A ida de Gleisi Hoffmann à posse de Nicolás Maduro, na Venezuela, foi tema de discussão entre a presidente do PT e o candidato derrotado do partido à Presidência, Fernando Haddad, em reunião da Executiva Nacional da legenda neste sábado, em São Paulo.
Último a falar, Haddad foi questionado por Valter Pomar, líder da corrente Articulação de Esquerda e aliado de Gleisi, sobre “declarações públicas” a respeito da ida da presidente do partido à posse de Maduro. Ele se referia a uma entrevista de Haddad ao jornal El País, na qual disse que não foi consultado sobre a viagem.
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“O Valter Pomar falou sobre críticas públicas e eu perguntei se ele leu o que eu disse”, explicou Haddad. “O que eu falei foi que não participei da discussão, depois percebi que ninguém tinha participado e que recebi pela imprensa a informação. Estou falando de um protocolo que precisa ser observado. Nem precisava me ouvir, mas ninguém foi ouvido. O que falei é que teve uma carga simbólica muito forte e sobre o problema de comunicação, sobre a forma como se comunica isso”, disse o ex-prefeito de São Paulo depois da reunião.
Segundo relatos, durante o encontro Haddad teria argumentado que suas críticas à viagem de Gleisi foram de “método e não de mérito”. Ainda na Executiva, Gleisi tomou o microfone e rebateu Haddad. “Eu discordo dele. Acho que não é só questão de método. Tem um fundo político nisso. O PT tem que discutir, mas já temos uma posição pública que é a defesa da autodeterminação dos povos, da soberania e do reconhecimento do resultado das eleições”, disse a presidente do partido.
A ida de Gleisi à posse de Maduro dividiu opiniões no PT. Setores do partido reclamaram do fato de a presidente ter tomado a iniciativa sem consultar a direção e enxergaram no gesto de Gleisi um movimento rumo à esquerda petista e aos movimentos sociais em busca de apoio para a sua reeleição. O mandato de Gleisi termina este ano.
Neste domingo, a Executiva vai debater a forma de escolha da próxima direção. Alguns setores defendem a manutenção da eleição direta. Outros são favoráveis à eleição por meio de delegados para evitar denúncias de fraudes e irregularidades que marcaram as eleições internas anteriores.
A reunião deste domingo terá início com um relato do jornalista Breno Altman, que esteve na Venezuela e irá descrever o que viu no país de Nicolás Maduro.
Haddad usa aniversário para alfinetar Bolsonaro
Haddad aproveitou o tema do aniversário do partido para criticar o presidente Jair Bolsonaro, afirmando que a família dele está “mais enrolada” em 30 dias de governo do que o PT em toda sua história, em uma menção velada ao caso do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). O petista disse ainda que o militar reformado só o derrotou nas eleições por causa de “fake news”.
“Colocaram uma família no poder que está mais enrolada em 30 dias que esse partido em 39 anos. Não conseguem explicar nada e vão surgindo escândalos. Vão fugindo dos debates, fazendo o que fizeram na campanha. Eles fogem porque não têm o que explicar”, disse, durante discurso.
Haddad prometeu ainda que o PT estará forte nas próximas disputas eleitorais. “Eles que nos aguardem em 2022 e, antes disso, em 2020, vamos para a disputa, e para vencer”, afirmou. Antes disso, criticou as eleições de 2018.
“Ganharam (as eleições) na mão grande para apresentar projetos que não correspondem aos anseios populares”, disse o petista, ressaltando que os projetos apresentados por Bolsonaro e sua equipe nos primeiros 30 dias “são os mais atrasados já apresentados para o povo brasileiro”. “Todos os projetos jogam o Brasil 30, 40, 100 anos para trás.”
Haddad usou a primeira parte de seu discurso para criticar a segunda condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que recebeu nesta semana sentença em primeira instância de 12 anos 11 meses por corrupção e lavagem de dinheiro em ação da Lava Jato sobre o sítio Atibaia.
Segundo Haddad, a Justiça não conseguiu demonstrar que houve crime. “Se você não disser qual foi o ato cometido pelo Lula que tenha contrariado o interesse do povo brasileiro, você não pode condenar nem o Lula nem nenhum servidor público”, disse.
O ex-prefeito disse que Lula é investigado há 40 anos, mas sem que irregularidades tenham sido encontradas. “Todo mundo presta atenção em tudo o que o Lula faz e fala, e assina, tudo passou por exame. Eles não conseguiram, em anos de investigação, mostrar um ato, um único ato do Lula que tivesse contrariado interesse do povo.”
Haddad disse ainda que a ex-presidente Dilma Rousseff foi tirada do poder por um impeachment sem base legal e sem crime de responsabilidade e em seguida “eles se apressaram em condenar o Lula” para retirá-lo da disputa presidencial.