Os reflexos do quarto dia da greve dos caminhoneiros se espalharam por todo o Brasil, muito além dos pontos de bloqueio nas rodovias. E esses efeitos são variados. As ações da Petrobras caíram – no Brasil e no exterior. Foi preciso adotar uma solução “criativa” de escolta para garantir o abastecimento de combustível em aeroportos e empresas de ônibus. E há ainda os preços abusivos em postos de combustíveis, que podem gerar multas a empresas. Veja reflexos da greve dos caminhoneiros, que parou o Brasil.
Gasolina nas alturas
Muita gente correu para os postos de combustíveis para encher o tanque do carro. Essa procura causou uma alta no preço dos combustíveis – e em alguns casos esse aumento foi abusivo. No Recife, um posto chegou a vender a gasolina por R$ 8,99. O preço exorbitante chamou a atenção do Procon, que autuou o estabelecimento: ele foi multado em R$ 500 mil e fechado por 72 horas. Nesta quinta-feira (24), houve relatos de postos que chegaram a cobrar R$ 9,99 pelo litro da gasolina em Brasília, por exemplo. Quem for abastecer o carro e se deparar com um caso de cobrança abusiva pode se precaver. A advogada e diretora-geral do Procon-PR, Claudia Silvano, orienta os consumidores a pedirem a nota fiscal do serviço, com a discriminação do preço pago por litro e a quantidade abastecida. Com esse documento, qualquer pessoa pode registrar uma denúncia no órgão.
Sem água e sem luz
A Companhia de Água e Esgoto do Rio de Janeiro (Cedae) pediu nesta quinta-feira (24) que moradores do estado economizem água em razão de possível redução na produção causada pela greve de caminhoneiros. Em nota, a empresa disse que o estoque de produtos químicos usados no tratamento de água está se reduzindo, sem a reposição por parte dos fornecedores em razão da greve. “Devido aos bloqueios de carretas nas estradas em todo Brasil, o governo do estado e a Cedae estão em contato com os fornecedores de produtos químicos e órgãos competentes a fim de evitar que haja atrasos e interrupção no fornecimento dos mesmos e, dessa forma, visa garantir o tratamento de água nas estações operadas pela Companhia”, diz a nota. “No momento, a dificuldade de entrega está causando baixa no estoque dos produtos químicos. A Cedae permanecerá agindo para que suas atividades de produção continuem sem interrupção, no entanto, pede à população que economize água até que seja restabelecida a normalidade na entrega dos produtos químicos necessários e fundamentais ao tratamento”, afirma a empresa.
A Light afirmou na manhã desta quinta-feira (24) que vai restringir seus atendimentos de emergência apenas para serviços considerados essenciais. Segundo a concessionária, a medida foi tomada em razão da falta de combustível causada pela greve dos caminhoneiros, o que também afeta o deslocamento de seus agentes. O plano de contingência prevê o atendimento a serviços considerados essenciais (hospitais, delegacias e escolas -por exemplo) e emergenciais (que coloquem em risco a segurança de seus clientes).
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Hospitais em alerta
A Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (Fehospar) chamou a atenção da presidência da República, Câmara e Senado para a situação dos serviços de saúde, caso a greve continue. O temor da instituição é de que os hospitais fiquem sem o abastecimento de oxigênio, materiais, medicamentos e insumos em geral, como suprimentos para diálise. O recolhimento de lixo hospitalar também está comprometido.
Escolta de caminhão-tanque
Para garantir o abastecimento de combustível em aeroportos e empresas de ônibus, uma solução “criativa” foi adota em várias cidades: escolta de caminhão-tanque. Para garantir o abastecimento dos ônibus que fazem o transporte coletivo em Curitiba e região metropolitana, cerca de 20 viaturas da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Militar e da Guarda Municipal de Curitiba escoltaram caminhões-tanque que saíram da refinaria da Petrobras em Araucária até as garagens da empresa. Dessa forma, a cidade não precisou reduzir a frota de ônibus em operação, medida adotada em outras cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo. Na capital paulista, a prefeitura informou que entrou na Justiça contra os sindicatos das empresas de transporte de cargas e dos caminhoneiros autônomos.Os aeroportos de Brasília, Goiânia, Ilhéus, Recife e Teresina estão com restrição de combustível devido à greve. Em Congonhas, carros da Polícia Militar (PM) fizeram a escolta dos caminhões que levavam querosene de aviação para o terminal, o que garantiu combustível suficiente para operações até a noite de sexta-feira (25).
