O corretor de valores Lúcio Bolonha Funaro afirmou à Polícia Federal (PF) que o presidente Michel Temer fez “orientação/pedido” para que fossem feitas duas “operações” de liberação de crédito junto ao Fundo de Investimentos do FGTS para duas empresas privadas. Essas operações, segundo Funaro, geraram “comissões expressivas, no montante aproximado de R$ 20 milhões”.
O dinheiro, afirmou Funaro, foi destinado “principalmente” à “campanha para Presidência da República no ano de 2014” e à campanha do ex-deputado federal Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo em 2012. Segundo o depoente, as empresas beneficiadas foram a BrVias e a LLX.
As declarações de Funaro, prestadas à PF no último dia 14, foram anexadas aos autos da Operação Patmos, que investiga Temer, e tornadas públicas nesta terça-feira (20). O corretor foi preso na Operação Sépsis, no dia 1.º de julho, com base na delação de Fabio Cleto, ex-vice presidente de Fundos e Loterias da Caixa, mas é investigado nas Operações Lava Jato, Patmos e Greenfield, como operador de propinas do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Funaro também afirmou ter ouvido de Cunha que havia “conhecimento do presidente Michel Temer a respeito da propina sobre o contrato das plataformas entre a Petrobras Internacional e o grupo Odebrecht”. “Essa informação lhe foi repassada por Cunha”, disse Funaro.
Aliados e interlocutores
Funaro, que está preso no complexo penitenciário da Papuda, em Brasília, e prestou depoimento na direção-geral da PF, afirmou ainda que pagou uma “comissão” ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência e um dos principais aliados do presidente Michel Temer, Moreira Franco.
“O declarante [Funaro] pagou comissão desta operação a Eduardo Cunha e a Moreira Franco; os pagamentos foram feitos em espécie, não se recordando dos valores neste momento, mas que posteriormente irá apresentá-los”, segundo o termo de depoimento.
No mesmo depoimento, Funaro afirmou também ter pago, em espécie, um total de R$ 20 milhões ao ex-ministro Geddel Vieira Lima por “operações” na Caixa Econômica Federal. Esse dinheiro, segundo o corretor, eram “comissões” por liberações de crédito a empresas do grupo J&F.
Segundo Funaro, foi ele quem apresentou Geddel ao empresário da empresa de carnes JBS Joesley Batista, hoje delator. O peemedebista era então “vice-presidente de pessoa jurídica da Caixa Econômica” e o grupo J&F, holding que controla a JBS, segundo Funaro, “tinha interesse em obter linhas de créditos junto a esta instituição”.
“A primeira operação efetuada para a J&F foi a liberação de operação de crédito para a conta empresarial; Após essa [Funaro] fez mais empréstimos e outras operações de crédito para a própria J&F e outras empresas do grupo, como Vigor, Eldorado, Flora e Seara”.
Propina da Odebrecht
Funaro disse ainda à PF “confirmar” a participação do presidente Temer e do deputado cassado Eduardo Cunha em acerto de propinas sobre o contrato da Petrobras com a Odebrecht.
Um dos delatores da Odebrecht, Márcio Faria, afirmou à Procuradoria-Geral da República que Michel Temer presenciou, em 2010, quando candidato a vice-presidente da República, uma reunião na qual se acertou pagamento de propina de US$ 40 milhões ao PMDB.
O valor era referente a 5% de um contrato da empreiteira com a Petrobras. Segundo Funaro, a confirmação de que o presidente participou do encontro foi repassada por Cunha. O contrato PAC SMS, no valor de US$ 825 milhões, era referente à manutenção de ativos sucateados da estatal em nove países do mundo, entre eles a Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA).
Antes de a carta-convite da licitação ser apresentada à Odebrecht, segundo o delator, um ex-gerente da Diretoria Internacional da estatal (comandada pelo PMDB), Aluísio Telles, procurou a empreiteira para negociar 3% de suborno sobre o valor a ser pago.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao analisar o caso, não pediu a abertura de inquérito contra Temer sob o argumento de que a Constituição diz que o presidente da República, no exercício de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos às suas funções. Tem, portanto, uma imunidade temporária. Os demais envolvidos, no entanto, serão alvos de investigação.
Faria disse que a propina ao PMDB foi paga em espécie, no Brasil, e em conta no exterior. Acrescentou que, durante as negociações, o partido concordou em reduzir para 4% sua cota, permitindo que o PT ficasse com 1%. Os recursos ficaram como crédito para uso dos então senadores Delcídio Amaral (MS) e Humberto Costa (PE). Temer afirmou, por meio de nota divulgada à época em que se revelaram as delações da Odebrecht, que “jamais tratou de valores” com Márcio Faria.
Outro lado
O ministro Moreira Franco negou a acusação: “Que país é esse, em que um sujeito [Funaro] com extensa folha corrida tem crédito para mentir? Não conheço essa figura, nunca o vi. Ele terá que provar o que está dizendo”, declarou.
A reportagem também procurou as defesas de Temer e Geddel, que ainda não se manifestaram sobre os relatos de Funaro.
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