O corretor de valores Lúcio Funaro afirmou à Polícia Federal que fez várias viagens a Salvador para entregar malas de dinheiro diretamente ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB). Segundo o relatório policial que contém o depoimento, “o declarante [Funaro] fez várias viagens em seu avião ou em voos fretados para entregar malas de dinheiro para Geddel Vieira Lima” na sala VIP do hangar Aerostar, no aeroporto de Salvador (BA), “diretamente nas mãos” do ex-ministro.
O relatório policial integra o novo pedido de prisão feito pelo Ministério Público Federal contra o peemedebista. A Justiça negou a solicitação nesta quinta-feira (13). Geddel deixou o presídio da Papuda na noite desta quinta-feira (13), após obter um habeas corpus no Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Ele vai cumprir prisão domiciliar em sua casa em Salvador (BA).
Homem de confiança do ex-deputado Eduardo Cunha, Funaro disse ainda no depoimento que em duas viagens para praias do Nordeste fez “paradas rápidas em Salvador, para entregar malas ou sacolas de dinheiro a Geddel”. Em uma delas, contou que apresentou a mulher, Raquel, ao político quando ela desceu no hangar para ir ao banheiro.
No depoimento, o corretor de valores relatou que Geddel costumava falar para sua mulher que estava ajudando “pleitos [de Funaro] juntos ao Judiciário”. Disse também que tinha certeza que o político fazia “acompanhamento das questões processuais” que envolviam a sua prisão.
“Considerava possível que Geddel e outros ligados a ele pudessem exercer influências políticas sobre algum órgão, ou até mesmo o Poder Judiciário, afim de prejudicar o declarante, caso resolvesse firmar acordo de colaboração”, afirmou Funaro à PF.
O corretor reiterou que os contatos insistentes do ex-ministro com sua mulher despertaram “receio sobre algum tipo de retaliação caso viesse a fazer um acordo de delação premiada, tendo em vista que Geddel era membro de primeiro escalão do governo e amigo intimo do presidente Michel Temer”.
No novo pedido de prisão, o Ministério Público afirma que as revelações de Funaro e Raquel mostram que o ex-ministro buscava monitorar a intenção do corretor de delatar. Afirmam que Geddel alegava ter influência junto ao Judiciário sobre decisões ligadas à prisão de Funaro.
“De mais a mais, com as declarações de Raquel e Funaro, reforça-se a tese de que Lúcio Funaro tem, de fato, revelações que impliquem em ilícitos penais relevantíssimos praticados por Geddel Vieira Lima (e a organização criminosa vinculada ao grupo do ‘PMDB na Câmara dos Deputados’), como o pagamento de vantagens indevidas (propina) rotineiras e habituais”, diz o pedido.
Os procuradores relatam que foram realizadas 17 ligações entre Raquel e Geddel entre 13 de maio e 1º de junho de 2017, o que representa quase uma ligação por dia.
Outro lado
A defesa de Geddel afirma que os fatos deveriam ter sido informados pelo Ministério Público antes da decisão do TRF-1. O advogado Gamil Föppel disse que “não convém deslembrar que, se as palavras destas pessoas eram importantes para qualquer cautelar, elas deveriam ter sido pedidas antes. Somente ao depois, quando desnudada a desnecessidade e a ilegalidade da prisão, apareceu a preocupação em querer ouvir estas pessoas”.
O defensor afirma ainda que o desembargador Ney Bello, do TRF-1, já tinha conhecimento das afirmações prestadas nos depoimentos do doleiro e da mulher dele quando concedeu a prisão domiciliar ao político. O magistrado citou trechos dos depoimentos à PF na sua decisão.
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