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Paulo Guedes, ministro da Economia | Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Paulo Guedes, ministro da Economia| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Com uma “bomba nuclear” preparada para aprovar a reforma da Previdência e com um estilo “trator” no relacionamento com parlamentares e membros do governo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, começa a sua imersão no mundo da política. Ele já se envolveu em polêmicas com empresários, políticos e ministros, viu o governo bater cabeça sobre aumento de impostos, costurou acordos para que os mal-entendidos fossem desfeitos e traçou estratégias para implementar sua agenda liberal e reformista. Tudo isso em poucas semanas de governo, incluindo o período de transição, mostrando que não está em Brasília a passeio.

O estilo “trator” ficou bem claro já em seu discurso de posse, na cerimônia de transmissão de cargo. Em quase uma hora de fala, sem texto pronto, apenas com um roteiro em um papel A4, o ministro criticou governo anteriores e ex-ministros da Fazenda e atacou políticos e os chamados “amigos do rei”. “Piratas privados, burocratas corruptos e criaturas do pântano político se associaram contra o povo brasileiro”, afirmou.

Ele também deu a receita para que o país volte a crescer: uma aliança de centro-direita em torno de um programa econômico liberal. E convocou imprensa e sociedade a abraçarem esse projeto, começando pela principal e mais importante reforma: a da Previdência. Mas avisou que, se o texto não passar, tem um plano B: desindexar e desvincular o Orçamento, propondo a chamada PEC do Pacto Federativo, que fará com que os políticos assumam a responsabilidade sobre o controle dos gastos. “A classe política é criticada por ter muitos privilégios e poucas atribuições”, disse. “O bonito é que se isso (a reforma da Previdência) der errado, pode dar certo”, completou.

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Nas primeiras semanas como ministro:

1. Bate cabeça sobre IOF

E os primeiros dias de Guedes como ministro foram tão fortes quanto seu discurso. Já na primeira semana, o governo bateu cabeça sobre mudanças em impostos. O presidente Bolsonaro anunciou que, para compensar a prorrogação dos incentivos fiscais a empresas instaladas nas regiões Norte (Sudam) e Nordeste (Sudene), teria assinado um decreto aumentando o Imposto sobre Transações Financeiras (IOF). E que, para diminuir o impacto dessa alta, Paulo Guedes anunciaria uma redução no Imposto de Renda.

Horas depois, Bolsonaro foi desmentido por Marcos Cintra, secretário da Receita, e por Onyx Lorenzoni, ministro chefe da Casa Civil. Eles afirmaram que o presidente cometeu um “equívoco” e que o IOF não seria alterado e que mudanças no IR, no momento, não são prioridade. O vai-e-vém levantou a discussão: quem falou em aumentar o IOF para Bolsonaro? E por que voltaram atrás? O ministro da Economia, em nenhum momento, deu declaração pública sobre o caso.

Segundo apurou o Estadão, o próprio Guedes teria topado aumentar o imposto para compensar o subsídio do Sudam e do Sudene. O jornal também apurou que o ministro não teria barrado a prorrogação do subsídio para não se indispor com parlamentares das regiões Norte e Nordeste, bancada que será necessária para conseguir a aprovação da reforma da Previdência.

Só que o possível aumento do IOF, que chegou a ser anunciado por Bolsonaro, caiu como uma ‘bomba’ no governo. O núcleo político, ainda segundo o Estadão, fez questão de fazer o presidente voltar atrás. A situação foi interpretada como um embate entre Onyx e Guedes, com o ministro da Casa Civil saindo vencedor.

2. Divergências sobre reforma da Previdência

E o IOF não teria sido o primeiro ponto de discórdia entre Onyx e Paulo Guedes. Os dois já deram declarações contraditórias sobre a reforma da Previdência. Enquanto o ministro da Economia defende uma reforma ampla, reduzindo privilégios e adotando um sistema de capitalização para quem entra no mercado de trabalho, o chefe da Casa Civil quer uma reforma mais branda, mais fácil de ser aprovada no Congresso. Onyx também demonstrou não ter pressa para aprovar o texto, o oposto de Guedes.

