Uma pesquisa inédita feita por universidades, e que ouviu 141 parlamentares, concluiu que o Ministério das Cidades é o mais cobiçado da Esplanada. Talvez não seja difícil a explicação. Essa é a área que cuida de fazer pontes, calçadas, casas, saneamento, terminais de ônibus e metrô, anel rodoviário e estradas, entre outras vistosas atribuições. Em português claro, é o ministério mais eleitoreiro que existe.
A Cidades funciona como um cabo eleitoral. Deputados adoram levar seus prefeitos ao gabinete do ministro dessa Pasta, gravar um vídeo com ele garantindo a obra em seus municípios e exibir as imagens fartamente. E, depois, a inauguração. Todos se promovem.
Um exemplo: nas suas redes sociais, o ministro das Cidades, Alexandre Baldy, posta quase que diariamente agenda com inauguração de obras. Várias no seu estado, em Goiás. Ele é deputado federal pelo PP e candidato à reeleição. Há até produção de pequenos vídeos que lembram peça de campanha, com imagens, discursos e fundo musical. Na abertura, as letras garrafais anunciam: "Ministro Baldy inaugura obras", "Baldy viabiliza R$ 300 milhões para municípios goianos", "Baldy garante R$ 49 milhões para Goiás". Há vídeos de atos em municípios de outros estados também, mas os de Goiás são recorrentes.
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"Fico extremamente honrado por ter tido a oportunidade de empreender forças e participar da luta para a retomada de obras do BRT Norte Sul de Goiânia. Uma obra que irá beneficiar mais de 120 mil pessoas todos os dias em Goiânia e Região Metropolitana", discursou Baldy em solenidade no Palácio do Planalto, em ato postado por ele no último dia 16.
Baldy assumiu o ministério em 22 de novembro de 2017. Recentemente, ao completar 100 dias à frente da Pasta, um vídeo, direcionado para sua base eleitoral, enaltecia os benefícios que levou para seu estado. Diz o locutor: "O deputado goiano Alexandre Baldy completou m cem dias no cargo. Neste período, Baldy garantiu R$ 225 milhões para obras de urbanização e moradia. Nunca o estado de Goiás recebeu tantos recursos do PAC Urbanização e do Minha Casa Minha Vida".
O ministério das Cidades já esteve nas mãos do PSD. Durante um ano e três meses, até abril de 2016, Gilberto Kassab, hoje ministro da Ciência e Tecnologia, ocupava a Pasta. No governo Michel Temer, a legenda perdeu a Cidades, e lamentou.
"Foi a pior burrice que fizemos. Não devíamos ter aceitado. Para que serve o Ministério da Ciência e Tecnologia? O Ministério das Cidades sim, era uma vitrine", disse um deputado do PSD, que pediu para não ser identificado.
O orçamento desse ministério para 2018 é de R$ 10,1 bilhões. Além de questões urbanas, de mobilidade e saneamento o Ministério das Cidades cuida de programas como o Internet Para Todos e tem sob seu guarda-chuva o Departamento Nacional de Trânsito, o Denatran, que baixa todas resoluções e portarias normatizando regras para motoristas e veículos no país.
A pesquisa que apontou o Ministério das Cidades como o mais cobiçado foi realizada pela professores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, Fundação Getulio Vargas (FGV) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O ranking mostrou quais são os ministérios mais valiosos pelos deputados – Cidades, Planejamento, Fazenda, Casa Civil, Educação, Minas e Energia e Saúde –, mas também apresentou os de interesse quase zero por políticos, casos do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, Direitos Humanos, Esportes, Turismo e Cultura.
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