O governo federal tinha, ao fim de 2016, um passivo de R$ 118 bilhões relativo a contratos de financiamento habitacional dos anos 1980 e 1990, a maior parte – R$ 85 bilhões – em dívidas com bancos. Esse é o “esqueleto” do Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS). Esse Fundo foi criado em 1967 para servir de garantia e quitar saldos residuais desse tipo de empréstimo, mas a partir da década de 1980 passou também a subsidiar os mutuários, congelando ou reduzindo as prestações da casa própria.
O governo decidiu ajudar os mutuários quando percebeu que, em meio à estagnação econômica, a superinflação e as altas taxas de juros, os brasileiros não conseguiriam pagar as parcelas devidas ao Sistema Financeiro da Habitação (SFH). O problema é que, embora tenha assumido mais responsabilidades, o Fundo não recebeu recursos do Orçamento para honrá-las e, assim, não repassou aos bancos, companhias habitacionais e demais financiadores os valores referentes aos subsídios.
Surgiu, então, a dívida do FCVS. Uma bola de neve que o governo só começou a enfrentar em 1997, quando criou uma sistemática de pagamento e se comprometeu a liquidar as pendências até 2027. Mas esse processo, chamado de “novação”, teve altos e baixos e chegou a ser interrompido alguns anos atrás. Em alguns anos os pagamentos às instituições financeiras – feitos com títulos públicos – chegaram à casa das dezenas de bilhões de reais. Em outros, ficaram próximos de zero.
LEIA TAMBÉM: Imposto atrasado pagaria 70% da dívida da União. Mas governo não conta com ele
No ano passado, o Orçamento da União projetava um total de R$ 17,1 bilhões para as novações do FCVS, mas no fim elas somaram apenas R$ 978 milhões, todas referentes à dívida do Fundo com o Município de São Paulo. Para este ano, a previsão para os pagamentos é de R$ 18 bilhões.
“As sucessivas postergações do pagamento das obrigações do Fundo foram também decisivas para o alcance do alto nível de desequilíbrio existente entre os seus ativos e passivos”, afirma o Relatório Contábil do Tesouro Nacional, publicado no fim do ano passado. “Assim, o FCVS, que havia sido criado com o propósito de liquidar eventuais saldos devedores residuais, passou a assumir responsabilidades crescentes, incompatíveis com o seu patrimônio e seu fluxo de caixa, acarretando, como consequência, o acúmulo da dívida ao longo do tempo.”
Patrimônio negativo
Além dos R$ 85 bilhões devidos a instituições financeiras, o passivo do FCVS tem R$ 33 bilhões em provisões para ações judiciais e outros riscos envolvendo contratos vigentes e também encerrados.
Como os ativos do FCVS somavam apenas R$ 13 bilhões ao fim de 2016, o patrimônio líquido do Fundo estava negativo em R$ 106 bilhões. Isso significa que o Tesouro terá de cobrir quase todo o passivo. Na prática, já é o que acontece.
Desde 1997, já foram liquidados R$ 155 bilhões do FCVS, e o restante precisa ser acertado até 2027. Mas o passivo, em vez de diminuir, está aumentando – cresceu R$ 8 bilhões de 2015 para 2016, principalmente pela atualização monetária dos valores devidos.
SAIBA MAIS: Governo usa metade dos impostos para pagar a dívida pública. Mito ou verdade?
A tal liquidação é, na verdade, o reconhecimento formal do governo de que deve para o banco. Quando isso ocorre, o Tesouro emite títulos da dívida pública chamados CVS, com vencimento em 2027, e os entrega para os credores.
Essas operações não têm impacto nas despesas cotidianas do governo, pois transitam apenas na chamada “conta financeira”. Porém, contribuem para elevar a dívida pública federal, hoje em R$ 4,9 trilhões, quase 75% do PIB brasileiro.
Processo lento
Esse processo de reconhecimento é bastante lento. Depois que a carteira de empréstimos garantida pelo FCVS é encerrada, o banco junta todos os contratos e envia para análise da Caixa, que depois os remete para a Controladoria-Geral da União (CGU). Na sequência, a papelada vai para o Tesouro e, por fim, à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), que finalmente assina a novação. Só então o Tesouro pode emitir os CVS.
Esse trâmite, que já era lento, ficou paralisado por pouco mais de três anos entre 2012 e 2015, em razão de questionamentos da CGU, o que atrasou ainda mais o cronograma de reconhecimento das dívidas. Desde o fim do ano passado, técnicos dos órgãos envolvidos trabalham em conjunto para desenvolver um sistema que agilize esse processo.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Ataque de Israel em Beirute deixa ao menos 11 mortos; líder do Hezbollah era alvo