Falta comida e os preços sobem
Com a greve de caminhoneiros bloqueando estradas, há relatos de falta de alimentos em supermercados e centros de abastecimento por todo o país. Há 315 caminhões com alimentos perecíveis parados em estradas de Minas Gerais, Goiás, DF, Tocantins, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. O Ceagesp de São Paulo, o Ceasa do Rio de Janeiro, o Ceasa de Curitiba e a Feira de São Joaquim em Salvador relatam desabastecimentos de frutas e legumes. Na capital paranaense, a cena na manhã desta quinta-feira (24) era incomum: boxes sem produtos, nada do corre-corre de carregadores, muitos dos quais estavam de braços cruzados, e nenhuma fruta disponível. “Nunca vi uma crise igual. Caiu 80% das vendas. Não tem ninguém no Ceasa. Isso aqui era cheio”, conta o produtor Clóvis Nazaroff, de São José dos Pinhais, que só está conseguindo vender hortaliças. A Apras (Associação Paranaense de Supermercados) e a Agas (Associação Gaúcha de Supermercados) alertaram, em nota, para o risco de desabastecimento de alimentos perecíveis nos supermercados do Paraná e do Rio Grande do Sul. E esse desabastecimento ocasionou uma alta no preço de diversos produtos. O saco de batata que custava R$ 80 passou para R$ 150 - no supermercado, o quilo saltou para R$ 5, o dobro do preço normal. A cenoura e o tomate também dobraram de preço. Cenoura e tomate vêm de Rio Grande do Sul e São Paulo, respectivamente, e precisam passar por pontos interditados pelos caminhoneiros.
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Sem Brasileirão
A greve dos caminhoneiros poderá causar adiamento de jogos ou até mesmo de toda a rodada do Campeonato Brasileiro marcada para o próximo final de semana. Isso porque os aeroportos brasileiros estão com restrição para abastecimento de aeronaves e alguns voos já estão sendo cancelados, o que impacta diretamente na logística das viagens das equipes.
Ações da Petrobras em queda
A Petrobras decidiu reduzir o preço do diesel em 10% nas refinarias por um período de 15 dias, após um dia de muita pressão dos caminhoneiros. A medida foi mal recebida pelos investidores, que viram na decisão uma volta da ingerência política na empresa e um risco à gestão autônoma que vigora desde o início da gestão de Pedro Parente. Os ADRs, recibos de papéis da empresa que são negociados na Bolsa de Valores de Nova York, chegaram a cair 11,32%, para US$ 13,40, no chamado “after market” (período que sucede o horário regular do pregão). O anúncio sobre o diesel foi feito depois do fechamento das Bolsas. No pregão regular, as ADRs haviam recuado 3,76%, para US$ 15,11. No Brasil, os papéis da petroleira já haviam sido castigados pelo investidor, temerosos de eventuais consequências na Petrobras da paralisação dos caminhoneiros, que acabaram se confirmando às 19h, com o anúncio da redução dos preços do diesel.
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Sem avião
A restrição de combustível de aviação em alguns aeroportos do país, como resultado da greve de caminhoneiros, já tem levado ao cancelamento de voos. A companhia aérea Azul informou que cancelará algumas operações partindo das cidades de Belo Horizonte, Vitória, Recife, Belém, Natal, Goiânia, Palmas, Fernando de Noronha e Juazeiro do Norte. Para minimizar o impacto aos consumidores, a Azul disponibilizará a remarcação de bilhetes sem custo para quem tiver voos programados até o dia 31 de maio e deseje optar por datas alternativas à sua programação. Já a Latam Brasil ampliou a lista de aeroportos em que a companhia verifica restrições para operar: agora, são os de Brasília, Goiânia, Ilhéus, Recife, Teresina, Confins e Porto Alegre. Porém, a aérea afirma que a situação ainda não tem impactado seus voos. Conforme anunciado na quarta-feira (23) à noite, a Latam Brasil oferecerá isenção da cobrança de taxa de remarcação e das diferenças tarifárias da passagem para nova data à escolha do cliente e, sem multas, em voos domésticos com partidas, chegadas ou conexões programadas para os aeroportos onde há restrições de abastecimento de combustível de aviação. A Gol informa que ainda não registrou, até o momento, atrasos ou cancelamentos de seus voos. Apesar disso, a companhia destaca que está aplicando medidas de contingência em toda operação, “mantendo as ações necessárias para minimizar os impactos aos seus clientes”.
