Mesmo fora do governo, a gente achava que ele podia causar dano. Ainda tinha muita influência na máquina.
A eminência parda de José Dirceu dentro dos governos dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff fez com que a empreiteira Odebrecht fizesse pagamentos apenas para não ter o ex-ministro da Casa Civil como inimigo. Segundo a delação do ex-presidente da Odebrecht Ambiental, Fernando Reis, a empresa temia que a influência de Dirceu em Brasília mesmo após a sua saída do governo pudesse trazer danos às suas operações.
Ao todo, conta o delator, foram entregues R$ 500 mil com recursos de caixa dois para a campanha de Zeca Dirceu (PT-PR) à Câmara dos Deputados em 2010 e 2014. Reis explica, contudo, que José Dirceu não chegou a estipular um valor e que apenas pediu o apoio da construtora com doações para seu filho, que estaria “apertado”. Assim, para evitar ficar mal vista pelo ex-ministro, a Odebrecht fez o pagamento de R$ 250 mil em cada uma das ocasiões. Zeca Dirceu venceu nas duas disputas. Além disso, em 2014, quando a empresa fez o segundo pagamento, seu pai já havia sido condenado a 7 anos e 11 meses pelo escândalo do Mensalão e estava cumprindo a pena em prisão domiciliar.
“Apoiando o Zeca Dirceu, o que nós buscávamos era, na verdade, não ter o José Dirceu como inimigo”, disse Reis em depoimento. “Mesmo fora do governo, a gente achava que ele podia causar dano. Ainda tinha muita influência na máquina”. E os tentáculos do chamado “Guerrilheiro”, como era chamado na lista da Odebrecht, se estendiam por municípios e estados, chegando à Presidência da República e a outras empresas. Para o ex-executivo, o medo era de que Dirceu repassasse informações da empreiteira para concorrentes.
Esse receio era tão grande que a empreiteira passou a monitorá-lo mesmo após sua saída da Casa Civil, em 2005, temendo que ele passasse a agir contra os interesses da empresa, principalmente em atividades fora do país. De acordo com Reis, o petista começou a prestar serviços para outras companhias e isso causava “constrangimentos e alguns problemas” para as operações internacionais da Odebrecht. Por essa razão, a empresa pediu para que os seus passos fossem monitorados. Segundo o delator, o objetivo era “estar próximo dele para evitar problemas”.
Por meio de nota, o deputado Zeca Dirceu nega ter recebido doações da empreiteira e que “apesar das inúmeras investigações em andamento, há vários anos, não existe sequer uma única ligação, e-mail, contato, agenda de reunião, testemunho, delação ou coisa parecida em relação a qualquer atitude do parlamentar que o ligue ao assunto Petrobras/Lava Jato ou a qualquer tipo de ilegalidade” e que ele jamais fez qualquer pedido às empresas investigadas na Operação Lava Jato.