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| Foto: Pedro França/Agência Senado

A senadora Gleisi Hoffmann (PT) associou o governador Beto Richa (PSDB) ao doleiro Alberto Youssef, delator da Lava Jato, na saída do depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (28) na ação em que é suspeita de corrupção passiva.

“Sou vítima de perseguição política em razão de Alberto Youssef e seu advogado, que foi assessor de Beto Richa. Eles não têm prova desse dinheiro chegando a mim”, declarou a senadora após prestar esclarecimentos em Brasília.

O Ministério Público Federal (MPF) acusa Gleisi, no processo no qual ela depôs nesta segunda, de ter recebido R$ 1 milhão desviados da Petrobras para sua campanha eleitoral ao Senado em 2010. Youssef é um dos delatores que acusou Gleisi. E o advogado do doleiro é Antônio Figueiredo Basto, que foi conselheiro da Sanepar, a estatal de saneamento do Paraná, por indicação do governador.

“Acho que tem alto grau de politização (na denúncia), quando fui denunciada havia muita influência do Judiciário e do Ministério Público. Ele fez uma denúncia e foi premiado pela opinião pública”, afirmou Gleisi.

Veja o que dizem Beto Richa e Figueiredo Basto

Gleisi e Bernardo dizem ser inocentes

Gleisi é a primeira parlamentar com foro privilegiado a prestar esclarecimentos no banco dos réus por suspeita de crimes descobertos pela Lava Jato. “Neguei o que estão me acusando, corrupção passiva e lavagem. Nunca tive relação com Paulo Roberto Costa [ex-diretor da Petrobras] (...) Além de responder ao juiz, pedi para fazer uma narrativa. Não tem nenhuma prova e estou sendo julgada e condenava. Não precisava pedir dinheiro para minha campanha de 2010”, disse a petista. Além de Youssef, Costa também acusou Gleisi.

O ex-ministro Paulo Bernardo, marido de Gleisi, também é réu e foi outro a depor nesta segunda-feira. Ele negou qualquer culpa. “Eu deixei claro que nunca pedi dinheiro ao Paulo Roberto Costa. A PF fez uma investigação; se eu tinha ligado pra ele e deu tudo negativo, está no processo”, declarou. “Acho que a denúncia foi arredondada para chegar no ponto que foi feito”, disse o ex-ministro.

Ele também disse que, durante o depoimento, tentou provar que a acusação não é verdadeira e disse que vai esperar o julgamento com “tranquilidade”.

Reta final

Os interrogatórios são conduzidos pelo juiz Paulo Marcos Farias, que integra a equipe de auxiliares do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo. O magistrado já atuava na equipe de Teori Zavascki, morto em um acidente de avião em janeiro deste ano, quando cuidava dos processos da operação no Supremo.

Os depoimentos marcam o início da reta final das ações envolvendo políticos no STF. Depois de ouvir todos os réus, Fachin disponibilizará cinco dias para que as defesas ou a Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitem a realização de novas diligências no processo, como a produção de novas provas, por exemplo. Se elas não ocorrerem, o relator abre prazo de 15 dias para apresentação das alegações finais da PGR e, em seguida, 15 dias para a apresentação das alegações das defesas dos réus.

Não é preciso prever quando o julgamento em si ocorrerá, não há prazo para que isso ocorra. Mas o ministro tem sinalizado a interlocutores que a expectativa é começar a julgar os processos da Lava Jato em dezembro deste ano. Se condenados, os políticos tornam-se inelegíveis com base na Lei da Ficha Limpa e não poderão disputar as próximas eleições.

Suspeitas contra o casal petista

Para a Procuradoria-Geral da República (PGR), Gleisi recebeu ilicitamente R$ 1 milhão para a sua campanha ao Senado em 2010 e ela é suspeita de lavagem de dinheiro com apoio da diretoria de Abastecimento da Petrobras, durante a gestão de Paulo Roberto Costa, um dos delatores do esquema.

Segundo a PGR, os denunciados tinham plena consciência da origem criminosa dos recursos. Paulo Bernardo, na época ministro, teria ficado encarregado de transmitir a solicitação de propina a Costa.

O responsável pela operação teria sido o doleiro Youssef, que obteve os valores em espécie e pediu que Antônio Pieruccini transportasse o dinheiro de São Paulo a Curitiba. Foram realizadas quatro entregas de R$ 250 mil em espécie, de acordo com os procuradores.

A PGR apresentou depoimentos de delatores e registros de ligações telefônicas entre os denunciados.

Outro lado

Procurada pela Gazeta do Povo, a assessoria do governador Beto Richa disse que a acusação de Gleisi “não tem qualquer respaldo na realidade”.

O advogado Figueiredo Basto negou a acusação da petista e disse que nunca foi assessor de Richa. Admitiu, contudo, ter sido advogado do governador em uma causa e ter ocupado o cargo de conselheiro da Sanepar durante um período do governo do tucano (há atas da estatal de 2012 com a presença do advogado nas reuniões do conselho de administração). Ele afirmou ter saído da Sanepar por não concordar com a gestão da empresa e disse não ter cometido nenhuma irregularidade na estatal. E fez questão de frisar: ao contrário do que ocorreu com a Petrobras.

Figueiredo Basto também lembrou que a acusação contra Gleisi foi formulada pelo Ministério Público Federal (MPF) e acatada pelo STF. “Se o MPF decidiu denunciar a Gleisi é porque encontrou provas contra ela”, disse Basto. E o STF concordou com o entendimento de que, ao menos, há indícios fortes contra ela.

O advogado ainda lembrou que a atual presidente do PT também foi acusada por outros delatores: o da Odebrecht – caso que não tem relação com o processo no qual ela depôs nesta segunda-feira. “Pergunta para a Gleisi se também fui eu que coloquei o nome dela na lista da Odebrecht”, disse o advogado. Para Figueiredo Basto, acusação da petista é uma demonstração do “desespero” da senadora.

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Outros delatores

A argumentação de Gleisi de que haveria uma perseguição política patrocinada pelo governador Beto Richa e pelo advogado Figueiredo Basto para implicá-la na Lava Jato não considera que outros delatores a acusaram no mesmo caso. Um deles é o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa – que não tem relação com o tucano. Outro a acusá-la é o advogado Antônio Pieruccini, ligado ao doleiro Youssef.

Nas investigações, Gleisi também foi acusada pelo ex-senador Delcídio do Amaral e o empresário Ricardo Pessoa. Eles confirmaram em depoimento a participação dela no esquema de corrupção.

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