Com tarifas de energia elevadas e a perspectiva de que a geração de eletricidade continuará cara, a opção por gerar sua própria energia atrai muitos consumidores. O tempo necessário para o investimento dar retorno varia. E, neste caso, pode até dobrar de uma distribuidora para outra. Dados da Comerc comercializadora de energia mostram que enquanto em Belém, no Pará, um sistema de geração solar fotovoltaica residencial pode se pagar em 3,36 anos. Em Macapá, Amapá, um projeto similar levará 7,66 anos para começar a gerar ganhos.
Os dados são do mais recente Índice Comerc Solar, de julho deste ano, e consideram a irradiação solar, o ICMS, e a tarifa de energia de cada localidade. Quanto mais cara for a energia na distribuidora, mais rapidamente o consumidor que gerar sua energia terá economizado com a geração própria. As cinco capitais com melhor retorno são Belém (PA), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Cuiabá (MT) e Manaus (AM). Na outra ponta, com tempo mais longo para recuperar o investimento estão Florianópolis (SC), Curitiba (PR), São Paulo (SP), Boa Vista (RR) e Macapá (AP). Mesmo assim, segundo a Comerc, o investimento se paga entre 4,95 anos e 7,66 anos nessas capitais.
Esses dados foram calculados nas atuais regras do setor, e consideram os reajustes concedidos até julho. Porém, a forma de tarifação da energia gerada pelo próprio consumidor pode mudar: o governo federal estuda, na reforma do setor elétrico que está preparando, um novo modelo que pode aumentar as tarifas para esse grupo de consumidores.
De olho na economia
Mesmo com possíveis mudanças, é crescente o interesse dos consumidores em reduzirem o custo da conta de luz com a geração própria de eletricidade. Dados do Banco Votorantim, de outubro deste ano, apontam que historicamente a conta de energia cresce acima da inflação, refletindo a adoção da bandeira tarifária vermelha. Neste ano, calcula o banco, o reajuste da eletricidade deve ser de 7%, em média.
Por outro lado, a queda do preço dos sistemas fotovoltaicos e a eficiência no processo de instalação, engenharia e conexão à rede estão ajudando a impulsionar o acesso a esses sistemas. Estudo da consultoria Greener aponta que no caso de um sistema de geração solar residencial, houve redução de 26,78% no preço para o cliente final no primeiro semestre deste ano.
Marcio Takata, diretor da Greener, afirma que no longo prazo a tendência é de que os preços dos sistemas e equipamentos continuem caindo, apesar de um leve aumento neste segundo semestre de 2017. “A perspectiva de longo prazo é de que a solução fique cada vez mais barata. No curto prazo, é incerto porque não sabemos a tendência do preço do módulo fotovoltaico. No segundo semestre deste ano, essa redução ficou um pouco prejudicada, em função de um desbalanço no mercado mundial de módulos, o que causou um aumento pontual. Mas a tendência de queda no médio e longo prazo continuam”, afirma Takata.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) calcula que estão em operação 17.413 unidades consumidoras que geram sua energia, produzindo 191 MW de energia. É um mercado crescente, que pode superar R$ 1 bilhão em investimentos até o final de 2017, contabiliza a Greener.
Ainda são entraves do setor o acesso ao crédito para esses projetos e algumas dificuldades regulatórias, que poderiam aumentar a gama de modelos e parcerias entre os “prosumidores” (os consumidores que produzem sua energia). Dados do Banco Votorantim, que possui linha específica para financiamento de projetos de geração solar, mostram que dos 140 mil pedidos de informação sobre a linha de crédito em um ano, foram efetivados 26 mil contratos.
Fazendas solares podem ser solução para geração residencial
O acesso ao financiamento ainda é um fator que restringe o acesso à energia solar. Para as empresas, há linhas de crédito em bancos de fomento, com recursos de fundos constitucionais, com menores juros. Outros modelos de financiamento, como o de leasing, que é muito comum nos Estados Unidos, ainda não se desenvolveram no Brasil.
Novos modelos de acesso à geração distribuída também estão sendo pesquisados e implantados. Um deles é o de fazendas solares, no qual empresas constroem usinas solares em grandes espaços. Os consumidores (pequenos comércios, em sua maioria) contratam um lote dessa fazenda para gerar energia, sem precisarem instalar em seus telhados os sistemas fotovoltaicos. A energia gerada naquele lote é recebida pelo consumidor, que desconta da sua conta de luz. A relação entre a fazenda e o consumidor é feita por meio de um contrato de curto prazo, de 24 ou 36 meses, e paga como se fosse uma conta de telefone, abatendo os créditos na conta de luz.
Rodolfo Molinari Filho, diretor de Novos Negócios da Órigo Energia, afirma que a economia na conta de luz é de até 10% ao longo do contrato nesse modelo de fazendas. “O cliente não precisa fazer o investimento. Ele adere, fica num plano de um consórcio, e tem direito a um percentual de energia em créditos. Qualquer problema técnico é resolvido pela fazenda e ele também não precisa se preocupar em conseguir o financiamento”, explicou. “O consumidor é um gerador. Como numa fazenda de café: ele tem direito a um pedaço daquele lote. O que ele extrair de café de seu lote, é dele”.
Para as residências e pessoas físicas, ainda há entraves regulatórios, que dependem de alterações da própria agência reguladora. Porém, Molinari avalia que isso é viável e que a partir de 2018 devem ser lançados alguns planos para as pessoas físicas aderirem às fazendas solares. “Nosso modelo hoje, de consórcio para a pessoa jurídica, tem uma modelagem mais fácil. Para pessoa física precisamos facilitar o modelo. Temos planos concretos para estender esse modelo para pessoas físicas no ano que vem. Queremos massificar a adoção de viabilidade técnica e ajudar na questão financeira, assumindo o papel de quem investe, tirando a necessidade de acesso ao crédito”, afirmou.
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