A denúncia da Promotoria de Justiça Eleitoral contra os ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho relata que o grupo tinha um “braço armado” para a realização de cobranças dos valores junto a empresários. O responsável pelas cobranças era, segundo as investigações, o policial civil aposentado Antônio Carlos Ribeiro da Silva, o Toninho.
O empresário André Luiz da Silva Rodrigues, que se tornou delator do esquema, relatou como o policial aposentado o ameaçou para entregar R$ 3 milhões repassados pela JBS a uma de suas firmas.
Garotinho e Rosinha foram presos nesta quarta-feira (22) sob acusação de crimes de corrupção, concussão, participação em organização criminosa e falsidade na prestação de contas eleitorais. A denúncia relata arrecadação de caixa 2 junto a oito empresas, entre elas a JBS.
Rodrigues relatou ao Ministério Público do Rio que uma de suas empresas, Ocean Link, firmou contrato fictício com a JBS de R$ 3 milhões para o fornecimento de software. O depósito havia sido acertado com o empresário Ney Flores, dono da Macro Engenharia, após uma reunião em que Garotinho reuniu donos de fornecedoras da Prefeitura do Campos (RJ) para cobrar contribuição para sua campanha ao governo, em 2014.
O empresário foi alertado de que o depósito fora efetuado por Toninho, que ligou para sua casa o aguardando em frente da residência. O policial o chamou para descer e ir até o banco. Em depoimento, ele disse que “quando adentrou o carro de Toninho, ele tinha uma pistola no banco do carona e uma entre as pernas”.
O policial determinou que fosse sacado todo o valor depositado, mas o empresário se recusou. Saques acima de R$ 100 mil deveriam ser avisados com antecedência ao banco. O empresário, então, passou a realizar saques por conta própria, entregando os valores a Toninho. Ele relatou que saía do banco em alta velocidade temendo ser assaltado.
Numa oportunidade, afirmou Rodrigues, “Toninho chegou a ligar dizendo que o declarante estava correndo muito com o carro, dando a entender que estava seguindo o declarante”.
A doação via caixa dois da JBS foi acertada com o presidente nacional do PR, Antônio Carlos Rodrigues, segundo o executivo da empresa Ricardo Saud. De acordo com o MP, a empresa repassaria R$ 20 milhões ao partido para que a sigla apoiasse a reeleição da presidente Dilma Rousseff naquele ano.
Garotinho, candidato ao governo, não foi inicialmente contemplado pelos recursos. Após se queixar com o presidente do PR, conseguiu R$ 3 milhões da JBS. O responsável por operacionalizar o repasse foi Fabiano Alonso, genro do presidente do PR, segundo a investigação.
Outro lado
Garotinho afirmou, em nota, que “atribui a operação de hoje a mais um capítulo da perseguição que vem sofrendo desde que denunciou o esquema do governo Cabral na Assembleia Legislativa e as irregularidades praticadas pelo desembargador Luiz Zveiter”.
“Cabe frisar que essa a operação à qual Garotinho e Rosinha respondem não tem relação alguma com a Lava Jato”, diz a nota.
Justiça Eleitoral manda bloquear bens de Garotinho e Rosinha
A Justiça Eleitoral determinou o sequestro dos bens móveis e imóveis de Anthony e Rosinha Garotinho. O confisco alcança ainda outros seis investigados e das empresas Macro Engenharia e Ribeiro Azevedo Construções Ltda. A Promotoria havia requerido à Justiça o bloqueio de R$ 6 milhões. O valor é equivalente ao prejuízo calculado pelo Ministério Público do Rio.
“Sornando-se às doações oficiais prestadas por empresas que tinham contrato com o Município de Campos, que certamente foram feitas em razão das chantagens exercidas pela organização criminosa, estima-se um prejuízo mínimo de R$ 6 milhões”, afirmou a Promotoria.
Garotinho e Rosinha foram presos pela Polícia Federal nesta quarta-feira. A PF informou que foram cumpridos os 10 mandados de busca e apreensão e 5 mandados de prisão no Rio, Em campos dos Goytacazes (RJ) e em São Paulo.
Os presos no município de Campos dos Goytacazes foram encaminhados aos presídios Carlos Tinoco da Fonseca (masculino) e Nilza da Silva Santos (feminino). Os presos no Rio de Janeiro serão encaminhados ao presídio José Frederico Marques, em Benfica.
O juiz eleitoral da 98ª Zona Eleitoral, Glaucenir Silva de Oliveira, também determinou o bloqueio de dinheiro existente em nome dos investigados e das duas empresas. O magistrado ordenou o imediato afastamento de Garotinho e Antônio Carlos Rodrigues dos cargos de presidente estadual (RJ) e nacional do PR, respectivamente.
Os acusados são Antônio Carlos Rodrigues (presidente do Partido da República/PR, legenda de Rosinha e Garotinho), Fabiano Alonso (genro de Antônio Carlos, e suposto mentor do esquema de fraude para dissimular as doações de campanha por meio da empresa Ocean Link), Ney Flores (sócio da empresa Macro Engenharia, com quem a Prefeitura de Campos possuía diversos contratos, e um dos principais arrecadadores do esquema), Antonio Carlos “Toninho” (sócio da Ribeiro Azevedo Construções LTDA e considerado o “braço armado” da organização, era quem fazia a cobrança de valores), Suledil Bernardino (ex-secretário nas pastas de Controle, de Governo e de Fazenda em Campos) e Thiago Godoy (subsecretário de Governo de Garotinho, nos anos de 2015 e 2016, além de coordenador financeiro das campanhas de 2014 e 2016).
Os fatos ocorreram, segundo a Promotoria Eleitoral, entre 1º de janeiro de 2009 e 31 de dezembro de 2016, período em que Rosinha esteve à frente da Prefeitura de Campos, no Norte Fluminense.
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