Acusado de ter sido “laranja” da empreiteira Odebrecht na compra de um terreno para a construção da sede do Instituto Lula, o empresário Dermeval de Souza Gusmão Filho negou nesta quarta-feira (6) que a operação tenha envolvido pagamento de propina para ele. Em depoimento ao juiz Sergio Moro durante duas horas, em Curitiba, o dono da construtora DAG afirmou que o negócio proposto a ele pela Odebrecht era de interesse de sua empresa. Mas não soube dizer qual era o interesse da empreiteira intermediar a obra: “O que a Odebrecht fez, eles é que têm que explicar”.
Gusmão chegou a comprar, por R$ 7,1 milhões, o terreno na zona sul de São Paulo onde seria erguido o prédio, mas a obra não se concretizou e ele diz ter saído com prejuízo. E afirmou que, no fim, foi um “pato”.
O caso é investigado na Operação Lava Jato. Na próxima quarta-feira (13), o ex-presidente Lula prestará depoimento sobre o assunto. Para o Ministério Público Federal (MPF), a aquisição da área teve dinheiro do “Setor de Operações Estruturadas”, o departamento de propina da Odebrecht.
O empresário disse que ele adquiriu o terreno e descreveu a operação como um investimento comum no mercado da construção civil. Ele afirmou a Moro que foi procurado por Paulo Melo, ex-diretor-superintendente da Odebrecht Realizações Imobiliárias, com uma “oportunidade de negócio” que lhe interessou.
O que dizia a Odebrecht
Gusmão disse que, depois, o empreiteiro Marcelo Odebrecht lhe contou que o objetivo era construir no local a sede da entidade ligada a Lula. Pelo acordo, a DAG faria a obra e depois a venderia para o instituto ou a alugaria.
A Odebrecht, de acordo com o depoimento, não queria comprar o terreno porque se tratava de um “negócio pequeno” e sua aparição como interessada na compra da área poderia levar os proprietários a aumentarem o preço.
Ainda segundo Gusmão, a construtora queria evitar “exposição política”, com o risco de “colar” sua imagem à de Lula. Além disso, “a tomada de frente da Odebrecht poderia inibir a boa vontade de outros grupos empresariais”, disse Gusmão, numa referência à busca de doações que seria feita para viabilizar a obra e a implementação da entidade.
Segundo o depoimento do empresário, o advogado Roberto Teixeira, amigo do ex-presidente, era quem intermediava o negócio em nome do instituto. Ele disse que, “pelo contexto”, entendia que Teixeira era o representante do petista, mas que só ouviu o advogado de fato mencionando o nome de Lula duas vezes.
Uma delas foi quando recebeu o aviso de que o ex-presidente queria conhecer o local com uma comitiva. De acordo com o construtor, Lula “não gostou” do terreno e, depois disso, o negócio foi desfeito. Por fim, ele acabou vendendo o imóvel para a Odebrecht.
A encomenda da obra, segundo Gusmão, pedia que o prédio tivesse garagem subterrânea, auditório, salas de reunião e uma espécie de hotel, com algumas suítes.
“Eu fui um pato”
Dermeval Gusmão detalhou gastos que teve com o negócio, como os custos de manutenção e de segurança do terreno. Sobre o que chama de “fábrica de dinheiro” da Odebrecht, numa referência às planilhas de pagamento de propina da construtora, o empresário disse: “Não peguei 1 real disso aqui”.
Ele negou envolvimento em benefícios ao ex-presidente ou a outras pessoas. “O que a Odebrecht fez, eles é que têm que explicar.”
“Hoje, com o desenrolar desse processo, vendo a quantidade de pagamentos feitos à minha revelia, que eu não tinha a menor ciência, por fora, o que eu posso dizer é que eu fui enganado”, afirmou o empresário. “Eu entrei nesse processo como laranja, e hoje eu vejo que eu fui um pato. Isso que eu fui.”
OUTRO LADO
A assessoria de imprensa de Lula, em nota, diz que o empresário “deixou bem claro que não teve nenhum contato nem conhecimento de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou a diretoria do Instituto Lula tivessem solicitado o tal terreno”.
“Ele confirma que o ex-presidente não teve interesse no terreno. E que a compra do terreno pela DAG não teve nenhuma relação com contratos da Petrobrás, mas que era um negócio imobiliário entre a Odebrecht e a DAG. E que se fosse destinado ao Instituto Lula o imóvel seria vendido ou alugado, não doado”.
Ainda de acordo com a nota, Gusmão “aponta que o dinheiro que teria saído da tal planilha do Setor de Operações Estruturadas jamais foi usado para a compra do terreno”.
“O Instituto Lula jamais teve qualquer outra sede que não o sobrado no bairro do Ipiranga adquirido em 1991 por entidade que antecedeu o instituto”, diz a entidade.
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