Escolhido neste fim de semana por Michel Temer para comandar o Ministério das Cidades, o deputado federal Alexandre Baldy (PODE/GO) é apontado por relatório de uma CPI como tendo participado de esquema comandado em Goiás pelo empresário dos jogos de azar Carlos Cachoeira.
Com base em gravações telefônicas da Polícia Federal feitas na Operação Monte Carlo, Baldy é protagonista de um capítulo do relatório final da CPI que em 2012 investigou o caso, sendo classificado como colaborador “da organização criminosa”.
O texto é assinado pelo petista Odair Cunha (MG), que relatou os trabalhos da comissão durante oito meses. No final, um acordão entre legendas atingidas acabou levando à rejeição do parecer no plenário da comissão e à aprovação de um relatório de duas páginas que não sugeriu o indiciamento de ninguém.
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“As investigações levadas a efeito pela Polícia Federal, e aprofundadas por essa CPI revelam que Alexandre Baldy, conquanto não tenha agido com a mesma desenvoltura com que atuaram outros secretários do Estado de Goiás em prol dos interesses da organização criminosa chefiada por Carlos Cachoeira, prestou relevantes serviços à quadrilha”, diz o relatório final de Odair Cunha.
Entre 2011 e 2013, o hoje deputado foi secretário de Indústria e Comércio do governo de Goiás, comandado pelo tucano Marconi Perillo.
Temer informou a correligionários ter decido colocar o deputado no lugar do tucano Bruno Araújo, que pediu demissão. Baldy irá trocar o Podemos pelo PP, a maior sigla do centrão. Deputado federal de primeiro mandato, ele é hoje um dos principais aliados do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A CPI do Cachoeira, como ficou conhecida, trabalhou em meio ao escândalo que resultou na cassação do mandato do senador Demóstenes Torres (DEM-GO).
O capítulo dedicado a Baldy é recheado de grampos de conversas de Cachoeira com aliados, cujo teor sugere proximidade dos dois Cachoeira se referia a Baldy como “menino de ouro”, diz o texto.
Uma dessas interceptações é de uma conversa direta entre Baldy e Cachoeira, em agosto de 2011. “Cadê você, doutor?”, pergunta em tom informal Baldy. Os dois marcam então um encontro para o dia seguinte. Cachoeira afirma que irá tratar de um assunto com o secretário. Baldy concorda e diz: “E eu preciso falar um negócio com você pra você dar uma aliviada.”
O relatório de Odair afirma que embora houvesse suspeita de que Baldy recebesse recursos periódicos de Cachoeira, a investigação da comissão não conseguiu provas disso, sugerindo ao Ministério Público continuar a apuração. A reportagem não localizou eventuais desdobramentos judiciais das investigações.
Como o relatório final de Odair não foi aprovado, nenhuma recomendação foi enviada às autoridades.
Baldy também foi citado na delação premiada do corretor de valores Lúcio Funaro. Ele afirma que o deputado participou de negociações para favorecer a Hypermarcas no Congresso. Baldy é casado com uma ex-integrante do bloco de controle da empresa.
Sem comentários
Procurado neste domingo (19), o deputado Alexandre Baldy não quis se manifestar.
Em maio de 2016, o parlamentar disse ao jornal “Folha de S.Paulo” que o seu nome não consta no relatório final de duas páginas aprovado pela CPI do Cachoeira e que não há contra ele investigação. Na ocasião, destacou que não tinha relação com Carlos Cachoeira e disse que o texto do relator, Odair Cunha, não passava de “ilações”.
“Não tenho envolvimento nenhum com ele [Cachoeira]. Aquela CPI funcionou exclusivamente como vingança do PT contra o governador de Goiás, Marconi Perillo [PSDB]”. Segundo ele, as gravações em que seu nome é citado são frutos de “montagem”.
Sobre as citações feitas por Lúcio Funaro em sua delação, Baldy disse por meio de nota, quando o caso se tornou público, que nunca esteve com ele e jamais participou de reunião em sua presença.
Ele afirmou que não praticou tráfico de influência e tampouco atuou em favor da Hypermarcas.
Imbassahy deve ocupar o lugar de “ministra escrava”
O presidente Michel Temer bateu o martelo neste fim de semana sobre mudanças na Esplanada dos Ministérios e pode deslocar o tucano Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) para a pasta de Direitos Humanos.
Como informou o jornal “Folha de S.Paulo”, o ex-ministro de Transportes João Henrique de Almeida Sousa (PMDB), hoje na presidência do Conselho Nacional do Sesi, ganhou força para ocupar o posto de articulador político do Planalto, no lugar de Imbassahy.
Os defensores de João Henrique afirmam que ele já foi deputado, quarto secretário da Câmara e, portanto, tem bom trânsito com os parlamentares.
Segundo a reportagem apurou, Temer simpatiza com a ideia, mas está fazendo cálculo eleitoral, além de contar os votos para aprovar a reforma da Previdência, antes de fechar a indicação.
Auxiliares dizem que o presidente se movimenta para montar uma coligação político-eleitoral para 2018.
Assim, é importante que as novas nomeações tenham o aval de partidos que possam formar essa aliança.
Temer não é candidato à reeleição, mas, apesar da baixa popularidade, quer se tornar um ativo importante em torno de uma candidatura de centro-direita que defenda as reformas de seu governo.
As primeiras mudanças ministeriais, restritas às pastas ocupadas pelo PSDB, devem ser anunciadas durante esta semana.
Dessa forma, com o Ministério das Cidades sob o comando de Alexandre Baldy (GO), se for confirmado, e a Secretaria de Governo também com um novo titular, Temer exoneraria Luislinda Valois, tucana que hoje está na Secretaria de Direitos Humanos, entregando a pasta a Imbassahy.
Luislinda é a ministra que comparou sua situação à de um trabalhador escravo. Ela queria acumulação integral de seu salário com a aposentadoria de desembargadora do Tribunal de Justiça da Bahia, o que levaria seus vencimentos a mais de R$ 60 mil, rompendo o teto constitucional. Após a repercussão do caso, Luislinda desistiu do pedido.
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