Vista do Brasil, a Lava Jato parece cada vez mais um tigre que está ficando banguela. Não é essa, porém, a visão a partir dos EUA. “O que ocorre no Brasil está mudando o modo como olhamos os negócios e a corrupção no mundo inteiro”, diz George Ren McEachern, 44, que integrou até dezembro o Esquadrão de Corrupção Internacional do FBI, a polícia federal dos EUA.
McEachern, agora atuando na área de ética e conformidade em empresas, é otimista sobre o futuro das companhias que foram investigadas e do Brasil. A apuração de corrupção pode custar empregos, “mas a longo prazo gera negócios muito mais sustentáveis”, disse durante passagem por São Paulo, onde participou de um evento do ICC (Câmara Internacional de Comércio).
Qual a melhor medida a ser adotada para evitar corrupção em negócios públicos?
Você tem de fazer investigações em torno dos executivos que gerenciam a obra, assinam contratos e controlam o dinheiro. Também tem de fazer isso com as pessoas que têm relações com as empresas contratadas pela companhia que faz a obra porque pode haver conflitos de interesse e esses conflitos são inaceitáveis. Você tem de conhecer o risco das companhias com as quais trabalha. Ao mesmo tempo a equipe com que você trabalha precisa saber que regra não é para ficar no papel, é para ser aplicada.
Empresas privadas têm função no combate à corrupção ou é ingênuo acreditar nisso, afinal elas buscam o lucro?
As companhias privadas têm muita responsabilidade: elas podem estabelecer padrões, adotar as melhoras práticas, podem mostrar que ser correto é a melhor mensagem que você manda para os investidores. E muito investidores nos EUA buscam companhias que seguem as regras porque essas companhias têm vida longa e crescimento real.
Não há conflito entre ética e lucro?
Não. Nós sabemos que há muitas empresas fazendo a coisa certa todo dia e isso é um bom negócio a longo prazo. As pessoas finalmente estão percebendo isso. Essa é uma nova e importante tendência: não há custos extras em fazer a coisa certa.
Em 2004, a Operação Lava Jato adotou uma estratégia de choque para atacar a corrupção. O sr. acredita nesse tipo de estratégia ou seria melhor uma abordagem mais gradual?
O que aconteceu em Curitiba em 2014, seja uma explosão ou outra coisa, tinha de acontecer porque o Brasil estava pronto [para enfrentar a corrupção]. As pessoas tiveram coragem de aprofundar e fazer algo que está mudando não só o país, mas o mundo.
O mundo?
Eu realmente acredito nisso. O que ocorre no Brasil está mudando o modo como olhamos os negócios e a corrupção no mundo inteiro. Para que isso aconteça você precisa de uma explosão. Entretanto, quando a explosão ocorre você tem complexas investigações contra organizações muito espertas. E aí a explosão não basta. Você precisa de energia contínua, de estratégia. Curitiba mandou a mensagem de que o Brasil está ficando limpo.
Uma série de empresas investigadas na Lava Jato passam por problemas econômicos sérios e muitos culpam a operação. Dá para apurar corrupção e preservar as empresas?
Duas coisas aconteceram: o Brasil estava envolvido em grandes casos de corrupção ao mesmo tempo em que havia grandes incertezas econômicas. Corrupção não é um problema só do Brasil, é uma questão global e não dá para estabelecer uma relação de causa e efeito [entre investigação de corrupção e problemas econômicos]. Eu não estou julgando as perdas aqui no Brasil. O Brasil tem de descobrir o que é melhor para o Brasil. Porque antes o sistema não funcionava bem. Combater a corrupção pode ser doloroso, mas é mais doloroso quando a corrupção persiste, cresce e nunca acaba. Há muitos exemplos no mundo. Já o Brasil parece agora ter um futuro brilhante pela frente. Combater a corrupção pode custar alguns empregos no começo. Mas a longo prazo gera negócios muito mais sustentáveis.
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