Era 2011. Eles formavam um incomum casal de ministros do Brasil, no ápice de suas carreiras políticas. Ele já tinha passado pelo Planejamento, com Lula, e assumiu as Comunicações no primeiro governo Dilma Rousseff. Ela, eleita senadora em 2010, foi chamada para a Casa Civil no lugar de Antonio Palocci – então abatido por denúncias de enriquecimento ilícito.
Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo entraram para a história como a dupla com mais poder em Brasília. Na Esplanada dos Ministérios, o lema era que a influência de um elevava "ao quadrado" a importância do outro.
Em 2018, o casal volta a ganhar visibilidade. A acusação contra eles por corrupção passiva e lavagem de dinheiro será o segundo caso da Lava Jato que o Supremo Tribunal Federal (STF) vai analisar – quatro anos após a dupla ser citada pela primeira vez na operação.
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Ele se recolheu; ela não deixa de aparecer
Foram anos de mudança de status e de rotina. Antes ativo, ele, agora, fica recluso em Brasília e não é visto nem sequer em eventos de seu partido, PT. Ela preside a legenda e está na linha de frente da interlocução do o ex-presidente Lula na prisão. Mas tem a imagem cada vez mais desgastada.
Paulo Bernardo foi, ao longo da gestão Lula, o principal articulador político do governo no Paraná. Era considerado no Palácio do Planalto como um curinga. Ficou à frente no Ministério do Planejamento, gerenciando o orçamento da União, entre 2005 e 2010. Mas tinha desenvoltura para negociar com o Congresso e opinar sobre outras questões.
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Com Dilma eleita, ele assumiu o Ministério das Comunicações no momento em que se discutia o marco regulatório das comunicações e o marco civil da internet, questões caras às empresas jornalísticas. Chegou a ser cogitado para a Educação e até mesmo a Casa Civil.
O ex-ministro começou sua trajetória política no PT do Paraná e, como tantos outros companheiros de legenda, fez-se conhecido no movimento sindical – no caso, no Sindicato dos Bancários do estado.
Foi deputado federal (em 1990 elegeu-se pela primeira vez ao cargo), secretário de Fazenda do Mato Grosso do Sul e, posteriormente, de Londrina. Sua projeção nacional, porém, veio com a indicação ao Ministério do Planejamento.
A parceria com Gleisi vinha de longa data. Foram secretários do Mato Grosso e de Londrina nos mesmo períodos. Ela comandou a Secretaria de Reestruturação Administrativa, no estado, e a Secretaria de Gestão Pública, no município.
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Lava Jato pegou o casal em cheio
Veio 2014. As menções na Lava Jato levaram à queda de popularidade da petista. Na tentativa de se eleger ao governo do Paraná, Gleisi viu sua votação cair quase 80% desde 2010, quando teve 3,1 milhões de votos na eleição ao Senado (em 2014, foram cerca 880 mil). Ficou em terceiro lugar, atrás do também senador Roberto Requião (MDB-PR) e do atual governador, Beto Richa, reeleito.
Em 2016, Bernardo chegou a ser preso na 18.ª fase da Operação Lava Jato. Por outro caso que não será julgado nesta terça-feira (19). Segundo os investigadores, um escritório de advocacia de Curitiba ligado ao ex-ministro recebeu mais de R$ 7 milhões entre 2009 e 2015. Desse total, 20% ficava com o escritório e 80% seria destinado ao pagamento de despesas de Bernardo, que teria recebido cerca de R$ 5,6 milhões.
Ele foi solto dias depois. Mas, desde então, evita aparições. Não esteve nem mesmo no Sindicato dos Metalúrgicos, em abril deste ano, quando foi decretada a prisão de seu ex-chefe, o ex-presidente Lula.
Paulo Bernardo, apesar de mal visto por um núcleo do PT, era tido como o "caixa" da campanha da esposa, sempre em contato com empresários, prefeitos e deputados.
É justamente no âmbito financeiro a acusação da Procuradoria-Geral da República (PGR) que será julgada a partir deste terça: recebimento de dinheiro ilícito para a campanha de Gleisi ao Senado em 2010. A denúncia é de que R$ 1 milhão de verba de propina abasteceram a campanha.
Eles sempre negaram irregularidades e dizem que as denúncias são "inverossímeis" e "especulativas".
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