A abertura de um inquérito contra o presidente Michel Temer no STF baseado na delação de executivos da JBS fez mudar a lógica do jogo em Brasília. Neste momento, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), se tornou o político mais poderoso do país. Está nas mãos deles o futuro dos pedidos de impeachment, que agora contam com o apoio do Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e ele seria o primeiro na linha de sucessão de Temer.
No Congresso, somente de quarta para quinta-feira da semana passada, foram protocolados quase uma dezena de pedidos de impeachment do presidente. Há grupos que defendem a renúncia de Temer – ideia rechaçada por ele em pronunciamentos realizados na quinta-feira (18) e no sábado (20). Neste domingo, Maia participou de um encontro entre aliados e o presidente Temer, no Palácio da Alvorada. Segundo a Coluna do Estadão, Maia fez um discurso emotivo, falou de gratidão e ficou com a voz embargada. Ele teria afirmado que só chegou ao comando da Câmara por intercessão de Temer e disse que “não o deixará em nenhum minuto até o final do mandato em 31 de dezembro de 2018”.
Maia aparece em uma situação peculiar pois tem nas mãos o poder de decidir se quer ou não governar o país – mesmo que provisoriamente. Como presidente da Câmara, cabe a ele decidir se aceita dar início a algum dos processos de impeachment que chegaram recentemente à sua mesa. Se Temer for afastado por decisão do Congresso, Maia assume porque o presidente não tem um vice. Maia também assume caso a chapa Dilma-Temer seja cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral, cujo julgamento será retomado na primeira semana de junho.
A situação de Maia é diferente da do ex-presidente da Casa, o deputado cassado Eduardo Cunha. Quando aceitou o pedido de impeachment de Dilma, Cunha não era o primeiro na linha sucessória, já que a ex-presidente tinha Temer como vice.
Lava Jato
Assim como Temer, Maia também está enroscado na Lava Jato. O presidente da Câmara foi citado nos depoimentos dos executivos da Odebrecht que firmaram acordos de colaboração premiada com a Procuradoria Geral da República e é investigado em dois inquéritos abertos no Supremo Tribunal Federal (STF).
No primeiro inquérito, Maia é investigado por supostamente ter recebido da Odebrecht R$ 350 mil para as eleições de 2008 – mesmo não concorrendo a nenhum cargo naquele ano. Em 2010, Maia teria solicitado à empreiteira um repasse de R$ 600 mil para a campanha de seu pai, Cesar Maia. Há ainda a investigação de outros pagamentos para a aprovação de uma Medida Provisória de interesse da Odebrecht, além de repasses de recursos para a campanha do deputado em 2014.
Já no segundo inquérito, Maia é investigado por receber propina para auxiliar na aprovação de pelo menos três Medidas Provisórias de interesse da Odebrecht. O deputado teria recebido pelo menos R$ 100 mil da empreiteira. Na lista de pagamentos da empresa, ele aparece como o “Botafogo”.
Presidência da Câmara
Maia foi eleito para um mandato tampão na Câmara dos Deputados em julho do ano passado, depois da renúncia de Eduardo Cunha (PMDB) à presidência da Casa. Para conseguir se eleger, deixou de lado o discurso ferrenho de oposição aos governos do PT, rompeu a aliança com Cunha e se aproximou do então presidente interino, Michel Temer (PMDB).
Ao longo dos seis meses do mandato tampão na presidência da Câmara, Maia fez o papel desejado pelo Planalto, dando ritmo à PEC do Executivo para definir um teto de gastos públicos para os próximos 20 anos e colocando a reforma da Previdência para tramitar na Casa.
Com isso, conseguiu o apoio – mesmo que velado – do Planalto para sua reeleição no início deste ano. A candidatura dele chegou a ser questionada por seus adversários em pelo menos cinco ações no Supremo Tribunal Federal (STF). O argumento era de que a Constituição Federal proíbe reeleição de presidentes do Legislativo dentro mesmo mandato. Maia, porém, alegou que o veto não se aplicava a ele, que foi eleito pela primeira vez para um mandato tampão.
Maia é tido como um “articulador” dentro da Câmara. No dia a dia do parlamento, mantém bom trânsito até entre os grupos de oposição. Adversários atestam que ele “cumpre acordos” e é “positivamente previsível”.
Perfil
A trajetória política de Maia teve impulso como secretário da gestão de Luiz Paulo Conde na Prefeitura do Rio (1997-2000), mas a notoriedade nacional veio com a refundação do PFL, em 2007, quando passou a se chamar Democratas.
Ex-líder do PFL, Maia foi eleito presidente do DEM e recebeu a missão de modernizar a imagem do partido. O deputado fracassou na eleição municipal de 2012, quando candidatou-se à prefeitura do Rio tendo a deputada Clarissa Garotinho (PR) de vice. O desempenho foi pífio: apenas 3% dos votos na disputa que reelegeu Eduardo Paes (PMDB-RJ).
Na eleição de 2014, foi reeleito deputado com apenas 53 mil votos. Cada vez mais sem espaço na Câmara, Maia buscou uma transformação de comportamento, passando a ter maior interlocução em campo adversário.
Bancário, nasceu em Santiago (Chile) no período de exílio do pai. É casado com Patrícia Vasconcelos, enteada de Moreira Franco, hoje chefe da Secretaria do Programa de Parcerias de Investimento de Michel Temer.
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