A Polícia Rodoviária Federal informou que ainda existem 556 pontos de bloqueio e manifestações em rodovias do país por causa da greve dos caminhoneiros. É menos da metade do que foi registrado no auge do movimento, quando houve 1,2 mil atos de interrupção. Mas um número considerável um dia após o governo anunciar que cedeu às reivindicações da categoria: redução de R$ 0,46 por litro de diesel por 60 dias; isenção de pedágio para eixo suspenso; tabela mínima do preço do frete; entre outros.
A paralisação completou oito dias nesta segunda-feira (28) com uma queda na aprovação da população. As pessoas se perguntam quando isso tudo irá acabar. Já não suportam o desabastecimento de combustíveis e alimentos, a suspensão de aulas, os prejuízos pelo tempo parado em indústrias e fazendas, os transtornos causados no transporte público.
Pesquisa da empresa Torabit, especializada em medição de comentários nas redes sociais, mostrou que o apoio explícito à paralisação caiu em 20 pontos porcentuais em três dias. Na última sexta-feira (25), 53,5% dos posts em redes sociais e blogs eram favoráveis ao movimento – agora, essa proporção é de 34,5%. Já as avaliações positivas caíram de 52% para 45% – parte desses comentários, porém, destacava os efeitos da paralisação de forma negativa.
Mas por que a paralisação ainda não acabou se o governo atendeu praticamente tudo o que a categoria queria e as pessoas já não a apoiam. A Gazeta do Povo elencou algumas das razões:
Infiltrados no movimento
O presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) – uma das últimas entidades a aceitar as propostas do governo –, José da Fonseca Lopes, afirmou nesta segunda que grupos infiltrados entre os grevistas estão impedindo que eles retomem as atividades. Segundo o líder grevista, são “intervencionistas” que retêm os veículos e intimidam os motoristas mediante ameaças.
“São pessoas que querem derrubar o governo. Eu não tenho nada a ver com essas pessoas e nem o nossos caminhoneiros autônomos têm. Mas eles estão sendo usados por isso”, disse Lopes.
O governo está ciente desse problema e apura se três movimentos políticos – “Intervenção militar já”, “Fora Temer” e “Lula livre” – se infiltraram na paralisação dos caminhoneiros. Eles estariam alimentando os focos que ainda querem manter os bloqueios, mesmo após ter boa parte de suas reivindicações atendidas ou ao menos encaminhadas.
“Para esses que têm posição extremista, esse ou qualquer outro acordo não iria funcionar porque a intenção não é resolver problemas, mas criar o caos, a instabilidade”, disse o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Ijuí, no Rio Grande do Sul, Carlos Alberto Litti. Para o líder gaúcho, o grupo mais resistente ao acordo é movido “por um tema político e não econômico”.
Negociação com um governo frágil
O governo Michel Temer se mostrou completamente despreparado para lidar com a situação desde o início. Primeiro quando ignorou os apelos da Abcam para sentar e negociar as reivindicações dos caminhoneiros, uma semana antes da paralisação eclodir. Fonseca Lopes solicitou uma reunião com a Casa Civil e nem sequer obteve resposta.
O setor de inteligência da Presidência foi incapaz de detectar a gravidade da insatisfação dos motoristas e de empresários do setor de transportes, acusados de promover um locaute, ou seja, uma greve de patrões, o que é proibido por lei.
Quando movimento ganhou as estradas do país, a falta de habilidade política do time escalado pelo governo para resolver a crise ficou evidente. O fim da paralisação já foi anunciado três vezes pelo Palácio do Planalto – até agora sem sucesso.
Sem força, o grupo negociou o tempo todo com uma faca no pescoço. Por isso não é de se espantar que cedeu tudo e mais pouco para os caminhoneiros. Os grevistas perceberam a facilidade e continuam tentando emplacar outras benesses, a anistia de multas e pontuações nas carteiras de habilitação dos grevistas.
Temor de uma reação mais forte
O presidente Michel Temer editou um decreto de Garantia da Lei e da Ordem, que autoriza o empregos das Forças Armadas no desbloqueio de rodovias e acessos a refinarias e aeroportos. Outro decreto permite que as forças de segurança requisitem veículos particulares para fazer o transporte de cargas. Paralelamente a isso, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, concedeu uma decisão liminar que legitima o uso das forças de segurança pública para liberar o fluxo em estradas e desocupar acostamentos. E estabelece ainda multas de R$ 100 mil por hora para as entidades que incitem a ocupação e interdição de rodovias e de R$ 10 mil por dia para cada manifestante que se recusar a retirar o veículo que esteja obstruindo via pública.
Ainda assim, o governo age com cautela e evita usar todo esse aparato repressivo. Teme confrontos que levem a consequências ainda mais graves, como mortes de caminhoneiros e acirramento dos ânimos entre os manifestantes. A Polícia Rodoviária Federal tem agido para liberar estradas, inclusive com uso de bombas de efeito moral. Já as Forças Armadas, por enquanto, têm feito mais barulho do que ações efetivas.
O Comando Militar do Sul, que engloba regiões, divisões e grupamentos militares com jurisdição nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, chegou a divulgar um vídeo em que fala sobre a atuação do Exército e pede a colaboração dos caminhoneiros para negociar uma solução para o problema.
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