Agronegócio na berlinda
Desde que a greve dos caminhoneiros teve início, na última segunda-feira, diversas frentes do agronegócio vêm sofrendo consequências. O Porto de Paranaguá já fechou dois berços do Corredor de Exportação, produtores foram obrigados a jogar leite fora.
Coleta de lixo ameaçada
Em São Paulo, a prefeitura informou que não terá condições de fazer a coleta de resíduos nesta sexta-feira (25/05) e acionou na Justiça os sindicatos dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens e das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de São Paulo e Região. De acordo com o Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb), algumas empresas das grandes capitais ainda têm conseguido carga extra de diesel para prolongar a capacidade de atendimento à população, mas a situação se aproxima do limite. Em nota, o presidente da entidade, Marcio Matheus, detalhou que “em muitas capitais só há estoque suficiente para fazer o trabalho completo até esta sexta-feira. A situação não pode se estender mais ou teremos problemas ambientais e de saúde pública graves”.
Montadoras interrompem produção
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) informou nesta quinta-feira (24) que muitas fábricas já pararam suas linhas de montagem e que, se a greve continuar, todas as fábricas devem parar suas atividades. Entre as montadoras que já interromperam suas atividades estão Renault, Volvo, Honda, Nissan, Ford, Toyota, Peugeot e Fiat. Todas elas tiveram que parar por causa da falta de peças. Em nota, o presidente da Anfavea, Antonio Megale, afirma que a situação é preocupante. “Muitas fábricas já pararam suas linhas de montagem e, se a greve dos caminhoneiros continuar até o fim de semana, é certo que todas as fábricas pararão. Com isso, teremos uma queda na produção, nas vendas e nas exportações de veículos, tendo como consequência impacto direto na balança comercial brasileira e na arrecadação de tributos”. A instituição, porém, ainda não tem um balanço de quantas fábricas pararam as atividades e qual o impacto financeiro.
Ponto facultativo
O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, optou por decretar ponto facultativo nesta sexta-feira (25). A medida visa diminuir os impactos da paralisação dos caminhoneiros, que provocou o desabastecimento de combustível em postos pelo país. O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, acompanhou a decisão e também decretou ponto facultativo na capital mineira. A expectativa do governo mineiro é que, com a decisão, seja possível otimizar o uso de combustível para garantir o atendimento dos serviços de saúde e segurança pública em todo o estado.
Pode faltar remédio
Cálculos da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) apontam para uma carga de 6,3 milhões de medicamentos ameaçada de não chegar ao destino final. O volume atenderia, informa a associação, a 90% do território brasileiro e 2,4 milhões de consumidores. Ainda de acordo com a entidade, veículos foram apedrejados e motoristas agredidos ao longo do percurso entre os centros de distribuição e os pontos de venda. Em nota, a associação revelou preocupação com os medicamentos que precisam ser mantidos refrigerados, chamados termolábeis, e que com os veículos travados nas rodovias é impossível manter a temperatura necessária para a preservação de cada um desses itens. Já a Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp) solicitou às lideranças dos caminhoneiros que liberem cargas de gases medicinais (oxigênio, por exemplo) , medicamentos e outros insumos hospitalares. Representante de 104 hospitais privados em atuação em todos os estados do país informa que os hospitais associados e parceiros já detectam queda considerável dos estoques e que a falta de insumo nas instituições de saúde é questão de tempo.
EUA emitem alerta
Uma nota emitida pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos (equivalente ao Ministério de Relações Exteriores no Brasil) nesta quinta-feira recomenda que quem está de viagem marcada para o Brasil que faça um estoque de água e itens de uso doméstico, e pede ainda que chequem as condições de trânsito antes da viagem e contatem as companhias aéreas para confirmar voos, além de sugerir uma revisão dos planos pessoais de segurança. O órgão usou sua conta no Twitter para alertar aos americanos que têm viagem marcada para o Brasil.
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