Moradores de favelas alvos de operação das Forças Armadas nesta sexta-feira (23), no Rio de Janeiro, estão tendo seus rostos e RGs fotografados pelos soldados que atuam desde a madrugada na Vila Kennedy, Vila Aliança e Coreia, todas na zona oeste da cidade. A operação conjunta do Exército com as forças policiais do estado conta com 3.200 militares, que fazem cerco às favelas.
As pessoas só podem deixar suas regiões após passarem pelo cadastramento das Forças Armadas. Diferentes pontos de identificação foram montados em diversas saídas das comunidades. A foto e o RG dos moradores são enviados por um aplicativo para um setor de inteligência das forças de segurança, que avalia se o identificado tem antecedente criminal.
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De acordo com o Comando Militar do Leste (CML), a atuação dos soldados é “legal” e feita regularmente. “Trata-se de um procedimento feito regularmente, legal, cuja finalidade é agilizar a checagem de dados junto aos bancos de dados da Secretaria de Segurança”, explicou o coronel Carlos Frederico Cinelli, chefe da comunicação social do CML. “Uma vez enviada para o sistema da Polícia Civil, a foto é deletada.”
Segundo Cinelli, a checagem através das fotos visa causar “menos transtorno” às pessoas. “Caso não fosse feita assim, essa checagem demandaria muito mais tempo e transtorno ao cidadão”, considerou. “A checagem é feita quanto a mandados de busca em aberto e consulta à ficha de antecedentes criminais.”
O coronel esclareceu ainda que a medida é autorizada pelo decreto da Garantida de Lei e da Ordem (GLO). “O procedimento está amparado pelo decreto de GLO, que faculta a realização de inspeções e revistas no âmbito de uma operação desta natureza”, afirmou Cinelli.
O pedreiro Edvan Silva Monteiro, 47 anos, reclamou da abordagem dos militares. Pouco antes do meio-dia, ele voltava para a Vila Kennedy após ter perdido o dia de trabalho. Monteiro disse que foi obrigado a voltar para sua casa pelos militares já que estava sem documento ao tentar deixar a comunidade pela manhã.
“Estava saindo pro serviço apenas com a marmita, e o pessoal do Exército disse que precisava ver meus documentos. Ao voltar para casa, acabei me atrasando e fui dispensando por meu patrão pelo atraso”, afirmou o pedreiro, acrescentando que foi fotografado com e sem boné pelos soldados do Exército.
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A operação nas favelas da zona oeste ocorre dois dias depois que o subcomandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Vila Kennedy, Guilherme Lopes da Cruz, de 26 anos, foi morto ao reagir a uma tentativa de roubo. Na terça, o sargento do Exército Bruno Cazuca também foi morto na zona oeste ao reagir a um assalto.
Nesta quinta (22), o presidente da OAB-RJ, Felipe Santa Cruz, anunciou os integrantes de uma comissão que acompanhará o trabalho dos militares no Rio. Na solenidade, ele disse que a OAB não aceita “a ideia de criminalizar a pobreza dessa cidade” e cobrou que a intervenção “montada às pressas precisa ter conteúdo”.
O decreto assinado pelo presidente Michel Temer no dia 16 nomeou o general Walter Souza Braga Netto como interventor federal na segurança pública o Estado até dezembro. Na próxima semana, o militar vai anunciar os novos comandantes das polícias do Rio.
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