O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o prefeito de São Paulo João Doria protagonizaram um bate-boca público que causou constrangimento no ninho tucano. FHC sugeriu durante palestra para convidados de um laboratório de medicina diagnóstica, na capital paulista, que Doria faz mais publicidade do seu governo do que ações concretas.
Fernando Henrique fazia uma análise sobre políticos modernos e o uso da tecnologia quando deu a seguinte declaração: “Isso aqui está no meu bolso [celular], não está na minha alma. O mundo hoje tem isso aqui na alma. Pega qualquer um. Por que o prefeito de São Paulo está fazendo algum sucesso? Ele [se dedica] para isso o dia inteiro. Ele fez, mudou alguma coisa? Não vi. Mas aqui ele sabe”, disse.
FHC, que é presidente de honra do PSDB, afirmou que o partido precisa fazer logo a escolha de quem vai concorrer às eleições de 2018. Para ele, essa pessoa tem que ter capacidade de dialogar com o país e as instituições. Nesse sentido, defendeu um movimento de centro, como registrado na França com a eleição do presidente Emmanuel Macron, cujas características são a jovialidade e pensamento liberal progressista – algo que possa ser visto em Doria.
“Não estou propondo que seja ele [o candidato], não, mas acho que precisamos mudar de geração. Para poder fazer frente a esse mundo novo, precisamos de outra cabeça, outra geração, pessoas que possam se comunicar com os mais jovens e de maneira mais atualizada.”
Em Miami (EUA), onde participou de uma conferência de prefeitos americanos, Doria rebateu a crítica do ex-presidente. “Respeito muito o presidente FHC, mas acho que ele está precisando sair um pouco de seu apartamento e visitar São Paulo”, disse.
Essa não é a primeira vez que o ex-presidente e o prefeito se estranham em público. Em março, FHC criticou indiretamente a possibilidade de Doria concorrer à Presidência. “Se você for um gestor não vai inspirar nada, tem que ser líder”, afirmou, em referência ao mote do prefeito, que se diz um gestor em vez de político.
Doria também respondeu na ocasião: “Respeito muito o ex-presidente, mas eu só lembro que ele previu que eu não seria candidato pelo PSDB. Apoiou outro candidato. Ele mesmo já confessou que, quando comecei a campanha para prefeito, acreditava que eu não seria eleito. Venci as duas. Os dois primeiros prognósticos ele errou.”
Temer e Lula
Na mesma palestra, Fernando Henrique criticou a decisão do Tribunal Superior Eleitoral de livrar o presidente Michel Temer (PMDB) da cassação da chapa junto com Dilma Rousseff (PT), e disse que o peemedebista poderia antecipar as eleições.
FHC ainda classificou como gravíssimo a possível denúncia por corrupção da Procuradoria-Geral da República contra o presidente, envolvido nas delações da JBS, dos empresários Wesley e Joesley Batista.
“Tem uma coisa que é inédita: o procurador-geral da República, baseado na Polícia Federal, se dispõe a mover uma ação contra corrupção contra o presidente da República. “Isso nunca houve. Uma coisa gravíssima”, afirmou o ex-presidente.
Ao falar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), FHC afirmou que só o restará vencer nas urnas, caso não haja condenações na Justiça em razão dos processos movidos contra o petista.
“Suponhamos que a Justiça diga que o Lula não fez nada. Ele é candidato – o único candidato possível do PT. Só resta vencer na urna. Ou então dar golpe. Eu sou contra golpe. Só resta vencer na urna. Só que não tem jeito. Preparemo-nos para isso. Para vencer”, afirmou.
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