| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Às 19 horas de segunda-feira, 4, Rodrigo Janot anunciou o que um de seus aliados definiu como uma “bela punhalada” em seu mandato: a possível revisão no acordo de delação dos executivos da J&F. O acordo é considerado o feito mais ousado de Janot, que resultou na denúncia contra o presidente Michel Temer.

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A entrega espontânea de áudios, pela JBS, que fazem com que o acordo seja reexaminado, e a reação da Procuradoria têm como objetivo manter a delação em pé, na tentativa de diminuir os danos do episódio para Joesley Batista e para a reputação de Janot.

Leia mais: Informação privilegiada? Janot era informado antes de acordo final com Joesley

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O procurador-geral, avesso a entrevistas, chamou a imprensa às pressas e garantiu que “agiu de boa-fé” e por isso, agora, à luz de novos fatos, “presta esclarecimentos” à sociedade.

“Ludibriados” pelos delatores, sugeriu Janot, procuradores da República firmaram acordo que pode ser rompido ao se descobrir uma gravação na qual um dos seus homens de confiança é apontado como o sujeito “afinado” com Joesley. A suspeita é de que o ex-procurador Marcelo Miller tenha orientado a JBS no acordo quando ainda pertencia à instituição.

O novo áudio, disse Janot, foi entregue pela própria defesa da JBS na quinta-feira passada, dia 31 de agosto, às 19h30, a poucas horas do fim do prazo dado pela Procuradoria para a empresa complementar a própria delação. Em uma força-tarefa no fim de semana, os áudios foram analisados pelo grupo de trabalho de Janot na Lava Jato.

A conversa de Joesley com Ricardo Saud foi encontrada pela procuradora Maria Clara Barros Noleto no domingo, e anunciada pelo procurador-geral publicamente no dia seguinte. Antes disso, Janot fez uma longa reunião com sua equipe de comunicação e avisou pessoalmente o ministro Edson Fachin, quem chancelou em abril o acordo feito com Joesley, e a presidente do Supremo, Cármen Lúcia.

Ao se apressar em anunciar a sua própria derrota, Janot buscava dominar a narrativa do problema. Pelas explicações, a PGR foi pega de surpresa por uma traição e está disposta a resolver o problema. A boa-fé, no caso, garante a validade do acordo. O contrato assinado pelos irmãos Batista tem cláusula específica que prevê que, em caso de rescisão do acordo em razão da omissão de fatos criminosos, pelos delatores, as provas produzidas continuam válidas.

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De bandeja

Mas como e por que uma gravação que pode ameaçar a liberdade de Joesley, que tem advogados renomados e bem pagos, foi entregue de bandeja aos investigadores? Joesley e Janot viveram o último mês com uma faca no pescoço.
Desde julho, depois da perícia da Polícia Federal no gravador do dono do Grupo J&F, os delegados identificaram áudios apagados do aparelho - e, portanto, não entregues espontaneamente aos investigadores. Em um deles o nome de Miller já aparecia em situação embaraçosa.

A gravação, no entanto, ficou protegida por sigilo judicial, pois se tratava de uma conversa de Francisco de Assis - delator e advogado - sobre a defesa de Joesley. Por supostamente tratar de conversa entre advogado e cliente, o áudio nunca veio à tona. Mas informações esparsas começaram a pipocar na imprensa nas últimas semanas.

Joesley poderia assumir o risco de que essa conversa nunca viesse a público ou viesse da pior forma possível: por um vazamento de informação sob a guarda da polícia. O vazamento colocaria em xeque também a razão de Janot para não ter aberto investigação sobre o tema.

Desde a vinda à tona da delação da JBS, Janot virou alvo até mesmo na PF. Em parte pela rixa histórica entre as instituições e em outra parte em meio ao incentivo político, nos bastidores, pela briga. Enquanto polícia e Ministério Público se desentendem, investigações não andam - um resultado que interessa à classe política.

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Se fosse alvo de eventual vazamento de material sob guarda da PF, Joesley deixaria Janot contra a parede.

‘Boia de salvação’

Acuado, Joesley tem como “boia de salvação” o seu próprio acordo, assinado pelo grupo de Janot. É a própria PGR que pode proteger e defender a validade do que fora acertado em maio - e a única que o tem feito, em meio a todas as pedras lançadas contra o executivo desde então. O empresário entregou, então, novos áudios. Em um deles, o nome de Miller surge na conversa.

Pela história que veio a público, JBS e Procuradoria concordam em dois pontos: a entrega das informações foi espontânea - o que favorece Joesley - e o Ministério Público foi surpreendido pelo conteúdo - o que favorece Janot. A defesa de Joesley mostra que ele pode até ter errado, mas no fim colaborou. Janot, enganado até que se prove o contrário, se fia na boa-fé com que assinou o acordo e por isso tem a lei ao seu lado para manter as provas de investigação válidas.