Com o agravamento da crise política e econômica da Venezuela, a população de Roraima voltou a conviver com o medo de ficar no escuro. O estado é a única unidade federativa do Brasil não ligada ao sistema elétrico nacional e, por isso, depende parcialmente da energia vinda do país vizinho. O governo de Roraima teme que o fornecimento seja interrompido ou que os apagões fiquem ainda mais frequentes e cobra uma solução definitiva do governo federal para reduzir a dependência de importação de energia.
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O tema será abordado em reunião do Conselho de Defesa Nacional, convocada pelo presidente Jair Bolsonaro para as 17 horas desta quarta-feira (27).
O governador do estado, Antônio Denarium (PSL), afirmou em coletiva no último domingo (24) que os apagões estão ficando diários desde que a crise na Venezuela se agravou. “Sofremos cortes diários de energia elétrica", disse em coletiva de imprensa. Segundo dados da Roraima Energia, a companhia elétrica do estado, somente nestes dois primeiros meses do ano foram registrados 12 blecautes (dados até segunda-feira, dia 25).
A rotina de apagões é intensa desde o ano passado. Em 2018, foram 83 blecautes, contra 34 no ano anterior, um aumento de 144%. Entre as explicações para a alta está a falta de manutenção das linhas de transmissão do lado venezuelano, país que vê a sua crise política e econômica se agravar.
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Por que Roraima depende da Venezuela?
Ainda segundo dados da Roraima Energia, a demanda energética do estado é de 215 megawatt (MW). Do total, 60% são supridos pela geração vinda da Venezuela. Os outros 40% são supridos por termelétricas brasileiras. São 12 municípios, incluindo a capital (Boa Vista), que dependem da energia da Venezuela.
Isso acontece porque Roraima é o único estado brasileiro não conectado ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Ele depende de geração de termelétrica nacional, que não é ideal, já que é uma energia cara e poluente (óleo diesel), e principalmente da energia importada da Venezuela.
A importação começou a partir de 2001, com a criação do Linhão de Guri. Trata-se de uma parceria entre Brasil e Venezuela em que foi construída uma linha de transmissão de 706 quilômetros de extensão ligando Boa Vista ao complexo hidrelétrico de Guri/Macaguá, em Puerto Ordaz, na Venezuela. É desse complexo que vem a energia transmitida pelo Linhão do Guri até chegar a Boa Vista e ser distribuída para o restante do estado.
A opção pela importação se deu porque a demanda por energia em Roraima era crescente e não seria mais possível abastecer todo o estado somente com a termelétrica nacional. Além disso, o custo da energia importada da Venezuela é menor do que a produzida pela termelétrica.
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Só que com as crises no país vizinho, Roraima passou a viver com ameaças políticas de interrupção de energia e com blecautes, devido à falta de manutenção, uma responsabilidade da Corpoelec, a estatal de energia venezuelana que fornece para o estado brasileiro. O contrato de importação é de até 200 MW de energia e vai até 2021.
“A oferta de energia em Roraima ela já está de baixa qualidade há um tempo. Porque mesmo essa energia que vem da Venezuela, ela vem vindo em menor qualidade porque a Venezuela, com todos os problemas econômicos que o país vive, ela não está investindo na qualidade da energia e na manutenção da linha”, diz Adriano Pires, sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE) e ex-diretor da ANP.
Ronaldo Bicalho, pesquisador do Grupo de Economia da Energia da UFRJ, explica que a estratégia de integração energética com países vizinhos é válida. Um exemplo bem sucedido é Usina Hidrelétrica de Itaipu, que pertence ao Brasil e ao Paraguai. “Se você for pensar em solução econômica, é melhor mesmo (para Roraima) importar energia (da Venezuela). Sai mais barato que construir uma linha”, diz Bicalho.
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A questão é que a Venezuela se tornou um país em crise e você não tem mais confiabilidade do fornecimento. O estado de Roraima também não é ligado ao SIN, o que dificulta soluções quando há problemas na importação.
Qual a solução para o caso de Roraima?
Curto prazo
Em curtíssimo prazo, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o Ministério de Minas e Energia (MME) negam que haja risco de desabastecimento. Eles afirmam que o parque térmico de Roraima já possui capacidade para suprir 217 MW de energia, a demanda do estado, e que só não faz isso por questão de custo. Também dizem que 2013 há estoque de energia.
“Desde 2013 o MME tem autorizado a distribuidora local a instalar geração térmica de backup com o objetivo de atender o total das cargas mesmo sem a Venezuela”, diz nota do MME. “O estado tem uma autonomia de tancagem de 10 dias para um consumo diário de 1 milhão de metros cúbicos de óleo, considerando 100% do fornecimento sendo suprido pelas térmicas”, completa a Aneel.
Pires avalia, porém, que as soluções de curto de curto prazo serão apenas para fornecer “o mínimo” necessário de energia para que a situação não fique caótica. “Solução de curto prazo praticamente não existe. É a gente torcer para (Nicolás) Maduro não cortar a energia. O que a gente vai fazer (se a importação for interrompida) é um teste para ver se essas térmicas a diesel que têm lá hoje em Roraima conseguem atender minimamente a população.”
Médio prazo
Em médio prazo, o ministério afirma que está prevista a ampliação do parque térmico para atendimento à demanda prevista para o ano 2019, incluindo reserva operativa. O objetivo é justamente ter estoque para evitar desabastecimentos.
Também está previsto para este semestre um leilão com o objetivo de substituir os atuais contratos de geração térmica por fontes renováveis e gás natural. A entrega, porém, só se dará em 2021 e trata-se apenas de um leilão de contratação de energia.
Pires diz que o ideal, para o médio prazo, seria a construção de uma nova usina a gás natural.
Longo prazo
Já a solução apontada como definitiva é a ligação de Roraima ao sistema elétrico nacional com a construção do linhão de Tucuruí. Isso já foi planejado lá em 2011, durante o governo Dilma Rousseff. Só que essa proposta ainda não saiu do papel.
O linhão vai ligar Manaus, no Amazonas, a Boa Vista, em Roraima. Serão, ao todo, 721 quilômetros. Com isso, permitirá que Roraima tenha acesso ao sistema nacional de energia e não fique mais dependente da Venezuela.
O projeto foi licitado em 2011, ao custo de R$ 1,1 bilhão, mas ainda não foi construído porque a vencedora do certame, a Trasnorte, não obteve as licenças ambientais necessárias. Parte do projeto do linhão do Tucuruí (123 quilômetros) passa pela reserva indígena dos waimiri-atroari.
O MME trabalha para que esse projeto saia do papel, pois considera “a solução estratégica” para suprimento de energia no estado de Roraima. O Planalto, segundo Denarium, também tem se mobilizado para ajudar a encontrar uma solução para a construção do linhão do Tucuruí. A reunião desta quarta-feira no Planalto vai tentar encontrar a saída para o caso.
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