O ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, atribuiu ao filho do presidente da República a responsabilidade pela sua saída precoce do governo Jair Bolsonaro (PSL). “Fui demitido pelo Carlos Bolsonaro”, afirmou ele, no programa “Os Pingos nos Is” da rádio Jovem Pan, na noite desta terça-feira (19). Bebianno foi exonerado na segunda-feira (18), após cinco dias de um processo de “fritura” iniciado após um embate público com Carlos Bolsonaro e o agravamento das denúncias de que o PSL lançou candidatos laranjas nos estados. Bebianno diz não entender de onde vem a oposição do vereador a ele. “Essa pergunta tem que ser direcionada a ele. Eu não tenho esse sentimento por ele [Carlos]”.
O ex-ministro mostrou mágoa com a forma que foi demitido e pelo desgaste que antecedeu sua exoneração. “Minha indignação é a de ter servido como um soldado disposto a matar e morrer e no fim ser crucificado e tachado de mentiroso porque o Carlos Bolsonaro fez uma macumba psicológica na cabeça do pai”, criticou Bebianno.
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O advogado que foi braço direito de Bolsonaro na campanha eleitoral afirmou que se preocupa com a agressividade excessiva do filho do presidente, que considera “acima do normal”. “Carlos não mede as consequências de seus fatos. Como você vai a público e chama uma pessoa de mentirosa?”
Bebianno defendeu Bolsonaro e disse ter plena confiança no presidente. Mas vê na influência do filho no governo uma falha a ser corrigida. “Acredito que Bolsonaro seja a maior liderança política espontânea que nasceu nos últimos anos, mas como todo ser humano ele é falível. E existe uma falha no que diz respeito ao comportamento do Carlos. Na minha opinião o presidente precisa dar uma basta nisso. Se fosse meu filho eu estaria preocupado”.
Foi a primeira entrevista concedida pelo ex-secretário-geral depois que a revista Veja divulgou uma série de 12 áudios entre ele e Jair Bolsonaro que desmentem a versão do presidente da República para a demissão do ex-braço direito.
A reunião da discórdia
Bebianno rebateu ainda argumentos de Jair Bolsonaro sobre um encontro marcado com o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo, e a troca de mensagens entre os dois enquanto o presidente estava internado. Ele afirmou que tentava desenvolver relações “positivas” com a imprensa, e que outros dois ministros já haviam se encontrado com a mesma pessoa.
“Não entendo os argumentos”, disse Bebianno sobre as falas do presidente em que diz que receber o representante da Globo significaria “trazer o inimigo para dentro de casa”, como disse o presidente.
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Bebianno disse que constatou que Tonet já havia se reunido com o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz, e com o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno. As reuniões teriam ocorrido nos dias 9 de janeiro e 6 de fevereiro deste ano, respectivamente. “Dessa forma, entendi que deveria receber o senhor Tonet, sim, para uma conversa institucional”, disse o ex-ministro.
“Fui escolhido para Cristo”, diz ex-ministro sobre candidaturas laranja
Bebianno também rebateu as acusações de que teria responsabilidade no caso de candidaturas do PSL suspeitas de serem laranjas, nas eleições de 2018. Sobre o sistema de distribuição do Fundo Partidário do diretório nacional do partido para os estaduais, o ex-ministro justificou que os depósitos feitos diretamente às candidatas de Pernambuco e de demais Estados foram originários de indicações dos diretores estaduais. As candidatas eram escolhidas pelos diretores estaduais e os nomes repassados para Bebianno, na época presidente nacional do partido, que assim depositava em suas contas, segundo sua explicação.
Bebianno também relatou ter escrito uma explicação para o presidente Jair Bolsonaro e uma cópia “mais aprofundada” para os generais que fazem parte do governo. “Expliquei como funciona a divisão de verbas, o general Heleno, Santos Cruz, Floriano Peixoto, leram aquilo, compreenderam a situação e viram, pelo menos naquele momento, que a minha explicação era muito consistente”.
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Sobre sua afirmação ao jornal O Globo, de que não havia crise instaurada no governo, Bebianno justificou que respondeu dessa maneira pelo motivo de que “não havia porquê alguém do Palácio tratar desse assunto lá. Uma suposta crise, se viesse a existir, estaria em Pernambuco, não em Brasília. É uma questão de competência legal, por isso disse que ‘não há crise’”.
Bebianno afirmou que foi “escolhido para Cristo”, em uma tentativa de atingir o Palácio do Planalto. “No caso de Pernambuco, o Luciano Bivar, que é presidente do partido, não tem relação mais direta com o presidente, não faz parte do ministério atual. A Folha interpretou que, para alcançar presidente, tinha que me envolver, me escolheram para cristo para atingir Bolsonaro”, disse o ex-ministro à Jovem Pan.
Como argumento, Bebianno cita denúncia parecida em Minas Gerais, em que foi envolvido o ministro do Turismo do governo, Marcelo Álvaro Antônio. “O interesse era atingir o presidente da República”, disse. Ele destacou que não acredita que o presidente do PSL, Luciano Bivar, tenha cometido qualquer irregularidade.
“Não me pareceu desde o início que Bivar tenha atuado em benefício próprio”, disse. Ele destacou que Bivar é “bem-sucedido” e que não tentaria uma manobra em uma candidatura “tão visível quanto foi a do atual presidente”. “Eu confio no deputado e acredito que tenha agido de acordo com a lei”, completou.
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