A Polícia Federal concluiu no inquérito em que investiga a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) que foram encontradas evidências de que a presidente nacional do PT recebeu R$ 885 mil de um esquema de corrupção alvo da Lava Jato. No relatório final do caso, enviado ao ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), o delegado Ricardo Hiroshi Ishida elenca cinco repasses de valores que teriam sido recebidos pela senadora e que podem ser enquadrados nos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.
Quatro repasses citados, segundo a PF, estão relacionados a empresa Consist, investigada na operação Custo Brasil, desdobramento da Lava Jato em São Paulo. O quinto, no valor de R$ 300 mil, teria como origem a empresa TAM Linhas Aéreas, mas os documentos sobre o pagamento também foram apreendidos na Custo Brasil. Todos os pagamentos, segundo a PF, foram efetuados por meio do escritório do advogado Guilherme Gonçalves, que atuou para a senadora e para seu marido, o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo.
Leia também: Tribunal nega último recurso de Dirceu e determina execução da pena
A operação foi deflagrada em 23 de junho quando prendeu Paulo Bernardo – solto seis dias depois por ordem do ministro Dias Toffoli. O alvo da investigação é a assinatura de um contrato entre o Ministério do Planejamento, o Sindicato Nacional das Entidades Abertas de Previdência Complementar (SINAPP) e a Associação Brasileira de Bancos (ABBC). O objeto do contrato era a gestão de empréstimos bancários consignados para evitar que trabalhadores excedessem a cota permitida por lei. Após a assinatura do contrato, as entidades contrataram a Consist Software Ltda.
O esquema criminoso envolvendo a Consist, segundo a PF, teria desviado cerca de R$ 100 milhões de contrato assinado quando Paulo Bernardo, marido da presidente do PT, era ministro do Planejamento. Ele ocupou o cargo entre 2005 e 2011.
Ao analisar planilhas apreendidas na operação, ouvir pessoas envolvidas e mapear o caminho do dinheiro por meio de quebra s de sigilo, a PF encontrou indícios de que juntos o casal Gleisi e Paulo Bernardo e pessoas ligadas a ele receberam cerca de R$ 7 milhões do “fundo consist”. “Tais pagamentos aparecem como tendo sido feitos regularmente pelo escritório de Guilherme Gonçalves, mas na realidade tratavam-se de valores de corrupção recebidos pelo escritório de Guilherme Gonçalves”, explica o delegado no relatório.
Repasses
Além dos valores repassados para Gleisi Hoffman, a PF mapeou que o “fundo consist” foi utilizado para pagar pessoas próximas a senadora e, também, para custear gastos de sua família. Ouvido no inquérito, o funcionário do escritório de Guilherme Gonçalves, Luis Henrique Bender, afirmou que seu patrão pagava os honorários para um advogado de Paulo Bernardo.
Leia também: Fim das mordomias – defesa de Lula diz que ação do MBL tem ‘caráter político’
Além disso, segundo Bender, em determinada ocasião, Gonçalves solicitou que ele comprasse um videogame Nintendo 3DS “para o filho do ministro”. De acordo com Bender, o único ministro que frequentava o escritório era o petista Paulo Bernardo.
Ouvido sobre o repasse de R$ 300 mil da TAM para seu escritório, o advogado Guilherme Gonçalves confirmou que não houve prestação de serviços por parte de seu escritório. Segundo ele, o valor teria “sido pagamento de honorários de campanha de Gleisi Hoffman em 2010”.
A informação sobre o pagamento foi encontrada pela PF em uma planilha “eleitoral Gleisi” apreendida com o advogado Guilherme Gonçalves na Custo Brasil. O ex-presidente da TAM, Marco Bologna foi ouvido duas vezes pelos investigadores. Na primeira, não soube das explicações sobre a contratação do escritório de advocacia de Gonçalves.
No segundo testemunho, Bologna disse que o ex-diretor Jurídico da empresa poderia ter mais informações e acrescentou que não havia motivo ou contrapartida para fazer pagamento à senadora e seu marido. Ouvido, o ex-diretor jurídico Luiz Cláudio Mattos afirmou que Bologna foi responsável pela indicação para contratação do escritório de Guilherme Gonçalves.
Outro lado
A senadora Gleisi se manifestou por meio de nota: “Como é que um processo que corre em segredo de Justiça tem um suposto relatório vazado para a imprensa, sem que isso seja do meu conhecimento ou da minha defesa? Com que objetivo?
LEIA TAMBÉM: Campanha de Gleisi ao governo em 2014 recebeu R$ 3 milhões de caixa 2, diz PGR
Nunca tive contas pagas por terceiros nem recebi dinheiro ilegal para mim ou para campanhas eleitorais. A investigação a que se refere a reportagem se arrasta há dois anos e meio e não concluiu nada, a julgar pelas insinuações levianas, que remetem a terceiros, ao invés de sustentar acusações concretas. Não há qualquer fato ou prova que possa levar a isso.
Lamento que esteja sendo mais uma vez vítima de calúnias e de perseguição político-judicial-midiática. Só posso entender essa sanha de inquéritos em razão de minhas posições políticas e por estar ocupando a presidência do PT, partido que a Operação Lava Jato e a mídia golpista tratam como inimigo a ser abatido.”
Já a defesa de Guilherme Gonçalves “repudia com veemência todas as acusações que lhe são imputadas acerca de repasses de valores a políticos ou agentes públicos. Todos os honorários recebidos por seu escritório são frutos exclusivos de seu trabalho e longa dedicação à advocacia. Sua inocência será amplamente demonstrada no transcorrer do processo, na conformidade da legislação brasileira em vigor.”
A TAM informa que forneceu esclarecimentos às autoridades para auxiliar nas investigações. A companhia reafirma o seu forte compromisso com o cumprimento das normas e leis aplicáveis.