Mesmo antes de assumir o cargo, o indicado a futuro ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, já está promovendo mudanças no Itamaraty. As ações são vistas pelos diplomatas como expurgos.
Dois respeitados embaixadores que iam assumir altos cargos em Brasília foram informados pela equipe de transição do governo Jair Bolsonaro de que seus serviços não eram mais necessários e estão encostados, sem função.
É natural que os ministros montem suas equipes. Mas as mudanças na estrutura do ministério acontecem apenas após a posse dos chanceleres -o novo ministro começou a "demitir" pessoas antes mesmo de assumir.
Existe a percepção de que Araújo pretende promover um choque geracional e dar cargos de chefia a diplomatas mais jovens.
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O próprio Araújo, aos 51 anos, é considerado jovem para o cargo de chanceler -e acaba de ser promovido ao ranking de embaixador. Otavio Brandelli, indicado por Araújo para ser o secretário-geral do Itamaraty, segundo posto na hierarquia do Ministério das Relações Exteriores, também é jovem, tem 54 anos.
Everton Vargas, 63, deixara o cargo de embaixador na União Europeia para assumir como subsecretário-geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia. Foi informado de que a subsecretaria não mais existirá no formato atual e não recebeu nenhuma indicação de que receberá outra função.
O embaixador Ricardo Neiva Tavares era o titular da embaixada em Viena e ia assumir a subsecretaria-geral de Assuntos Políticos Multilaterais, Europa e América do Norte. Também foi orientado a não assumir o cargo.
Os atuais ocupantes das subsecretarias também foram informados de que não permanecerão em seus cargos, porque, entre outras coisas, a reforma no organograma da instituição irá fundir algumas delas.
‘Deselegante’
A maneira como a declaração foi dada, no entanto, foi vista como deselegante. Alguns foram "demitidos" por telefone.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, diversos diplomatas descrevem o clima no Itamaraty como sendo de "caça às bruxas" e "incerteza". O medo é de que haverá uma limpeza geral, e jovens diplomatas que não tenham alinhamento com as gestões anteriores ganharão espaço.
O ex-chanceler Celso Amorim também fez expurgos durante o governo Lula (2003-2010), e deslocou diplomatas que eram vistos como mais próximos de governos tucanos, como Gelson Fonseca, Marcos Caramuru e José Alfredo Graça Lima, em cargos de menor destaque. Mas Amorim já havia assumido como ministro e os diplomatas não ficaram sem função, foram apenas alocados para postos de menor destaque, fora do país.