A PM Kátia Sastre estava acompanhada de sua filha de 7 anos quando reagiu ao assalto em frente à escola da menina, no bairro Jardim dos Ipês, em Suzano. Assaltante morreu.| Foto: Reprodução

A neta do aposentado Nicanor de Paula, 60 anos, não foi para a escola na manhã desta segunda-feira (14). Dois dias antes, a menina de 5 anos cumprimentava o porteiro do colégio Ferreira Master, em Suzano (na Grande São Paulo), quando um assaltante apareceu armado. Era véspera do Dia das Mães, e as imagens da tentativa de assalto foram assunto nas redes sociais no final de semana.

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Antes de o ladrão ser alvejado por três tiros por uma PM que estava de folga e levava a filha à escola, a menina saiu correndo assustada e se escondeu atrás de uma caçamba ao lado da mãe. “Temos evitado o assunto em casa. Quando ela começa a contar, falamos de outra coisa para ver se ela esquece”, diz o avô. A menina foi passar o dia na casa de um parente “para quebrar a rotina”.

Assim como o aposentado, os professores da escola particular decidiram seguir a mesma estratégia para ajudar as crianças a lidar com a cena de violência. No início das aulas na manhã desta segunda, invariavelmente, o caso era tema de conversas entre os alunos do ensino fundamental. Professores foram orientados a cortar o assunto e argumentar que, quanto menos se falar, mais fácil esquecer o que aconteceu.

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A direção da escola pediu reforço no policiamento, mas informou aos pais que a PM se negou a deixar um carro oficial em frente ao portão por falta de veículos disponíveis. A Secretaria de Segurança Pública informou que irá disponibilizar uma viatura para fazer a segurança da porta da escola. Um carro da polícia, porém, passou três vezes em frente à escola no horário de entrada e saída de alunos, no fim da manhã desta segunda-feira.

Seguranças particulares foram contratados e montaram guarda na esquina. Psicólogos também foram acionados para conversar com as crianças no intervalo das aulas. Técnicos de uma empresa de segurança estiveram cedo na escola para instalar monitores de vigilância.

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Apesar das mudanças na rotina, os pais tentavam manter a normalidade ao levar as crianças para a aula. “Mostrei o vídeo para minha filha saber que a violência existe e não é exagero de mãe”, diz a servidora pública Rita Canton, 44 anos, sobre a conversa que teve com a filha de 9 anos sobre o assalto.

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A técnica de enfermagem Marta Arcangelo, 33 anos, preferiu buscar o filho de 12 anos na escola, em vez de deixá-lo voltar para casa sozinho de ônibus, como está acostumado. “Pedi licença no trabalho nesta semana para poder buscá-lo pelo menos nesta semana.”"

Entenda o que aconteceu

A PM Kátia Sastre estava acompanhada de sua filha de 7 anos quando reagiu ao assalto em frente à escola da menina, no bairro Jardim dos Ipês, em Suzano, na manhã do último sábado (12). A ocorrência ocorreu por volta das 8h. Mães e crianças pequenas aguardavam a abertura dos portões da escola particular Ferreira Master, que sediaria uma festa de Dia das Mães, quando foram abordadas por um rapaz com um revólver calibre 38, que anunciou o roubo.

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De folga, Kátia disparou três vezes contra o ladrão, identificado como Elivelton Neves Moreira, 21 anos. Ele caiu no chão e então foi desarmado. Ele foi encaminhado à Santa Casa da cidade, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.

No domingo (13), o governador de São Paulo, Márcio França (PSB), homenageou a cabo em evento no Comando de Policiamento de Área Metropolitana-4, na zona leste, onde entregou flores para cumprimentá-la pela “destreza, técnica e coragem”.

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“A gente não pode deixar de enaltecer toda a técnica que você usou nesse episódio, a maneira rápida que você agiu e, ao mesmo tempo, a coragem que você teve, porque poderia simplesmente se omitir naquela situação, pois estava de folga, à paisana”, afirmou França à policial.

A cabo, por sua vez, disse que agiu para “defender as mães, as crianças, a minha própria vida e a da minha filha”. “É gratificante por ter salvado vidas. A gente não sabe como seria o decorrer disso. É para isso que estamos nessa profissão, para defender as vidas, e foi o que eu fiz.”

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França foi criticado por especialistas em segurança pública pelo temor de que a homenagem possa passar mensagens equivocadas à tropa e à população – mesmo que a atitude da cabo tenha sido correta diante do risco no caso específico. Uma preocupação é que seja um incentivo às pessoas reagirem a assaltos – na contramão da orientação da polícia.

Outra é que a morte de ladrões seja vista pela corporação como algo incentivado pelo governo, após a escalada nos últimos anos do número de mortos pela polícia – alta de 10% em 2017, com 943 casos, recorde desde 2001.

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Nesta segunda), o governador disse que aquele que ofender a farda da Polícia Militar, ofender a integridade policial, está correndo risco de vida. Ele esteve em Araçatuba (a 540 km de SP) para assinar convênios e entregar unidades habitacionais na região.

“As pessoas têm que entender que a farda deles [PM] é sagrada, é a extensão da bandeira do Estado de São Paulo. Se você ofender a farda, ofender a integralidade do policial, você está correndo risco de vida. É assim que tem que ser”, afirmou o governador.