O rompimento da barragem de Brumadinho (MG) não completou nem um mês, mas a empresa de mineração Vale já coleciona demonstrações de insensibilidade simbólicas e efetivas diante da tragédia que matou 166 pessoas – conta que pode chegar a 321, pois ainda há desaparecidos. A Gazeta do Povo listou sete fatos que, no mínimo, pegam mal para a imagem da empresa após uma tragédia como a de Brumadinho.
1) Presidente da Vale fica sentado em homenagem aos mortos
Em audiência na Câmara dos Deputados para falar sobre a situação das barragens no Brasil, na quinta-feira (14), o presidente da Vale, Fábio Schvartsman, ficou sentado enquanto todos os demais presentes se levantaram para uma homenagem aos mortos na tragédia de Bumadinho, fazendo um minuto de silêncio.
A gafe de Schvartsman pegou mal. O diretor de comunicação da Vale, Júlio Gama, teve que explicar que o presidente da mineradora respeitou o minuto de silêncio mantendo-se calado e de cabeça baixa, apesar de estar sentado.
2) “Vale é uma joia brasileira e não pode ser condenada”
Na mesma audiência na Câmara em que não se levantou para a homenagem aos mortos, o presidente da Vale afirmou que a empresa é uma “joia brasileira” e “não pode ser condenada por um acidente, por maior que tenha sido a tragédia”.
3) Empresa forneceu remédios vencidos para tratar animais
Obrigada pela Justiça a resgatar animais atingidos pela lama de Brumadinho e a tratá-los, a Vale forneceu medicamentos veterinários vencidos, segundo a coordenadora-geral de emergências ambientais do Ibama, Fernanda Pirillo. Em nota, a empresa informou que nenhum animal foi tratado com esses remédios.
4) Vale diz que sirenes foram engolidas pela lama. Não foi bem assim
Logo após o rompimento da barragem de Brumadinho, o presidente da Vale afirmou que as sirenes de segurança não soaram para alertar os moradores do entorno porque haviam sido engolidas pela lama. Mas pelo menos dois desses equipamentos estão intactos. E não fizeram o alerta. A própria empresa precisou desmentir o que o presidente havia dito.
5) “Foi um acidente”. Ou seja, não poderia ter sido evitado
A Vale tem insistido que o rompimento da barragem de Brumadinho foi um acidente, uma fatalidade. Com isso, busca afastar a acusação, baseada numa série de evidências, de que a ação da empresa foi negligente e até mesmo criminosa.
“A pedra fundamental do sistema de monitoramento são os laudos de estabilidade. Recebemos 500 laudos atestando a segurança de todas as barragens. Por que deveríamos desconfiar deles?”, questionou Fábio Schvartsman na audiência da Câmara. “Se os laudos atestam estabilidade, não devemos desconfiar. É por isso que digo que foi um acidente.”
A argumentação de que o rompimento foi uma fatalidade, contudo, esbarra em documentos internos da própria Vale, que mostram que a empresa sabia que Brumadinho e outras nove barragens estavam em risco e em e-mails que indicam que a companhia soube de falhas na estrutura que rompeu dois dias antes da tragédia.
O presidente da Vale também procurou tirar a responsabilidade da direção da empresa pelo ocorrido. “Apesar de eu ser presidente da companhia, não sou dono da verdade, nem sei tudo que acontece lá [nas barragens]”, afirmou. “A maior prova de que não sabíamos do risco é que o gerente local de Brumadinho estava lá e morreu. Quando digo que foi uma surpresa é porque foi mesmo.”
6) Promessa de rapidez em indenizações ainda não cumprida
Após o rompimento da barragem de Brumadinho, a Vale assegurou que prestaria toda a assistência possível às famílias das vítimas. A empresa se comprometeu a doar rapidamente R$ 100 mil a cada família de morto ou desaparecido.O presidente da Vale também garantiu que a empresa queria fechar rapidamente um acordo para acelerar o pagamento de outras indenizações de forma extrajudicial para reduzir o sofrimento dos atingidos.
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Mas até agora não há nenhum acordo. E, dentre os atingidos pela tragédia e seus parentes, há insatisfação com a forma como a empresa está tratando do assunto. A Vale quer ela própria definir quem foi prejudicado pela tragédia. Os representantes das vítimas e das autoridades temem que, para economizar, a empresa exclua pessoas que tiveram prejuízos com a tragédia. Outro receio é que os R$ 100 mil sejam descontados da indenização posterior – estratégia usada na tragédia de Mariana (MG), em 2015.
7) Caso de Brumadinho não pode ser comparado ao de Mariana
O presidente da Vale, Fábio Schvartsman, disse na audiência da Câmara dos Deputados que a demora em dar uma solução para os problemas ocasionados pelo rompimento da barragem de Mariana (MG), em novembro de 2015, não pode ser usada como referência para fazer cobranças sobre a empresa no caso de Brumadinho.
Passados mais de três anos, ainda não houve reparação dos danos materiais das comunidades atingidas de Mariana e indenizações, e ainda há muito a ser feito na recuperação ambiental.
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“Compreendo a indignação em relação à remediação de Mariana, mas temos limitações, pois a barragem [de Mariana] era da Samarco”, afirmou Schvartsman. A empresa Samarco é uma sociedade da Vale com a empresa anglo-australiana BHP Billiton.
“Seria melhor para a Vale que o processo de Mariana andasse com celeridade. Vamos tentar influenciar nesse processo”, disse o presidente da Vale. No caso de Brumadinho, Schvartsman frisou ser uma situação “radicalmente diferente”. “Se houver morosidade, a culpa é da Vale”, disse. “Sei que nossa credibilidade é baixa e não peço que acreditem em mim, mas apenas que acompanhem o processo.”
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