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O chefe da Casa Civil estaria, ainda, incomodado com o fato de a equipe econômica estar articulando a aprovação da reforma. Guedes trouxe o deputado federal não eleito Rogério Marinho para ser seu Secretário Especial de Previdência, justamente para que ele faça a ponte com os deputados e senadores. Marinho foi o relator da reforma trabalhista do governo Temer.

3. Conciliação com Onyx

Para afastar as notícias de embate, na segunda-feira passada (7), Guedes foi até o Palácio do Planalto almoçar com Onyx. Depois, divulgaram uma foto dos dois juntos e alinharam o discurso sobre a proposta em estudo da reforma da Previdência. Lado a lado, disseram que a reforma vai ser única, abrangente e com regime de capitalização, como sempre quis Paulo Guedes.

No mesmo dia, durante as cerimônias de posse dos presidentes dos bancos públicos, Guedes fez questão de dizer que não há divergências na equipe de governo. “Todo mundo acha que tem uma discussão entre nós, uma briga. Nós somos uma equipe muito, muito sintonizada”, afirmou ao se referir a Onyx.

Bolsonaro também entrou no clima de conciliação e garantiu a autonomia de seu ministro da Economia. “O ministro [Guedes] teve a liberdade de escolher todo seu primeiro escalão, sem qualquer interferência política. (...) Acredito nessa equipe conduzida por Paulo Guedes para guiar o nosso destino”, disse na posse dos presidentes dos bancos públicos, onde também estavam Onyx e Guedes.

Período de transição já havia sido agitado

Se os primeiros dez dias de Guedes ministro foram agitados, uma amostra já tinha acontecido durante a época de transição de governo. O ministro se encontrou com Eunício Oliveira, senador não reeleito e presidente da Casa até o fim de janeiro, no início de novembro. No encontro, Guedes teria pressionado Eunício para aprovar a reforma da Previdência de Temer ainda em 2018, segundo o divulgou o próprio senador.

A prensa não foi bem recebida pelo chefe do Senado, que em 24 horas pautou duas pautas-bomba: reajuste para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e Rota 2030, programa de incentivos a montadoras válido por 12 anos. Ambas as pautas foram aprovadas e o resultado foi visto como o primeiro revés político de Guedes.

O desentendimento, porém, não durou muito tempo. Os dois se encontraram na semana seguinte e, logo após a conversa, Eunício disse que as rugas estavam desfeitas.

E não foi somente com políticos que Guedes bateu cabeça. Em um evento em dezembro na Firjan, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, com uma plateia lotada de empresários, o ministro falou que ia “meter a faca” no Sistema S, cortando recursos do sistema, que funciona como uma espécie de sindicato das indústrias.

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Antes, já havia falado que ia cortar subsídios ao setor produtivo, porque, na sua visão, muitos empresários se viciaram na ajuda governamental. A representação disso seria o ministério da Indústria e Comércio Exterior, uma “trincheira da primeira guerra mundial” na defesa de protecionismo, nas palavras do ministro. A pasta acabou sendo extinta e suas funções incorporadas no ministério da Economia.

Estratégia para aprovar reformas reflete estilo Guedes de ser

O estilo “trator” de Paulo Guedes é visto não somente em suas falas e ações: é refletido em sua estratégia para implementar sua agenda liberal e reformista. O ministro falou claramente em seu discurso de posse que, se a reforma da Previdência não passar, vai colocar parte da responsabilidade do Orçamento nas mãos dos governadores e prefeitos. O plano B foi visto como um recado à classe política e uma estratégia para colocar em prática a promessa de “Mais Brasil, menos Brasília”.

Outro plano traço por Guedes, segundo a revista Época, é apelidada de “bomba nuclear” ou botão vermelho”. A matéria de capa da revista do último fim de semana conta que o ministro teria dito a interlocutores que, para aprovar a reforma da Previdência, vai propor que o presidente apresente um projeto para pôr fim à reeleição para cargos majoritários. E que Bolsonaro já teria dado o aval para a estratégia. A ideia seria usar o fim da reeleição como moeda de troca para conquistar votos favoráveis à reforma da Previdência.

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