Num pleito marcado pelo crescimento de candidaturas de direita, os cinco principais partidos de esquerda no país (PT, PCdoB, PSOL, PDT e PSB) elegeram 25% menos candidatos em relação a 2010, ano que marcou o auge da representatividade dessas siglas nas urnas.
Levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo mostra que, em 2018, a esquerda levou 393 nomes para governos estaduais, Câmara Federal, Senado e Assembleias Legislativas nos estados. Em 2010 (último ano do governo Lula), esse número havia batido em 527. Em 2002, foram 453 eleitos; em 2006, foram 424; e em 2014, foram 406. Ou seja, 2018 marca a pior representação da esquerda em 16 anos, desde a histórica campanha que conduziu Lula à Presidência da República, em 2002.
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O PT foi o partido com mais redução no período: neste ano, elegeu 149 nomes para cargos no Executivo e no Legislativo, 41% menos comparado a 2010, quando fez 255. Os resultados das urnas mostram que a eleição neste ano foi marcada por forte sentimento antipetista dos eleitores.
Já o PSB caiu de 118 para 101; o PDT, de 107 para 84, e o PCdoB, de 34 para 31. Entre os partidos de esquerda no país, só o PSOL cresceu em número de representantes. Passou de dez eleitos, em 2010, para 28 neste ano.
Onda conservadora é uma das explicações
Para a cientista política Vera Chaia, da PUC-SP, o resultado nas urnas está ligado ao crescimento da oposição ao PT e ao surgimento de uma “onda conservadora” que começou a tomar forma depois das manifestações de rua de 2013. “Ela já existia antes, mas é a partir de 2013 que surge a possibilidade de ela se manifestar. A pauta dessa nova direita, conservadora nos costumes, faz com que o eleitorado se identifique com ela”, afirmou.
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No Congresso, com número de cadeiras insuficiente para barrar, por exemplo, emendas à Constituição – que exigem aprovação de três a cada cinco dos parlamentares –, o desafio da esquerda na oposição será tentar colar a imagem de impopular no próximo governo. Na avaliação de analistas, mesmo com a maior bancada, o PT terá dificuldades para influenciar decisões no Legislativo, caso o presidente eleito Jair Bolsonaro tenha sucesso em organizar sua base.
“O que a esquerda vai fazer é chamar atenção para a agenda do novo governo, tentando demonstrar que ela está mais sintonizada com interesses dos mais ricos, do mercado, e menos com o da população”, diz o analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz.
Por outro lado, o ônus de qualquer derrota no Congresso ficará com o Planalto, o que pode beneficiar a esquerda. “A oposição não poderia ser responsabilizada por eventual fracasso do governo porque é ele que tem a maioria.”
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Queiroz vê um cenário mais favorável à oposição no Senado, onde a fragmentação partidária e o maior número de parlamentares de centro pode facilitar a disputa por votos. “(A oposição) vai buscar se compor com o centro no Senado para derrotar o governo ou, pelo menos, para amenizar os efeitos mais duros das propostas, torná-la mais palatável para os eleitores.”
E nos municípios, como está a situação?
Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram também uma queda no número de eleitos desses partidos para Câmaras municipais e prefeituras. Em 2012, o auge da esquerda nas eleições municipais, essas siglas conseguiram eleger 14,8 mil candidatos em todo o país. Em 2016, ano do impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, foram 12,3 mil – queda de quase 10% no número de eleitos.
O líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta (RS), minimiza as baixas e afirmou que o Brasil vive um processo de desconstrução da política e, neste sentido, os partidos políticos tradicionais teriam sido os mais atingidos por esse processo. Pimenta afirma ainda que o Brasil vive um momento de “criminalização” da política, que, segundo o deputado, seria causada pela Operação Lava Jato e “por parte do Judiciário”.
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