Michel Temer, Petrobras, Eletrobras e Banco do Brasil apresentaram balanços com lucro líquido trimestral, superando o período de prejuízos (no caso das duas primeiras) e resultados fracos (no caso do banco). Em comum no trabalho que entregou esses resultados estão o corte de despesas correntes e investimentos, as demissões e a venda de ativos e participações.

No dia 11 de maio, a Petrobras divulgou lucro de R$ 4,449 bilhões no primeiro trimestre de 2017, revertendo um prejuízo de R$ 1,246 bilhão no mesmo período do ano anterior. No dia seguinte, Banco do Brasil apresentou ao mercado seu balanço, com lucro de R$ 2,515 bilhões nos três primeiros meses do ano, alta de 95,6% ante o primeiro trimestre de 2016. Eletrobras também apresentou resultado positivo: lucro líquido de R$ 1,394 bilhão no trimestre, contra prejuízo líquido de R$ 3,898 bilhões no primeiro trimestre de 2016.

O mercado financeiro aplaudiu. O banco BTG Pactual afirmou, em seu relatório para clientes, que o balanço da Petrobras mostrou dados “sólidos e limpos”, que superaram as expectativas do banco. Sobre o Banco do Brasil, o UBS Investment Bank destacou em relatório que o lucro ultrapassou a expectativa de mercado, e o BTG Pactual afirmou que o controle de custos do banco foi “excepcional”.

Para Simão Silber, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, o governo profissionalizou a gestão das estatais. Nos últimos 12 meses, observa Silber, foram feitas mudanças na legislação (como a que permitiu à Petrobras abrir mão de ser a única operadora no campos do pré-sal) e as empresas deixaram de ser utilizadas para engordar o caixa do Tesouro Nacional.

“Elas passaram de uma gestão temerária para uma gestão profissional. Claro que não foi a salvação da lavoura, pois essas empresas são gigantescas, mas vimos uma mudança muito radical”, avalia o economista.”Começamos a ter a cara de um país mais sério”, disse Silber.

Essa melhora pode ser usada pelo governo para construir uma visão mais otimista sobre seu trabalho na área econômica e criar um ambiente mais favorável à aprovação de reformas impopulares, como a trabalhista e a da Previdência.

“A visão que se tem lá fora é de que este é um governo profissional, envolvido em mudanças importantes, e que não pode esperar pelo ano que vem, o resultado precisa vir este ano, pois 2018 é ano eleitoral. Daqui a dois ou três meses já saberemos se a espinha dorsal foi montada, com a peça de resistência sendo a reforma da Previdência, que vai ter impacto no curto prazo. Se isso passar, 2018 vai ser um ano muito razoável”, avalia Silber.

Desafios

Ao comentar o resultado positivo da Petrobras, na cerimônia de um ano do governo Temer, o presidente da empresa, Pedro Parente, afirmou que a Petrobras “volta a ter condição de dar orgulho ao brasileiro”. Porém, os desafios são grandes.

A Petrobras e a Eletrobras têm um grande pacote de venda de ativos que precisam colocar em prática. A distribuidora Celg-D, privatizada em novembro, foi apenas a primeira do pacote de distribuidoras elétricas deficitárias ligadas à Eletrobras. As demais continuam sangrando o caixa da estatal e o bolso de seus acionistas mês a mês.

A Petrobras tem como meta vender US$ 21 bilhões até 2018. Mas, além de enfrentar resistências das associações e dos sindicatos, ainda teve de superar questionamentos do Tribunal de Contas da União (TCU).

Veja abaixo algumas das medidas adotadas pelas estatais que as ajudaram a sair do prejuízo:

Privatizações e menos investimentos

A retomada da eficiência de gestão é comum às três estatais no último ano, com foco na venda de ativos e redução do quadro de funcionários, pontos que eram tabu no governo anterior.

O resultado da Eletrobras, por exemplo, foi engordado em R$ 1,525 bilhão pela privatização da distribuidora goiana Celg-D em novembro. Na Petrobras, estão em curso os planos que incluem a venda de parte da BR Distribuidora e empresas em outros países.

A receita de bolo para alcançar o lucro líquido também contou com corte de investimentos e a redução da alavancagem. Pesquisa feita pelo Ministério do Planejamento aponta que a Petrobras deixou de executar R$ 13,429 bilhões, ou 21%, do total orçado em 2016. O Grupo Eletrobras deixou de executar 34% do previsto.

O Banco do Brasil destacou aos investidores que ajudaram no resultado positivo o controle das despesas administrativas, além do aumento no consumo de produtos e serviços e a redução nas despesas com provisões para operações de crédito.

Bernardo Rothe, gerente geral da Unidade Relações com Investidores do Banco do Brasil, avalia que entre os desafios do BB está a “continuidade da busca pela melhor eficiência, a melhoria do atendimento ao cliente, ampliando os canais digitais e a oferta de soluções inovadoras, e a aumento do retorno sobre o patrimônio líquido”. O banco estatal não comentou se pretende vender ativos, mas afirmou que é esperado o crescimento da demanda por crédito pelas micro e pequenas empresas, principalmente no segundo semestre.

Corte de gastos e de mordomias

Nas empresas estatais foi preciso enxugar as gorduras administrativas, inclusive com demissão de funcionários. A Petrobras destacou em seu balanço a redução de 27% nas despesas com vendas, gerais e administrativas.

Ricardo Schweitzer, da casa de análises de investimentos Inversa, aponta que a redução dos custos operacionais só foi possível porque os presidentes das estatais tiveram autonomia para isso.

“Isso tem a ver com se colocar nas empresas pessoas dispostas e empoderadas para promover reformas e melhorias necessárias considerando a condição financeira dessas empresas. Não sei se o governo anterior, apesar da necessidade, teria a coragem de cortar na carne”, avalia.

Nesses cortes de gastos, entram as demissões e programas de aposentadoria incentivada. Na Petrobras, o corte no efetivo foi de 17% em comparação ao ano anterior, em função do plano de incentivo ao desligamento voluntário (PIDV), segundo balanço da companhia.

A Eletrobras ainda está finalizando os detalhes de seu Plano de Demissão, mas estimativas internas apontam que quase 3 mil funcionários podem ser elegíveis. O Banco do Brasil também adotou controles de custos administrativos e cortou servidores. O balanço trimestral do banco mostra queda de 10,1% na despesa com pessoal no primeiro trimestre deste ano em comparação ao fim de 2016.

Na guerra contra os gastos, a Eletrobras reduziu mordomias da diretoria, como o número de motoristas dos diretores. O enxugamento desse benefício acabou por afetar até o Ministro de Minas e Energia, que quando está em viagem oficial ao Rio de Janeiro utiliza estrutura de carros e segurança da Eletrobras. Após o corte de gastos, a equipe de seguranças não mais acompanha o ministro, e o motorista que o atendia só pode ser destacado para atender o ministro se a diretoria da qual ele faz parte abrir mão enquanto o ministro precisar.

Enfrentando pendências

A mudança de rumos na gestão política também permitiu a solução de pendências acumuladas ao longo dos últimos anos. No balanço do primeiro trimestre, o reconhecimento contábil de R$ 1,553 bilhão que a estatal deve receber referente à indenização de ativos de transmissão – valor que será coberto pela conta de luz dos brasileiros a partir de 2018 – reforçou a receita operacional da empresa.

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