O fim de semana transformou o caso Queiroz em caso Flávio Bolsonaro. Com acesso a relatório produzido pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), a imprensa vem noticiando desde a sexta-feira (18) à noite movimentações financeiras “atípicas” nas contas bancárias do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro. Pivô do caso, o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, também não passou ileso do fim de semana da elevação da temperatura do caso, e novas suspeitas sobre ele foram publicadas pela imprensa. No Planalto, o clima é de preocupação.
Neste domingo (20), em entrevista à agência Reuters, o vice-presidente, Hamilton Mourão, foi quem mudou a denominação de “caso Queiroz” para “caso Flávio Bolsonaro”, numa tentativa de blindar o governo. “O caso Flávio Bolsonaro não tem nada a ver com o governo”, disse o vice-presidente.
Apesar das declarações, a demora de Queiroz e Flávio Bolsonaro darem explicações consistentes está causando “grande desconforto” entre setores do governo. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, as suspeitas que pesam sobre Flávio incomodaram integrantes da equipe do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. Militares também não escondem o incômodo, apesar de manterem a defesa enfática do presidente.
Confira as suspeitas levantadas nos últimos três dias.
Sexta-feira: Flávio Bolsonaro recebeu quase R$ 100 mil em depósitos suspeitos
Um trecho do relatório do Coaf foi divulgado pelo Jornal Nacional na sexta-feira (18). O documento afirma que Flávio Bolsonaro recebeu 48 depósitos suspeitos em um mês, totalizando R$ 96 mil. Foi a primeira vez que Flávio Bolsonaro apareceu diretamente como beneficiário de dinheiro suspeito
Os depósitos foram realizados em espécie entre junho e julho de 2017, a partir de um caixa automático do posto de atendimento bancário da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) – Flávio Bolsonaro é deputado estadual. O valor sempre era o mesmo: R$ 2 mil, mas o Coaf não conseguiu identificar quem realizou os depósitos.
Pelo fato de a movimentação ter sido realizada de forma fracionada, há suspeita de ocultação de origem do dinheiro, que pode significar lavagem de dinheiro.
Em entrevista à TV Record na noite de domingo (20), Flávio Bolsonaro explicou que os depósitos fracionados se referem ao pagamento de um apartamento que ele vendeu. O senador eleito disse que recebeu parte do pagamento em espécie e que ele próprio fez os depósitos de R$ 2 mil para sua própria conta, de forma fracionada, porque esse seria o limite do banco.
A descoberta foi possível porque o MP-RJ pediu ao Coaf que estendesse a investigação que inicialmente tinha como alvo os funcionários da Alerj. Segundo o MP-RJ, esse pedido foi atendido em 17 de dezembro, um dia antes da diplomação de Flávio Bolsonaro como senador. O Ministério Público, por esse motivo, argumenta que ele não gozava de foro privilegiado na ocasião.
Flávio Bolsonaro, entretanto, questionou a competência do MP-RJ no Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu temporariamente a investigação.
Sábado: Coaf aponta pagamento de título de R$ 1 milhão por Flávio Bolsonaro
No dia seguinte e com base no mesmo relatório, o Jornal Nacional, da Rede Globo, revelou um novo trecho do relatório do Coaf. De acordo com o material, Flávio teria feito um pagamento de título bancário da Caixa Econômica Federal no valor de R$ 1,016 milhão. O Coaf diz que não conseguiu identificar o favorecido. Também não há data e nenhum outro detalhe do pagamento.
Ainda segundo informações do documento, o senador eleito tem operações muito parecidas com as feitas por Fabrício Queiroz, ex-assessor parlamentar de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, apesar de as datas serem diferentes.
Em entrevista à TV Record na noite do domingo (20), Flávio Bolsonaro explicou que o pagamento de R$ 1 milhão se refere à compra do mesmo imóvel que, posteriormente, ele vendeu (os depósitos fracionados de R$ 2 mil seriam o pagamento desta venda). À Recordo, Flávio explicou que ele fez o pagamento das parcelas do imóvel a uma construtora, mas depois quitou o restante da dívida diretamente com a Caixa, que era a responsável pelo financiamento da obra.
Domingo: Queiroz movimentou R$ 7 milhões em três anos
Desta vez a informação veio da coluna do jornalista Lauro Jardim, na edição deste domingo (20) do jornal O Globo: Fabrício de Queiroz movimentou de forma suspeita mais do que o R$ 1,2 milhão que se sabia inicialmente. Segundo o colunista, relatório do Coaf mostra que as movimentações financeiras nas contas de Fabrício Queiroz atingiram R$ 7 milhões entre os anos de 2014 e 2017.
Segundo o relatório do Coaf citado na reportagem do jornal O Globo, passaram pela conta de Queiroz – então funcionário do gabinete do deputado estadual Flávio Bolsonaro – R$ 5,8 milhões entre 2014 e 2015, totalizando R$ 7 milhões em três anos junto com o R$ 1,2 milhão que já se sabia – cuja movimentação ocorreu entre 2016 e 2017. O salário de Queiroz era de R$ 23 mil.
Entenda o caso
O caso que envolve Queiroz e Flávio Bolsonaro veio à público em novembro do ano passado, quando o Coaf produziu um relatório diante da suspeita da Polícia Federal de um esquema de compra e venda de votos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
Flávio Bolsonaro, deputado estadual, não era alvo da investigação, mas o Coaf identificou uma movimentação financeira atípica na conta de Queiroz. No início do ano, ficou-se sabendo que o ex-assessor parlamentar, que também é policial militar da reserva, movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, de acordo com o Coaf, órgão vinculado ao Ministério da Economia. Segundo o Coaf, as movimentações financeiras são “incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional” do ex-assessor parlamentar".
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