O ex-procurador Marcello Miller afirmou em depoimento na CPI da JBS que “fez uma lambança” ao ter participado das negociações de acordo de delação premiada e leniência da empresa e dos executivos.
Ele se defendeu de acusações e disse que não cometeu crime, mas admitiu ter atuado na defesa dos irmãos Joesley e Wesley Batista antes de ter deixado oficialmente o Ministério Público.
“Eu não cometi crimes. Eu não cometi nenhum crime. Eu fiz uma lambança, e é por isso que eu estou aqui”, afirmou Miller, nesta quarta-feira (29).
O ex-procurador é um dos principais personagens da polêmica que provocou a suspensão de acordos de dois delatores da JBS.
Ele atribui a “lambança” ao fato de não ter medido as interpretações que poderiam vir do fato de ele ter participado antes da exoneração.
“Eu acho que o que aconteceu foi o seguinte: ao refletir sobre a situação, analisei que não havia crime e não havia ato de impropriedade, mas não me atentei para as interpretações que poderia suscitar. Não me atentei”.
O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot chegou a pedir sua prisão. O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin, relator do caso, não concedeu. A PGR (Procuradoria Geral da República) nunca recorreu.
Os acordos de Joesley Batista e Ricardo Saud estão suspensos. Eles estão presos desde o começo de setembro.
Miller afirmou à CPI que considera não ter traído o Ministério Público.
“Eu não trai o Ministério Público, de jeito nenhum. Isso não aconteceu. De fato, eu comecei a ter contato com a JBS antes da exoneração. Foi quando comecei a ter diálogo, respondia perguntas, refletia sobre o caso, não estou negando nada disso. Tudo que eu incentivava a fazer era o que eu faria se tivesse no exercício de alguma atribuição. Eu estava incentivando eles a falarem a verdade”, afirmou.
Participação
A quebra do sigilo de e-mail de Miller revelou que ele tinha em sua caixa de mensagens um roteiro com orientações sobre como os executivos e advogados da JBS deveriam se portar para fechar o acordo de delação, como revelou a reportagem no início deste mês.
Antes, logo que o caso foi levantado, após a delação da empresa se tornar pública, tanto a PGR quanto Miller negavam que havia tido alguma ajuda no processo.
Em depoimento à PF, o ex-procurador havia dito ajudou para não ser “descortês”, mas que havia feito somente reparos “linguísticos e gramaticais” a uma espécie de esboço de um primeiro documento do delator Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais do grupo comandando pelos irmãos Joesley e Wesley Batista.
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