Depois de tantas idas e vindas, manifestações de otimismo e oscilações no mercado, a reforma da Previdência ganhou um destino: 2018. E a chance de ser votada este ano teve um fim melancólico, com caciques do governo batendo cabeça e até fogo amigo. O fator que levou a votação à bancarrota tem nome e sobrenome: o senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Congresso. Numa declaração, com 17 palavras, Jucá detonou as negociações de meses, ainda que o desfecho não tenha surpreendido.
"O melhor é esperar mais alguns dias para ser votada. Ou em fevereiro ou numa convocação extraordinária", disse o senador no meio da tarde desta quarta-feira (13).
Pronto. O mundo caiu e os líderes governistas na Câmara, pegos de supetão, tentaram remendar a história. Foram para cima de Jucá e dispararam ligações para o Palácio do Planalto. O senador disse que o adiamento havia sido fruto de uma conversa entre os presidentes Michel Temer, Eunício Oliveira (do Senado) e Rodrigo Maia (Câmara).
"A declaração do Jucá foi uma surpresa até para o presidente Temer. Não tem nenhum cabimento. Não é o líder do governo no Senado quem vai ditar as regras na Câmara. Vamos votar esre ano", disse Beto Mansur (PRB-SP), um dos vice-líderes do governo na Câmara.
Até mesmo o pacífico e sereno líder do governo na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), subiu o tom e, depois de tentar colocar panos quentes, mostrou sua contrariedade com Jucá. "Foi só um ruído. Não vamos supervalorizar o que não tem valor", disse.
Os dois movimentos de Rodrigo Maia
Em cinco minutos, Rodrigo Maia fez duas sinalizações. Primeiro, deixou a presidência dos trabalhos no plenário e, ao seguir para o seu gabinete, rebateu Jucá. "Não fiz acordo com ninguém. O Jucá pode ter falado pelo governo. Vou conversar com o presidente Temer ainda", disse Maia.
Alguns minutos depois, quando retornou ao plenário com a impressão de que conversou com o Planalto, Maia anuncia que o texto do relator Arthur Maia (PPS-BA) será lido nesta quinta (14), dando início à tramitação da reforma na Câmara. Mas admitiu que a votação pode ficar para fevereiro.
Para encerrar essa frustrada tentativa de votar a reforma, o relator afirmou que as palavras de Jucá foram apenas "mera declaração". E exaltou o passo dado que será a leitura do seu texto. "É importante iniciar a discussão. É o início da votação", disse Arthur Maia.
Em comum entre todos esses governistas é a convicção de que se conquista mais votos pró-reforma da Previdência a cada dia e que há uma adesão da sociedade ao tema com propaganda na TV. Mas faltou coragem para levar a proposta a voto.
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