Ao estilo do power point do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato na Procuradoria em Curitiba, a Polícia Federal incluiu em seu relatório sobre a atuação do PMDB dois organogramas para ilustrar a atuação de Michel Temer no “quadrilhão” do partido.
Desta vez, em vez de apontar para Lula, as flechas indicam Temer, ao lado do ex-deputado Eduardo Cunha (RJ), no comando da “gestão do núcleo político” de uma suposta organização criminosa formada pela legenda na Câmara. O documento foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na segunda-feira (11).
A Temer se reportariam deputados e ex-deputados que atuaram no Planalto – casos de Geddel Vieira Lima (preso na semana passada, após a apreensão de R$ 51 milhões em um apartamento atribuído a ele), Henrique Alves (preso em junho, acusado de receber propina na construção do estádio Arena das Dunas) e Eliseu Padilha, atual ministro-chefe da Casa Civil, acusado de supostamente receber R$ 10 milhões da Odebrecht.
Estão lá aliados históricos do presidente, como Moreira Franco, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, e seu amigo e conselheiro José Yunes, empresário. E o ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures, que ficou conhecido como “deputado da mala” após ser filmado correndo com uma mala contendo R$ 500 mil em propinas da JBS.
Na descrição da PF, o gráfico “tem como referência o presidente Michel Temer, por ser sua excelência justamente o ponto comum entre essas pessoas”. Segundo a investigação, todos os presentes no diagrama estão envolvidos “nos diversos crimes” que vieram à tona desde o início da Lava Jato.
Lá vai flecha
Segundo a conclusão da investigação, há indícios de que Temer tenha recebido vantagens de R$ 31,5 milhões – o que ele nega. O relatório da PF servirá para embasar uma provável nova denúncia do procurador-geral, Rodrigo Janot, contra o presidente.
Além de Temer, o inquérito mira os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral) e os ex-deputados Eduardo Cunha (RJ), Geddel Vieira Lima (BA) e Henrique Alves (AL).
Segundo a PF, um fato relevante que demonstra a ascensão de Temer sobre o PMDB da Câmara ocorreu em abril de 2015, quando a então presidente Dilma Rousseff (PT) o nomeou como articulador político do governo, após extinção da Secretaria de Relações Institucionais.
O relatório, assinado pelos delegados Marlon Cajado e Cleyber Lopes, lista uma série de vantagens supostamente recebidas pelo presidente. A soma: R$ 500 mil pagos a Rocha Loures, R$ 30 milhões das empresas do grupo Odebrecht e outro R$ 1 milhão pago ao coronel João Baptista Lima, amigo do presidente, pelo grupo J&F.
Entram nas contas do inquérito os R$ 5,46 milhões supostamente pedidos por Michel Temer em caixa dois para a campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo, em 2012. E os valores doados, também supostamente de forma ilícita, à campanha do “apadrinhado político” Paulo Skaf para governador de São Paulo em 2014.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura